Jornalista do The Intercept Brasil acusado pela justiça. Publicação diz que é criminalização do jornalismo

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Jornalista do The Intercept Brasil acusado pela justiça. Publicação diz que é criminalização do jornalismo

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O jornalista Glenn Greenwald é acusado de fazer parte de uma rede criminosa, que alegadamente terá invadido o telemóvel de diversas figuras da autoridade brasileira para obter o material que mais tarde servira de base à investigação Vaza Jato.

Glenn Greewald, co-fundador do jornal internacional The Incercept, actualmente a viver no Brasil e dedicado à cobertura jornalística desse país, foi formalmente acusado juntamente com mais seis arguidos de crimes relacionados com a invasão de telemóveis de autoridades brasileiras. O caso remonta à investigação publicada pela chancela brasileira do The Incercept mundialmente conhecida como Vaza Jato, em que mensagens de Telegram trocadas entre Deltan Dallagnol, procurador, e Sérgio Moro, actual ministro da Justiça e Segurança Pública, indiciavam a falta de imparcialidade do juiz no caso Lava Jato.

A acusação a Glenn Greenwald é das sete a mais surpreendente, porque, por se tratar de um jornalista, Glenn tem o direito consagrado na Constituição brasileira a proteger as suas fontes, pelo que Gilmar Mendes, presidente do Supremo Tribunal Federal, terá proibido que fosse investigado nesse sentido. Ainda assim, Wellington Divino de Oliveira, Procurador da República, terá levado avante a acusação tendo como base uma gravação de áudio encontrada no computador de Luiz Molição, outro dos investigados na Operação Spoofing.

Glenn Greenwald é acusado de fazer parte de uma rede criminosa, que alegadamente terá invadido o telemóvel de diversas figuras da autoridade brasileira para obter o material que mais tarde servira de base à investigação Vaza Jato. Para além do jornalista, estão em investigação: Walter Delgatti Netto e Thiago Eliezer Martins Santos, acusados de serem os líderes do grupo; Danilo Marques, acusado de ser o testa-de-ferro de Delgatti Netto responsável por proporcionar os meios materiais necessários à execução dos crimes; Gustavo Santos, por ter alegadamente programado as ferramentas de invasão da aplicação Telegram, e a sua esposa, Suelen Oliveira, por recrutar pessoas para participarem do esquema; e, por último, o acima citado Luiz Molição, acusado de aconselhar os líderes do grupo e servir de porta-voz entre estes e o The Intercept, na figura de Glenn Greenwald.

Nos excertos da conversa, citados na acusação, Glenn Greenwald aconselha Luiz Molição, enquanto porta-voz do grupo, a apagar todos os dados que já tinham sido passados para o The Intercept, garantido que estes guardariam o que fosse relevante à investigação num lugar “muito seguro”. Greenwald referiu nessa mesma conversa que era preciso proteger a identidade da fonte das notícias. Essa será a linha, porque o Ministério Público Federal estará agora a denunciá-lo, acusando-o de ir para além do direito de protecção da fonte do jornalista ao sugerir acções que dificultassem a investigação das autoridades.

Em reacção, o The Intercept Brasil publicou um extenso comunicado no seu site em que repete a acusação de que o Ministério Público Federal (MPF) de motivação política por de trás da sua actuação, referindo que os áudios agora citados já tinham sido analisados pela Polícia Federal que não tinha imputado nada a Greenwald:

1. Os diálogos utilizados pelo MPF na denúncia são rigorosamente os mesmos que já haviam sido analisados pela Polícia Federal durante a operação Spoofing, e acerca dos quais a PF não imputou qualquer conduta criminosa a Glenn.

Na mesma nota, assinada por Leandro Demori e Rafael Moro Martins, os jornalistas acusam o MPF de tentar criminalizar todo o jornalismo “livre” feito no Brasil, apontando mesmo o dedo ao procurador procurador Wellington Divino Marques de Oliveira.

6. Nós, do Intercept, vemos uma tentativa de criminalizar não somente o nosso trabalho, mas o de todo o jornalismo brasileiro. Não existe democracia sem jornalismo crítico e livre. A sociedade brasileira não pode aceitar abusos de poder como esse;

7. O procurador Wellington Divino Marques de Oliveira, que agora tenta criminalizar nosso jornalismo, é o mesmo que denunciou e tentou afastar do cargo o presidente da OAB, Felipe Santa Cruz, por calúnia em uma fala pública sobre o ministro de Bolsonaro Sergio Moro. A denúncia foi rejeitada pela Justiça por ser, nas palavras do juiz da 15ª Vara Federal do Distrito Federal, “descabida”.

O comunicado está disponível na íntegra aqui.

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  • João Gabriel Ribeiro

    O João Gabriel Ribeiro é Co-Fundador e Director do Shifter. Assume-se como auto-didacta obsessivo e procura as raízes de outros temas de interesse como design, tecnologia e novos media.

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