– Where are you from?
– Lisbon.
– Oh! Lisbon! I have been there
Com mais ou menos variedade, este tipo de clichê marca o início de conversa entre qualquer português que visite o estrangeiro e alguém desse local; contudo, com as forças da globalização e o mercado digital que nos torna a todos cada vez mais próximos, o cenário está realmente a mudar.
Assim, numa das próximas viagens que faças a um país em que o panorama do empreendedorismo e das startups seja uma realidade, é provável que a conversa seja bem diferente e que, por entre pastéis de nata e jogadores de futebol, surja o nome de um unicórnio ou da última grande ideia a nascer em Portugal.
Os países já não são apenas reconhecidos pelas suas pérolas gastronómicas, nem pelos seus atletas fora de série, mas também pelas empresas que partem de uma nação à conquista do mundo. Isto já acontece, por exemplo, com a Farfetch que não estando registada em Portugal tem no ADN a marca indelével da portugalidade, mas no futuro pode acontecer com muitas mais.
A versão britânica da revista Wired tem vindo a fazer uma lista das startups portuguesas mais em voga; aproveitámos essa lista, aplicámos o filtro da cidade de Lisboa e acrescentámos mais alguns nomes. De seguida, apresentamos assim as start-ups com ADN lisboeta que estão a fazer barulho lá fora e/ou cá dentro, sem nenhuma ordem especial:
DefinedCrowd
A inteligência artificial (IA) também faz parte do negócio da DefinedCrowd. Fundada em 2015 por Daniela Braga, esta startup coloca a IA ao serviço da análise de dados. A empresa dedica-se a treinar algoritmos que prometem ajudar os seus clientes a extrair e estruturar informação de base de dados, que pode ser usada para tomar decisões mais rapidamente. A DefinedCrowd conta com mais de 40 clientes a nível global, como a BMW, a MasterCard, a EDP ou o Grupo Mello Saúde. Daniela vive em Seattle, nos EUA, onde a empresa tem actualmente escritórios, juntamente com Lisboa e Tóquio. A sua ambição é tornar a DefinedCrowd a empresa número um no tratamento de dados com IA em todo o mundo. A empresa disponibiliza também uma plataforma chamada Neevo através da qual qualquer pessoa pode ganhar dinheiro categorizando dados, ajudando dessa forma a DefinedCrowd a aperfeiçoar os seus algoritmos. Desde 2015, a DefinedCrowd já captou mais de 12,9 milhões de dólares de investimento.
Forall Phones
José Costa Rodrigues queria um iPhone aos 16 anos mas os pais não lho deram. E assim lembrou-se, segundo conta numa entrevista, de criar o negócio que hoje com mais de 20 anos gere. Chama-se Forall Phones, foi fundada em 2016 com capital próprio de 300 euros, e mostra que os smartphones podem ter mais que uma mão, mais que um dono. No fundo, a Forall Phones vende modelos topo de gama com um preço até menos 40% ao praticado no mercado; tem loja online e também uma loja física em Lisboa, inaugurada no final de 2017, e outra no Porto, que abriu em 2018. Agora com dois anos, mais algumas lojas espalhadas pelo país, e com um último ano com vendas consolidadas na casa dos quatro milhões de euros, a Forall Phones prepara-se para saltar lá para fora, sendo que o mercado externo já representa cerca de 20% das vendas. A Forall Phones prova que os smartphones podem ser mais baratos se comprados em segunda mão e tem também uma segunda mensagem, esta de teor ecológico: porque não reaproveitar os equipamentos em vez de os deixar numa gaveta ou de os deitar fora?
Unbabel
Fundada em 2013, a Unbabel tem um pé em Lisboa e outro em São Francisco, mas foi na capital portuguesa que nasceu. Esta start-up oferece um serviço de tradução que combina inteligência artificial e editores humanos a empresas, permitindo-lhes desde ter um serviço de apoio ao cliente multilíngua a vídeos legendados em 28 línguas diferentes. Com a Unbabel, as empresas podem focar-se na expansão global sem se preocupar com as barreiras linguísticas e sem o custo de contratar tradutores nativos para cada língua. Combinando inteligência artificial e inteligência humana, a startup portuguesa promete traduções de qualidade e rápidas; a empresa conta com mais de 200 funcionários e uma comunidade de de 150 mil tradutores freelancers, espalhados pelo mundo. Desde o início, a Unbabel já acumulou mais de 31 milhões de dólares de financiamento, incluindo da conceituada Y Combinator; o investimento mais recente foi de 23 milhões, uma Série B, e partiu do anjo californiano Scale Venture Partners.
