Depois da democratização do acesso à internet estamos cada vez mais a entrar numa fase em que as grandes potências do mundo real começam a exercer os seus poderes no que até então era vista por muitos como uma experiência tendencialmente à margem da lei. As leis criadas especificamente para o mundo digital são o lado visível dessa realidade que não se fica por aí, tendo na possibilidade de censura ou no impedimento do acesso a determinados conteúdos o seu lado negro e opressivo.
Ainda assim, graças ao potencial tecnológico da internet, a velocidade com que se inventam soluções e estratégias para ultrapassar estes entraves é notável. Contra aos bloqueios de acesso surgem as VPN, contra os filtros de upload surgem as alterações estratégicas dos conteúdos e, como neste caso, contra a possibilidade de censura de conteúdos em algumas geografias surge a migração para a tão afamada Dark Web. Foi isso que fez o canal público britânico BBC, que esta semana anunciou a criação de um mirror acessível através da rede TOR.
Assim, no endereço bbcnewsv2vjtpsuy.onion, apenas acessível através do browser TOR, os internautas vão poder aceder à versão internacional do portal informativo da BBC em diversas línguas tais como Arábe, Russo ou Persa.
O TOR é um navegador que visa proteger a identidade e localização dos acessos e que permite que alguém acesse a um site sem que possa à partida e em casos normais ser rastreado de volta. Ao contrário dos browsers normais, o TOR cria várias camadas de redirecionamentos encriptadas que não permitem ao detentor da proprietário nem ao provedor de internet perceber a ligação directa entre o IP do utilizador e o site visitado — tal como ilustrado na imagem abaixo criada pela Electronic Frontier Foundation, organização sem fins lucrativos dedicada à promoção da proteção dos direitos dos utilizadores da internet.
Os exemplos mencionados pela BBC aquando do lançamento do seu site foram a China, o Irão e o Vietname — países onde conteúdos da estação já foram bloqueados — mas o que é certo é que não são só estes países onde esta propriedade estará disponível ou pode ser útil. A ideia pode também ser utilizada por outros sites, pelo que se pode prever que este não venha a ser o único site noticioso a criar um acesso via dark web nos próximos anos.
Até aqui, o senso comum em torno da dark web associava-a a actividades criminosas, contudo a possibilidade de manter a descrição e o anonimato tornam-na numa ferramenta poderosa para quem lida com assuntos sensíveis como activistas e jornalistas sendo cada vez mais comum este tipo de iniciativas.
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