Na fotografia e no cinema, uma teleobjectiva (também conhecida como lente telefoto) é uma lente em que a distância focal é bem maior que a lente em si. Isso torna-a adequada para fotografar objectos distantes, como um ambiente de vida selvagem ou um evento desportivo, em que não se pode estar próximo do objecto que se quer focado na fotografia. Para além disso as teleobjectivas podem servir para focar objectos próximos desfocando o fundo, o que permite resultados interessantes, especialmente em retratos e demonstram a capacidade da lente em condicionar a nossa percepção da realidade.
Para percebermos como funcionam, pensemos nos smartphones. Os telemóveis de gamas média e alta costumam vir com lentes telefoto, que permitem não as tais fotografias com um fundo desfocado, mas também zooms ópticos de 2x, 3x ou mesmo 5x, permitindo fotografar objectos mais longíquos. É claro que as lentes telefoto que tens no telemóvel não serão equiparáveis às lentes de uma câmaras tradicionais (as chamadas DSRL) – mais caras e mais volumosas; mas são uma opção portátil e à qual terás acesso mais facilitado.
No jornalismo, as teleobjectivas também são comuns. Por estes dias, em que o confinamento em vários países foi ditado como forma de conter a propagação do Covid-19, fotojornalistas têm saído à rua para captar ou não o distanciamento social e perante as conclusões que se seguem às fotografias, é importante voltarmos um passo atrás. Nos EUA, uma fotografia publicada num jornal regional de uma praia cheia de gente tornou-se viral e polémica, levando as autoridades a ditar o encerramento da praia; críticas sobre política ser feita a partir de uma foto publicada num jornal e suspeitas sobre se essa foto seria mesmo desta altura surgiram de imediato, obrigando a publicação a publicar um esclarecimento.
De acordo com o screenshot partilhado pelo jornal, o autor da imagem em causa usou uma teleobjectiva de 380 mm. Além do que já contámos sobre as lentes telefoto, há outro efeito pelo qual estas também são conhecidas: como a distância focal é maior, este tipo de lentes diminui a profundidade de campo nas imagens, fazendo com que objectos que estão longe pareçam próximos. Se tiveres um telemóvel com uma lente telefoto, podes experimentá-lo em casa; mas, se não tiveres, espreita, por exemplo, este clip do filme Tinker Tailor Soldier Spy, de 2011:
O avião que aparece no fundo está, na verdade, muito afastado dos dois homens, mas como é usada uma lente de 2000 mm que comprime bastante a distância entre o primeiro plano e o plano de fundo parece que os três objectos estão muito próximos. Esse clipe foi partilhado pelo site PetaPixel, uma publicação especializada em fotografia, para ilustrar como uma teleobjectiva pode alterar a nossa percepção da realidade.
Em Portugal, já assistimos a casos semelhantes. Veja-se, por exemplo, esta fotogaleria da autoria do fotojornalista João Profírio e publicada no Observador. Enquanto que numa das fotografias (a 1ª do tweet em baixo) parece que as pessoas estão próximas umas das outras, noutra já se percebe melhor as distâncias reais entre os diferentes sujeitos. É que a primeira foto que referimos foi tirada com uma teleobjectiva de 200 mm, enquanto que a outra já foi feita com uma objectiva normal, como se pode comprovar nos metadados das respectivas imagens.
Em pleno estado de emergência o 1º de Maio celebra-se assim em Lisboa: pic.twitter.com/bl83Gccyn1
— João Porfírio (@porfiriojoao1) May 1, 2020
Outra fotografia amplamente difundida durante este fim-de-semana nas redes sociais, também da Alameda, mostra que a lente e o ângulo podem ditar a história. Neste caso, não é possível aceder aos metadados da imagem, mas percebe-se, por exemplo analisando a escala entre objectos conhecidos, que a questão é a mesma — para referência podem comparar-se por exemplo a distância entre os postes ou o tamanho das faixas de rodagem.
Em resumo, concluir que, tal como qualquer outra forma de captar a realidade, a fotografia tem características próprias que acrescentam ou retiram camadas de significado a essa mesma realidade. Numa altura em que as imagens mediam muitas da nossa troca de informação é fundamental percebermos as suas particularidades para que não sejamos iludidos por uma imagem.
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