Como tirar o máximo proveito de um livro

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Ilustração de Shifter

Como tirar o máximo proveito de um livro

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Uma lista de modestos conselhos para te guiar na tua próxima aventura literária.

Além de te transportar para outro mundo, ler um livro pode trazer-te muito mais, se souberes como o explorar. Identificares-te com as personagens pode ajudar-te a saber mais sobre ti mesmo, por exemplo. Ler tem poderes comprovados de relaxamento e, se quisermos ser literários sobre o assunto – passo a expressão –, pode até ter poderes curativos. Os livros de auto-ajuda ou com conselhos de superação pessoal são mais directos nesse tipo de impacto e influência, mas e as tuas histórias preferidas? Como podes tirar o melhor proveito dos romances ou ficção que lês?

É certo que a leitura que cada pessoa faz de um livro acaba por estar relacionada de forma intrínseca com o seu passado, com o que foi e é a sua vida, e as suas experiências. Nem todos lemos suspense nas mesmas cenas ou interpretamos um ponto de exclamação com a mesma admiração. Quando um escritor nos descreve uma sala, mesmo que o faça da forma mais pormenorizada possível, não vamos ver todos a mesma sala. Se quisermos ser rigorosos, em última análise, quando lemos a palavra “azul”, por exemplo, não vemos todos o mesmo tom de azul.

Mas é com essa consciência da diferença e da importância do contexto pessoal, que decidimos fazer uma lista de conselhos, modestos. O objectivo não é tornar o teu processo de leitura numa actividade trabalhosa ou desinteressante – não há nada como conhecer um livro na sua forma mais livre e espontânea –, mas sim ajudar-te a organizar o teu pensamento e a alargar os horizontes da tua imaginação, isto se quiseres, claro, obter algo mais de um livro além da sua mera leitura.

Se adoras ler, na assunção mais pura da expressão, mas não és o leitor mais disciplinado, se és daquelas pessoas que acaba um livro e deseja ter sublinhado algumas frases para mais tarde recordar, ou marcar com post its as tuas cenas favoritas, mas acabas por nunca o fazer, esta lista pode ser para ti. Experimenta aplicar estas dicas às tuas histórias preferidas ou em obras dos teus autores favoritos; naquele livro que leste há vários anos e ao qual sempre quiseste voltar mas tiveste preguiça, ou naquele que até acabaste a semana passada mas te deixou meio confuso e com pormenores por perceber.

1. Toma notas

Começamos pelo mais óbvio, que é também um processo subestimado. Talvez seja importante referir que esta lista está a ser escrita por aquela que foi em tempos a leitora mais desorganizada do mundo. Acumulava pilhas de livros na secretária, deixava livros a meio quando se tornavam demasiado difíceis ou não eram o que esperava; tenho, ainda hoje, dezenas de livros novos, por ler, na estante, à espera que lhes pegue. Assim que tive um bocadinho mais de tempo para me dedicar àqueles pormenores da vida que vamos menosprezando, foquei-me nisto. E porque a minha mente sempre divagou demasiado facilmente para outros universos, achei que começar pelo que me mantinha focada nos tempos de escola e faculdade, por exemplo, poderia ser uma forma de começar a levar todo o processo da leitura mais a sério. Por isso comecei a tirar notas, e hoje em dia tenho vergonha de emprestar os meus livros, porque todas as notas nas margens seriam suficientes para deixar qualquer um louco.

Experimenta sublinhar a amarelo as passagens que não entendes de uma vez, desenhar uma seta se algo for realmente bom, um smile se encontrares algo engraçado ou usa o teu telemóvel, por exemplo, se o tiveres à mão, para fotografares uma página inteira com um raciocínio que queiras lembrar. Algumas pessoas mantêm um caderno, onde fazem apontamentos. O objectivo é apenas ajudar-te a pensar.Se depois de algum tempo voltares a todas estas marcas, provavelmente vais descobrir um padrão que te ajudará a ter outro entendimento da história que talvez te tenha passado ao lado numa primeira leitura.

