Será que os Germes Gang estão a pintar mal de propósito?

Será que os Germes Gang estão a pintar mal de propósito?

15 Outubro, 2018 /

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A primeira vez que se olha para os seus desenhos tem-se uma reacção visceral, sobrancelhas no ar, profunda estranheza.

Os Germes Gang são uma crew de graffiti que nos intriga, mas não somos, de todo, os únicos. O mal é geral e é compreensível. A primeira vez que se olha para estes desenhos tem-se uma reacção visceral, sobrancelhas no ar, profunda estranheza. Com o lançamento de mais um livro e com cada vez mais aceitação institucional na agenda, decidimos falar com os Germes e tentar perceber a cena deles. Sim, tínhamos plena noção que podíamos acabar trollados.

Contemporary Landscapes é o novo livro dos Germes Gang

Começámos pela origem do grupo e ficámos logo a saber que surgiram como uma típica crew de graff em 2006, mas que também deixaram de ser uma crew de graffiti típica ao longo do seu percurso. Assumem o background em “música clássica, design de moda, artes plásticas e serralharia” como algo que importa para serem Germes Gang.

Quando lhes perguntamos se graffiti que pode ser percepcionado como feio faz parte desse currículo, foram muito claros connosco. Disseram-nos logo que “o nosso graffiti não é feio. É bué bonito, mesmo. Nós damos a dobrar aquilo que gostávamos de receber. Cenas originais, cenas que não são roubadas”.

O mal pode ser nosso. Afinal, fomos educados através de chavões repetidos até ao infinito de que os tags são feios, mas que o graffiti, quando é bem feito, pode ser lindo, dar cor à cidade, argumentário urbano, et. al. Os Germes acham isso uma grande seca. O que é graff bonito? Se calhar estás a referir-te a graff cliché que recorre aos padrões típicos do graffiti. O graff que nós fazemos é muito mais complexo tecnicamente.” Acreditam que não estão a dar nada com mau fundo às pessoas, que esta prática não tem maldade. “Fazer um outline direito qualquer retardado que pinte há um ano deveria conseguir. Fazer um outline tosco controlado é outra conversa.”

A verdade é que a estética agressiva destas pinturas em paredes ou papel, as mensagens tóxicas que as acompanham e os personagens da cultura pop que são adulterados por deficiências motoras ou momentos pornográficos – tudo isto tem impacto em nós, mesmo que o nosso primeiro instinto seja rejeitarmos essa imagem ou preterirmos o seu valor artístico.

Contra essa nossa percepção parece estar o Instagram, onde os Germes Gang acumulam um número considerável de seguidores. Como seria de esperar face à postura blasé do grupo, a crew não liga muito a esta ideia de sucesso digital e, quando lhes perguntamos sobre isso, não se importa muito de insultar a sua própria comunidade de seguidores. “Infelizmente, há bué gente que só nos dá crédito porque temos milhares de followers. Tipo ovelhas, se essa foto tem mil likes é porque é fixe. No fundo, não percebem mesmo o que estamos a fazer e nós conseguimos jogar com isso.”

Quando lhes perguntamos se lançar livros e fazer exposições em galerias é o que estão à procura para o grupo, dizem que “nunca pensaram muito nisso. A nossa ideia de sucesso provavelmente tem a ver com continuar a fazer homers eróticos e robocops de cadeira de rodas. Divertir-nos com isso e conseguir viver disso”.

Podem não ter tirado todas as nossas dúvidas acerca da validade artística de Germes Gang, mas, de certa, foram fiéis à atitude in your face que esperávamos deles.

Para que possas ver por ti mesmo e tirar as tuas próprias conclusões temos um exemplar do novo livro dos Germes para te oferecer. Passa pelo nosso Instagram para saberes como te habilitares.

Autor:
15 Outubro, 2018

O Alexandre Couto foi Editor do Shifter, trabalha actualmente como publicitário e colabora com diversas publicações.

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