“Deus não existe” e as outras respostas de Stephen Hawking

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“Deus não existe” e as outras respostas de Stephen Hawking

Em “Breves Respostas às Grandes Perguntas" (Planeta), Stephen Hawking explica com a paciência de um Mestre perante imberbes discípulos o que sabe e o que ainda não sabemos.

Stephen Hawking faleceu em 2018 depois de décadas confinado a uma cadeira de rodas devido à esclerose lateral amiotrófica. Durante os setenta e seis anos de vida, o mais famoso astrofísico do mundo formulou perguntas e procurou dar respostas. Se não as conseguiu de forma definitiva, as suas teorias revelaram-se essenciais na compreensão de fenómenos que nos transcendem.

Em “Breves Respostas às Grandes Perguntas” (Planeta), Stephen Hawking explica com a paciência de um Mestre perante imberbes discípulos o que sabe e o que ainda não sabemos (mas estamos a descobrir) sobre Deus, o início de tudo, a previsão do futuro, viagens no tempo, vida inteligente no universo, inteligência artificial, buracos negros, colonização do espaço, o futuro e a sobrevivência na Terra.

Para estas dez fundamentais interrogações, existe a simplicidade – tanto quanto possível – das respostas. O leitor, tal como um discípulo, está na mente do mestre. A explicação responde claramente a algumas perguntas, mas também abre novas possibilidades e diagnostica contemporâneas limitações. Hawking procura alimentar a curiosidade. Assim fizeram os seus pais consigo, assim tenta ele fazer com os alunos, os filhos e os leitores.

“O meu filho Tim contou, certa vez, uma história numa entrevista acerca de ter feito uma pergunta que acho que ele temia, na altura, ser um pouco tola. Queria saber se havia muitos universos pequeninos espalhados por todo o lado. Disse-lhe que nunca devia ter medo de apresentar uma ideia ou hipótese por pateta (as palavras são dele, não minhas) que possa parecer”

Na ideia deste proeminente astrofísico está a certeza de que “quando um de nós pensa no que pode fazer na vida, o mais certo é que o possamos fazer por causa de um professor.” E para isso é preciso ser bravo, curioso, determinado de forma a vencer as probabilidades.

Estas são características essenciais para se analisar a paulatina perda do espaço religioso para o científico. A religião tentou, muito antes da ciência, responder às questões fundamentais do ser humano: por que estamos aqui, de onde viemos. E o ser humano aponta para onde reside o Deus uno ou os deuses da antiguidade. A ciência tem vindo a dar, segundo o cientista, respostas melhores e mais consistentes, diminuindo o espaço ocupado pela religião. De qualquer forma, a religião nunca será abandonada, pois oferece conforto a quem não compreende ou não aceita a ciência. As suas afirmações são arrojadas:

“Eu faço uso da palavra «Deus» num sentido impessoal – como Einstein fazia – para me referir às leis da natureza, pelo que conhecer a mente de Deus é conhecer as leis da natureza. Segundo a minha previsão iremos conhecer a mente de Deus até ao fim deste século”.

A religião ficará reduzida à questão sobre a origem do universo, mas até essa poderá ser respondida em breve pela ciência. A ampliação do conhecimento implica a diminuição do papel da religião. Perante a possibilidade de existência de Deus, Hawking é taxativo:

“Somos todos livres de acreditar no que quisermos e é da minha opinião que a explicação mais simples é: Deus não existe. Ninguém criou o universo e ninguém é dono do nosso destino”.

É – como se previa – um pensamento crítico e científico que incide sobre interrogações fundamentais.

Fazendo recuar a religião até ao espaço consagrado às superstições, o autor de “Brevíssima História do Tempo” ou o “Grande Desígnio” alimenta a curiosidade do leitor para desenvolver as respostas dadas a cada pergunta. É levantado o fogo dado por Prometeu para iluminar o caminho a percorrer pelo ser humano. Mas não esqueçamos: esse mesmo fogo traz em si a maldição. Prometeu pagou por isso. O ser humano — sempre na perspetiva do cientista — verá o seu conforto diminuído. O conhecimento não deixa ninguém incólume. É sem medo dessa maldição que Hawking avança, paulatinamente, sem perder de vista o leitor médio, nada ou pouco preparado para explicações aprofundadas sobre cosmologia ou física quântica. O desígnio é claro: conhecer cada vez melhor o universo e o que (ou quem) o habita.

Hawking defende a especialização em “campos cada vez mais estreitos” para um melhor e maior conhecimento da matéria estudada. Nenhuma pessoa consegue dominar mais do que uma pequena fracção de conhecimento. A conjugação do trabalho de várias pessoas e várias disciplinas resultará numa maior compreensão. Só assim se poderá conhecer o interior de um buraco negro, saber se há vida inteligente noutro planeta (algo em que Hawking demonstra pessimismo), viajar no tempo (onde se nota, novamente, pessimismo), perceber se há continuidade para a vida na Terra (“se permanecermos aqui, arriscamo-nos a sermos aniquilados”), investigar a colonização espacial (“Precisamos de explorar o sistema solar para encontrar um local onde os humanos possam viver”) e como usufruir da inteligência artificial.

O conhecimento molda o futuro. Infelizmente, o entendimento não viaja à velocidade da luz e, por vezes, parece que é destruído e olvidado dentro de uma negra ignorância. No entanto, Hawking, com a paciência de um mestre, vai explicando e divulgando pequenas centelhas que alumiam o ser humano.

Sementes como esta geram curiosidade e frutificam em novas perguntas.

Texto de Mário Rufino.

 

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