Talkdesk
Cristina Fonseca e Tiago Paiva questionaram-se porque é que os call centers estavam tão desactualizados e, em 2011, num hackathon de uma empresa de software de comunicação chamada Twilio começaram a esboçar a Talkdesk. O projecto foi desenvolvido em 10 dias e apresentado na conferência da Twilio no final do hackathon. Estabeleceram empresa no mesmo ano, apresentaram a sua proposta no certame TechCrunch Disrupt, levantaram dinheiro – os primeiros 450 mil dólares foram da 500 Startups. A Talkdesk é uma daquelas histórias que deram certo antes. O seu produto consiste basicamente em software que permite montar um call center sem hardware, telefones, código ou downloads – funciona tudo na nuvem e tudo aquilo de que é preciso é uma ligação à internet. É um produto escalável, portanto. A Talkdesk conseguiu mais de 124,5 milhões de investimento, incluindo da Salesforce Ventures e, mais recentemente, da Viking Global Investors. Entre os seus clientes estão a IBM, a Dropbox ou a unicórnio semi-tuga Farfetch.
Aptoide
Em 2011, Paulo Trezentos e Álvaro Pinto criaram a Aptoide, uma loja de aplicações para ser uma alternativa à Google Play Store. A Aptoide distingue-se da loja da Google pelo seu lado comunitário. Qualquer utilizador (ou marca) pode criar a sua própria loja dentro da Aptoide, destacando, por exemplo, as suas apps preferidas, e outros podem segui-la. Existe ainda um feed onde se podem encontrar recomendações, bem como artigos e vídeos relacionados com as apps que já instalaste. Na Aptoide, encontram-se as mesmas apps que encontras na Play Store mais aquelas que os programadores decidem publicar apenas nesta loja, que registou mais de 4 mil milhões de downloads desde que foi lançada. A Aptoide começou por contar com investimento de 750 mil euros da Portugal Ventures em 2013, que levaram a 3,7 milhões numa Série A em 2015; no final de 2017, graças a uma ICO (Initial Coin Offering) da sua criptomoeda AppCoins, juntaram mais 16,8 milhões. A AppCoins é a “moeda oficial” da loja Aptoide, que permite comprar apps ou actualizações em jogos; a ideia da AppCoins é criar um mercado mais justo para programadores e utilizadores que a Play Store.
James
Fundada em 2013 por João Menano, Samuel Hopkins e Pedro Fonseca, com incubação pela Startup Lisboa, a James começou por chamar-se CrowdProcess e é uma empresa de tecnologia ligada ao sector financeiro, que surgiu para ajudar bancos de média dimensão a analisar riscos de crédito. A James tem um software e um conjunto de algoritmos, apoiados em inteligência artificial e modelos preditivos, que basicamente funcionam como consultores financeiros, ajudando os analistas de crédito dos bancos a perceber se é seguro atribuir um empréstimo a um dado cliente. O software da James tem sido utilizado por 25 instituições financeiras em três continentes diferentes. Em 2017, a empresa recebeu 2,5 milhões de euros de investimento de ex-banqueiros do Credit Suisse, Deutsche Bank e do fundo BiG Start Ventures. Um ano antes, tinha sido eleita a melhor startup de tecnologia financeira (fintech) da Europa num evento do sector.
Heptasense
Ricardo Santos e Mauro Peixe fundaram em 2017 a Heptasense, uma tecnológica que desenvolveu e continua a desenvolver um software de inteligência artificial que torna as câmeras de vigilâncias capazes de entender o comportamento humano – a plataforma Heptasense é baseada na nuvem e não compromete a privacidade das pessoas gravadas pelas câmaras. O software da Heptasense pode ser útil para uma loja ter dados estatísticos sobre o comportamento dos seus visitantes, para uma empresa saber se há algum perigo de segurança num dos seus espaços, para uma fábrica detectar quando os seus trabalhadores não estão a seguir procedimentos de segurança, ou para uma cidade detectar acidentes ou disponibilidade de estacionamento. A empresa está a trabalhar, por exemplo, com a BMW em controlos gestuais para condutores ou com uma empresa de segurança nos EUA na monitorização de aeroportos. A Heptasense, que nasceu na Startup Lisboa, está a crescer através dos contratos que vai celebrando com empresas, ou seja, sem dinheiro de ventures. Este ano a empresa quer continuar a crescer, fechar mais parcerias e reforçar a sua equipa, sediada para já só em Lisboa.