2. Lê as mesmas passagens mais do que uma vez

Não tentes entender tudo de uma vez. Experimenta ler o livro primeiro e depois voltar à primeira frase. Como é que a interpretas agora que sabes como a história acaba? Muitas vezes de forma completamente diferente da interpretação que lhe deste da primeira vez que a leste. Depois volta para as passagens que não entendeste assim tão bem. Às vezes, o significado vai ficar mais claro e, como uma bola de neve, vais acabar a ver e entender mais da história. Como resultado, é provável que até fiques a gostar mais do livro!

“Um livro não é apenas um amigo. Faz amigos por ti. Quando possuis um livro com mente e espírito, ficas mais rico. Mas quando o emprestas, és enriquecido três vezes.” – Henry Miller

3. Narrativa versus tema

Na maioria das vezes as pessoas escolhem livros pelo seu tema, mas com muita frequência é a forma como a história é contada que faz com que decidas se gostas ou não de uma obra. Por isso, é útil saber qual é o estilo de narrativa de que mais gostas. Tenta descobrir o que faz um livro ser atraente aos teus olhos. Pode sê-lo de várias formas: por ser intelectualmente apelativo, pela sua estética, pelo factor de reconhecimento e identificação com a história ou pela sua visão. Chegares a esta conclusão vai tornar a escolha do teu próximo livro muito mais simples. Também pode acabar por te fazer viciar num determinado autor e ler de enfiada todos os seus livros, mas não há mal nenhum nisso!

4. São precisas apenas duas pessoas para formar um clube de leitura

Tal como se faz com as séries hoje em dia, experimenta ler um livro ao mesmo tempo que outra pessoa. Tirares as tuas próprias conclusões e depois encontrares-te com alguém para os discutires. “O que é que achas que vai acontecer?”, “o que é que achaste daquela reviravolta no enredo?”; todos chegamos a um livro com a nossa própria experiência e conhecimento. É muito interessante perceber o que outra pessoa entende de uma história que tu também leste; muitas vezes duas pessoas veem duas coisas completamente diferentes e isso pode fazer-te ter uma experiência completamente diferente da que terias numa leitura solitária.

“Com os bons livros, a questão não é ver a quantos deles consegues chegar, mas sim quantos podem chegar até ti.” – Mortimer J. Adler

5. Lê o contexto

Uma boa maneira de obter mais de um livro é quando “lês em volta”. Por exemplo, questiona-te sobre como é que o escritor tem as suas ideias. Descobre as suas influências, os seus escritores favoritos, tudo o que possa ter sido importante para o autor que estás a ler. É assim que vais encontrar novos livros que te possam interessar e que talvez nunca fosses encontrar de outra forma. Se um livro for baseado num evento histórico, por exemplo, pode ser interessante ler mais sobre isso. Um livro vai sempre significar mais se o colocares em contexto.

“Tudo na vida pode ser escrito se tiveres a coragem para o fazer e a imaginação para improvisar. O pior inimigo da criatividade é a insegurança.” – Sylvia Plath

6. Leva o teu livro numa viagem

Pode parecer-te uma forma óbvia de passar o tempo nas férias, mas viajar pode ser uma oportunidade para as tuas leituras de outra forma. Por exemplo, se fores a Paris, lê um livro do autor francês Patrick Mondiano, o Prémio Nobel cujos livros são sempre sobre a capital francesa, ou as memórias de Ernest Hermingway em Paris é uma Festa sobre o tempo que lá viveu nos anos 1920. A experiência que obténs do livro vai conectar-se com as tuas próprias experiências. É uma maneira de garantir que o percebes melhor, que o escritor chega mais facilmente até ti. E também dá uma outra dimensão às tuas férias!

7. Ouve a banda sonora

Quase todos os livros referem música algures pela sua história. Experimenta pesquisá-las e ouvi-las enquanto lês para um empurrão extra no transporte para o universo que tens entre as mãos. Além de descobrires novas músicas, o teu livro vai ganhar mais vida. Os escritores dão muito boas dicas, seria um pecado não fazer nada com elas.

Índice

  • Rita Pinto

    A Rita Pinto é Editora-Chefe do Shifter. Estudou Jornalismo, Comunicação, Televisão e Cinema e está no Shifter desde o primeiro dia - passou pela SIC, pela Austrália, mas nunca se foi embora de verdade. Ajuda a pôr os pontos nos is e escreve sobre o mundo, sobretudo cultura e política.

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