Black Keys e Tame Impala: o melhor do rock de 2010

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Black Keys e Tame Impala: o melhor do rock de 2010

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Quem diria no final da década dos zeros que os dez anos seguintes acabariam por colocar Black Keys e Tame Impala como dois dos maiores nomes do rock (pop?) mundial?

Tudo em Brothers, ds Black Keys, é citação e, ainda assim, o disco tornou-se no grande “blockbuster” rock de 2010. Logo na capa (vencedora de um Grammy) que, com fundo preto diz “This is an album by The Black Keys. The name of this album is Brothers”, eis uma referência clara ao mal-amado The Howlin’ Wolf Album que lá tinha estampadas as imortais palavras: “This is Howlin’ Wolf’s new Album. He doesn’t like it. He didn’t Like its First Guitar Either”. Howlin Wolf já tinha classificado o álbum como “bosta de cão”, para que não restassem dúvidas e é aqui que o truque se torna óbvio no video de “Next Girl”, documento audiovisual em que um dinossauro se passeia entre um cliché de mulheres de bikini junto a uma piscina, enquanto as legendas passam ideias como “This is not the official video for Black Keys’ “Next Girl”. This is an attempt by their record label to attract attention to the band using a ridiculous dinosaur puppet. The label thinks it’s hilarious. The Black Keys hate this video and don’t find it funny at all”.

Noutros exemplos de canibalismo puro, a bateria de “Howlin’ For You” terá sido inspirada em “Rock and Roll (Part 2)” de Gary Glitter, “She’s Long Gone” tem riff claramente inspirado em “She’s Alright” de Muddy Waters e “Never Gonna Give You Up” é uma cover da canção de Jerry Butler. E tudo isto passa facilmente incólume porque, no final do dia, o duo não se leva assim tão a sério, ao ponto de não interessar se essas citações são imitações preguiçosas ou homenagens sentidas. Não é fácil entender o sucesso de Brothers à luz do ano em que foi editado, como não é imediato perceber todos os fenómenos rock pós-1990. Talvez faça sentido descomplicar e puxar por uma citação de James Murphy em relação a “Transmission” dos Joy Division: “é um tipo a gritar “dance to the radio!” a toda a hora e resulta. Tem um poder emocional incrível”. Talvez tenham ocupado o lugar deixado pelos White Stripes, embora sempre tenham sido seus contemporâneos, pois os Black Keys não andavam nisto há dois dias, mas sim há uma década… na sombra. Dan Auerbach e Patrick Carney tornam-se então, com um som que tudo deve aos 60s e 70s, na maior nova-velha banda rock de um mundo em crise pós-2008.

Curioso que também em 2010 os Tame Impala abrissem para os MGMT tal é a forma como os seus percursos são inversos. Se os MGMT partiram da pop para o psicadelismo numa consciente sabotagem daquilo que se tinham tornado, os australianos preferiram o inverso: a médio prazo esquecer o psicadelismo e tornarem-se numa das mais relevantes bandas pop do mundo em 2020. Uma mudança tão radical criou uma diferença abismal entre os fãs dos primeiros dois discos e os dos últimos dois. Ao contrário dos Black Keys, Innerspeaker não vai buscar bases blues ou psicadélicas transformando-as em novas canções. Pouco ou nada do que está nestas 11 canções aponta de forma óbvia para uma canção, riff ou melodia do passado.

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