“Que sentido faz lutar contra as notícias falsas se não nos permitem verificar os políticos?”

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“Que sentido faz lutar contra as notícias falsas se não nos permitem verificar os políticos?”

Na Holanda, o Facebook perdeu a sua única parceria de verificação de factos com o jornal online Nu.nl. O motivo? A rede social ter passado a isentar os anúncios e as declarações políticas dessa verificação.

A frase no título é uma tradução livre da que foi escrita por Gert-Jaap Hoekman, editor-chefe do NU.nl, o jornal online holandês que era, até ontem, o único fact-checker do Facebook na Holanda. Numa publicação num blog, Hoekman anunciou o fim da parceria entre ambos, uma decisão tomada na sequência da recente política do Facebook, que quis deixar de verificar o conteúdo de anúncios e declarações políticas.

As diretrizes de publicidade do Facebook não permitem informações erradas nos anúncios e a empresa conta com serviços de verificação de factos de terceiros por todo o mundo para avaliar as reivindicações dos profissionais de marketing. Em setembro, no entanto, a empresa isentou formalmente os políticos dessa auditoria. Na altura, o porta-voz do Facebook, Nick Clegg, disse que não era apropriado que a empresa fosse como um “árbitro em debates políticos e impedir o discurso de um político de atingir a sua audiência e ser alvo de debate e escrutínio público”. “Daqui para a frente, trataremos o discurso de políticos como conteúdo merecedor de ser notícia que, por regra, deve ser visto e ouvido”. 

Mas o problema entre as duas empresas começou antes de sequer se conhecer esta medida. Em Maio, o Facebook anulou a decisão do NU.nl de rotular um anúncio do político holandês Esther de Lange como infundado. O anúncio de campanha referia que 10% dos terrenos rurais na Roménia eram propriedade de não-europeus e o jornal considerou-o falso, por não ter conseguido, de facto, verificar a informação. O Facebook interveio, dizendo à organização que o discurso dos políticos não deveria ser verificado.

O anúncio da nova política de verificação de factos em setembro foi, por isso, uma espécie de gota de água na relação entre os dois parceiros que era cada vez mais desconfortável. A juntar a isso, a medida não foi bem recebida, quer pelos utilizadores, quer por várias vozes influentes mundialmente, tendo desencadeado uma tempestade de críticas de importantes políticos democratas. “Mais uma vez, assistimos ao esforço do Facebook para combater a desinformação no discurso político, porque quando o lucro se opõe à proteção da democracia, o Facebook escolhe o lucro”, escreveu a senadora e candidata democrata às próximas Presidenciais norte-americanas Elizabeth Warren no Twitter.

A posição do NU.nl ficou ainda mais fragilizada depois do Twitter anunciar algo oposto ao que o Facebook tinha acabado de divulgar, que ia passar a proibir anúncios políticos na plataforma. “Acreditamos que o alcance da mensagem política deve ser conquistado, e não comprado”, escreveu Jack Dorsey no Twitter. Nessa altura, alguns funcionários do Facebook escreveram mesmo uma carta aberta a Mark Zuckerberg, pedindo que o CEO da empresa azul mudasse de ideias.

A pressão era cada vez maior. O NU.nl era já o único serviço de verificação de factos de terceiros usado pelo Facebook na Holanda, depois da Universidade de Leiden ter desistido da sua parceria no ano passado. Quando ficou claro que a rede social não mudaria de posição, o NU.nl decidiu encerrar a sua parceria também.

Ao The Verge, um porta-voz do Facebook disse: “Nós valorizamos o trabalho que o NU.nl fez e lamentamos vê-los partir, mas respeitamos a sua decisão como um negócio independente (…) Temos um forte relacionamento com 55 parceiros de verificação de fatos em todo o mundo, que verificam o conteúdo em 45 idiomas, e planeamos continuar a expandir o programa na Europa e, esperamos, na Holanda”. No mesmo comunicado, explicou que lutar contra a desinformação é um trabalho que envolve vários aspetos, garantindo estar “comprometida a combatê-la com muitas táticas”.

Recorde-se que em Portugal, os parceiro de verificação de factos em Portugal são o Observador e o jornal Polígrafo.

No Shifter as tomadas de posição do Facebook para mereceram duas visões distintas que podes ler aqui e aqui.

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  • Rita Pinto

    A Rita Pinto é Editora-Chefe do Shifter. Estudou Jornalismo, Comunicação, Televisão e Cinema e está no Shifter desde o primeiro dia - passou pela SIC, pela Austrália, mas nunca se foi embora de verdade. Ajuda a pôr os pontos nos is e escreve sobre o mundo, sobretudo cultura e política.

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