Playing w/ Stupidity: um projecto artístico sobre o ser humano alienado pela tecnologia

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Playing w/ Stupidity: um projecto artístico sobre o ser humano alienado pela tecnologia

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O artista Cardoz (João Cardoso) e o designer 3D Narso (Bernardo Fernandes) juntaram-se para criar 'Playing w/ Stupidity', uma exposição que pretende retratar a dependência que temos da tecnologia.

O tema da desinformação e da propaganda política assume uma relevância cada vez maior na nossa vida em sociedade. Ao mesmo tempo, cresce também a consciencialização para o controlo subtil a que todos acabamos por estar sujeitos através dos aparelhos eletrónicos que nos acompanham no dia-a-dia. Foi a pensar nessa evolução do ser humano alienado pela tecnologia que o artista Cardoz (João Cardoso) e o designer 3D Narso (Bernardo Fernandes) criaram “Playing w/ Stupidity”, uma exposição que começa hoje, dia 1 de Outubro, em Lisboa, e sobe ao Porto no final do mês.

“Até quando podemos ser designados seres humanos?” é a pergunta de partida da colaboração entre os dois artistas que, através de esculturas e quadros, fazem um retrato da dependência que temos da tecnologia, contemplando o presente ao mesmo tempo que perspectivam o futuro, para levar os espectadores a questionar o livre arbítrio por detrás das suas ações.

Falámos com ambos para perceber de que modo a arte se cruza com o modo como hoje se olha para tecnologia e de que forma se imiscui nas discussões em torno de temas como os monopólios dos gigantes tecnológicos, as polémicas sobre invasão de privacidade digital e a epidemia de desinformação.

“Há um ditado clássico que diz ‘Se não pagas pelo produto, então, és o produto’. Com Playing w/ Stupidity pretendemos abanar o público e mostrar-lhe o que acontece quando não se está consciente deste lado mais sombrio da tecnologia, se é imprudente, se rotula toda a informação veiculada na internet como verdadeira e se cai nas teias binárias da manipulação do século XXI”, dizem. Mas e que estupidez é essa, que mereceu ser título do projecto? “A estupidez, ou o paradoxo, se quisermos ser politicamente corretos, é que, ainda que a tecnologia seja efetivamente fundamental para muitas frentes da nossa vida – falo, por exemplo, nos hospitais a salvar vidas ou nas escolas a apoiar o ensino -, é também frequentemente uma dependência que elimina o valor do contacto humano.”

“Por mais pervertido que seja, muitas pessoas perdem-se nas redes sociais a idolatrar a “vida perfeita”, acham elas, dos outros, apenas para se sentirem diminuídas. Daqui advêm frustrações e ansiedades desnecessárias que, no limite, sabotam a sua própria existência. A sensação de ultraconexão trazida pela tecnologia é uma farsa. Cada vez mais vivemos na nossa bolha, mergulhados num ecrã e alheados do que nos rodeia.”

Para Cardoz e Narso, expor a sua arte é uma forma de literalizar essa absurdidade para que a tal estupidificação chegue mais facilmente à consciência do público. “Se as pessoas se identificarem e se aperceberem que aquilo que compomos também as representa de algum modo, grande parte da missão está cumprida. A mudança advém, muitas vezes, de um primeiro embate com a realidade despida de ilusões. Contudo, em última instância, mais do que a consciencialização apenas, queríamos desencadear a ação e levar as pessoas a reequacionar a sua relação com a tecnologia e a geri-la melhor, impondo barreiras.”

“A realidade é que a qualquer dispositivo tecnológico é um facilitador. Entre as muitas funcionalidades da tecnologia disponível para a maioria de nós, contam-se, por exemplo, o facto de podermos interagir com pessoas por mensagens em vez de presencialmente ou pedir comida sem sair do conforto de nossa casa ou sem ter de interagir com alguém.”

Cardoz e Narso falaram-nos ainda dos facilitismos da tecnologia e da forma como como essa tendência pode vir a tornar-nos constantemente menos capazes: “Naturalmente, este tipo de facilitismos dificultam o crescimento porque raramente saímos da nossa zona de conforto visto que temos quase tudo disponível com apenas alguns cliques ou aplicações. Nesse sentido, sim, uma vida facilitada e estupidificada pela tecnologia pode facilmente prender-nos à nossa infância – somos levados a pensar menos e acabamos por nos demitir de ter pensamento crítico. Ficamos à mercê de uma qualquer orientação, como se de crianças nos tratássemos.”

A inauguração de Playing w/ Stupidity está marcada para hoje, dia 1 de outubro, pelas 19 horas, na Rua do Beato n.º30, e tem o Porto como próxima paragem no final do mês, onde ficará de 22 de outubro a 8 de novembro, no Hard Club.

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  • Rita Pinto

    A Rita Pinto é Editora-Chefe do Shifter. Estudou Jornalismo, Comunicação, Televisão e Cinema e está no Shifter desde o primeiro dia - passou pela SIC, pela Austrália, mas nunca se foi embora de verdade. Ajuda a pôr os pontos nos is e escreve sobre o mundo, sobretudo cultura e política.

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