Sleeping Giants: a conta de Twitter que quer fazer justiça pelos seus próprios seguidores

Sleeping Giants: a conta de Twitter que quer fazer justiça pelos seus próprios seguidores

28 Maio, 2020 /

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Criada este mês, a conta Sleeping Giants Brasil já conta com mais de 300 mil seguidores, mais do que a conta da ideia original, norte-americana. Apesar do sucesso da página é importante também levantar a questão sobre o efeito deste modo de gestão do espaço público.

Com o advento das redes sociais pode dizer-se que surgiram novas formas de disseminação de notícias falsas. Contudo, no mesmo domínio surgiram também novas formas de as combater. Se perfis falsos ou partilhas coordenadas, geram conteúdos virais difíceis de travar, uma concentração semelhante de esforços em sentido inverso pode ser a receita para o sucesso. É essa a receita da Sleeping Giants, um movimento que começou na América mas recentemente chegou com estrondo ao Brasil.

A ideia é tão simples de executar como de explicar. Sleeping Giants são contas, criadas geralmente no Twitter, em que os https://staging2.shifter.pt/wp-content/uploads/2021/02/e03c1f45-47ae-3e75-8ad9-75c08c1d37ee.jpgistradores se dedicam a identificar sites ou contas de produtoras de conteúdo falso e em seguida, informam os anunciantes que encontram nessa página de que estão, tacitamente, a financiar a disseminação deste tipo de conteúdos.

A partir daí o processo vive da capacidade de cada publicação de gerar momentum. E no Brasil parece estar a resultar. O site Jornal Cidade Online, apontado pela revista UOL como um dos principais criadores de notícias falsas foi uma das primeiras vítimas do movimento no Brasil e prova de como funciona esta estratégia. Em entrevista à mesma revista o criador do movimento explica que a ideia é simplesmente atacar os sites onde “dói mais”, no bolso, criando campanhas de pressão para que as marcas excluam estas propriedades da sua distribuição de anúncios. 

Geralmente os sites noticiosos têm na publicidade uma importante fonte de receita. Plataformas como o Google Ads que fazem esta distribuição publicitária de forma automática permitem a qualquer pessoa, praticamente, monetizar o seu conteúdo sem ter de preencher grandes critérios de idoneidade. É aqui que entra a estratégia dos Sleeping Giants. Tendo em conta que os anunciantes têm a capacidade para na sua consola de gestão de anúncios excluir determinados sites que não queiram ver associados à sua marca, a conta menciona-os directamente no Twitter questionando-os se estão contentes com determinada associação. 

Esta estratégia que parte da lógica populista das redes sociais para contrariar um dos maiores problemas que estas criaram é profundamente reveladora da forma como a aleatoriedade e o rigor se cruzam online. A pressão social serve como catalisador de responsabilidade social nas empresas que até então corriam os seus anúncios de uma forma aleatória, investindo o seu dinheiro em sites desconhecidos e com conteúdo, muitas vezes, altamente duvidoso.

De resto, este tipo de ideia é comum em vários momentos e mesmo cá em Portugal já vimos semelhantes apelos à acontecer. A grande diferença é a forma centralizada com que são lançados os apelos que facilita a mobilização de pessoas. Criada este mês, a conta Sleeping Giants Brasil (com o handle @slpng_giants_pt) já conta com mais de 300 mil seguidores, mais do que a conta da ideia original, norte-americana. Com um scroll rápido na sua página percebemos que a sua estratégia tem dado frutos com uma série de marcas a responder directamente aos seus apelos e a excluir determinados sites das suas estratégias. 

A meio da pandemia de coronavírus este tem sido um dos ângulos mais comuns, com a conta a sinalizar os sites que desmentem informações aceites unanimemente por todo o mundo. Apesar do sucesso da página é importante também levantar a questão sobre o efeito deste modo de gestão do espaço público. Sem juízos sobre o conteúdo, a forma revela a falência das instituições de regulação e até da auto-responsabilização dos anunciantes que neste particular dependem da “viralidade” das redes para sob pressão tomarem decisões impactantes na imagem da sua marca. 

Autor:
28 Maio, 2020

O João Gabriel Ribeiro é Co-Fundador e Director do Shifter. Assume-se como auto-didacta obsessivo e procura as raízes de outros temas de interesse como design, tecnologia e novos media.

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