Que o mundo do streaming alterou por completo as regras do jogo da indústria musical já não restam quaisquer dúvidas; ainda assim, nem sempre temos acesso aos bastidores das negociações entre editoras, artistas e outros players neste mercado e a questão nem sempre se torna evidente.
Para o utilizador comum o que interessa é se determinada música de que gosta está ou não disponível na plataforma de streaming que costuma usar e poucos têm consciência de que preferir esse modo de audição pode ser o menos gratificante – subjectiva e objectivamente – para o artista.
Contudo, com as redes sociais e a quebra das barreiras entre artistas e público, a possibilidade dessas histórias virem a público depende apenas da vontade dos artistas. Se alguns se mantém no silêncio por provável medo de represálias no mercado e um sentimento de impotência perante as editoras a quem estão ligadas contratualmente, outros são mais corajosos e despreocupados dando o exemplo e a voz pela causa. Os lendários De La Soul, um dos grupos de hip hop mais conceituados ainda no activo, foram os últimos a falar contra a máquina do streaming e a intermediação da sua editora, Tommy Boy.
Através do seu Instagram, os De La Soul foram demonstrado a sua aversão ao streaming por considerarem injusta a redistribuição dos lucros provenientes deste modo de distribuição – segundo contam nas suas publicações de Instagram, o contrato entre as partes faz com que os artistas recebam apenas 10% dos rendimentos.
A questão da remuneração não é, porém, a única a deixar os artistas reticentes a disponibilizar todo o seu catálogo online. O facto de usarem dezenas – se não centenas – de samples (que têm de ser registados de modo a evitar processos por violação de direitos de autor) e de esse trabalho ainda não estar feito também faz com que os artistas temam repercussões legais desta distribuição global do disco.
A discussão, promovida por um grupo tão conceituado e com uma história tão longa e profícua como os De La Soul, tem trazido o assunto para o espaço mediático e alguns artistas bem conhecidos já se juntaram à causa. O baterista dos The Roots, Questlove, foi um dos que expressou publicamente o seu apoio ao grupo numa longa mensagem que apela ao boicote à editora em questão.
Para Questlove, a disponibilização do catálogo dos De La Soul na internet e para sempre é um ponto positivo e pelo qual enquanto hardcore fan tem esperado, contudo, continua dizendo que se a divisão de lucros for a referida pelo grupo, ninguém “lhes pode fazer isso” . Questlove agradece ainda ao grupo por ter dado voz a esta causa.
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