Landing Jobs
Devagar, devagarinho tem vindo a conquistar um lugar de destaque no pódio das start-ups ex-libris de Lisboa. A Landing Jobs é uma feira digital de emprego de tecnologia de informação, aberta a todos, desde estudantes em início de carreira a profissionais com alguns anos de experiência. O projecto começou na Startup Lisboa com outro nome e apresentou-se em 2015, depois de captar investimento, com a marca actual e o início de uma expansão internacional. Hoje a Landing Jobs navega por Berlim e Amesterdão, onde, à semelhança de Lisboa, organiza o seu Landing Festival – um evento que espelha bem a missão da start-up fundada por Pedro Oliveira e José Paiva: mais que ajudar recrutadores a encontrar talento em tecnologia, ajudar este talento a aperfeiçoar as suas competências e conhecimentos, valorizando e impulsionando as suas carreiras. Apesar de ser maior que Lisboa, e de ter escritórios em Londres e Barcelona, é ao ao nº 2 da Rua Alexandre Herculano que a Landing Jobs continua a chamar casa.
Codacy
A Codacy surgiu da frustração dos seus fundadores, Jaime Jorge e João Caxaria, de terem de rever linhas de código, que pareciam infinitas, nos seus empregos anteriores. A Codacy é, então, uma plataforma que automatiza a revisão de código, detectando eventuais erros e permitindo, assim, a equipas de desenvolvimento programar mais rápido. Tendo começado em 2012 com outro nome – Qqmine –, a Codacy foi distinguida em 2014 no concurso de startups do Web Summit, quando o evento ainda se realizava em Dublin. A Codacy conseguiu um total de 6,7 milhões de dólares em investimento; a ronda mais recente foi em Agosto de 2017, foi liderada pela Seedcamp, Faber Ventures, JOIN Capital, EQT Ventures e Caixa Capital, e permitiu à empresa levantar 5,1 milhões. A Codacy conta com entidades como a PayPal, a Adobe, a Cancer Research UK e a Deliveroo como clientes.
Sensei
Entramos numa loja, metemos os produtos que queremos no cesto e, quando tivermos tudo, simplesmente saímos, sem ter de passar por uma caixa. Este é o futuro que a Sensei imaginou e está a desenvolver. Esta start-up portuguesa, fundada por Joana Rafael, Vasco Portugal e Paulo Carreira, quer criar lojas autónomas, em que, à medida que um cliente adiciona compras ao seu cesto físico, estas vão sendo adicionadas também ao cesto virtual para que, no final, seja feito o débito do valor total de forma automática; se a pessoa quiser recolocar um produto na prateleira antes de sair da loja, poderá fazê-lo e esse item vai ser no momento removido do sistema. A Sensei propõe usar uma rede de câmaras com visão computacional (isto é, processamento algorítmico) para monitorizar o que se passa dentro das lojas e dessa forma cobrar devidamente os clientes: as câmaras sabem quem é o cliente e que produtos está a levar para casa. Fundada em 2017 em Lisboa, a Sensi foi apoiada pela Metro Accelerator e conta com 5 milhões de euros de investimento numa ronda com a portuguesa SONAE IM e a retalhista alemã a METRO AG (LeadxCapital).
Prodsmart
O propósito da Prodsmart, start-up liderada por Gonçalo Fortes e fundada por este e pelo Samuel Martins, é digitalizar fábricas e as suas linhas de produção, através de sensores e de uma aplicação móvel que recolhe informação em tempo real sobre o que se passa na fábrica permitindo dessa forma gerir e optimizar os processos industriais. O objectivo final é reduzir o desperdício, aumentar a eficiência e, claro, baixar custos. Com a tecnologia da Prodsmart, não é preciso papelada. A startup começou no ano passado a vender um Kit Fábrica Digital que permite a qualquer unidade de produção iniciar, de imediato, a gestão digital do seu chão-de-fábrica. Também em 2018 a empresa recebeu um investimento de 1,5 milhões de dólares, e foi premiada pelo Governo norte-americano no âmbito do programa estatal Select USA. Em 2016, a Prodsmart já tinha vencido o Caixa Empreender Award, da Caixa Capital, e o Startup Challenge, promovido pela Microsoft Portugal em parceria com a Embaixada dos Estados Unidos em Portugal.
Uniplaces
Não dá para deixá-la de fora de uma qualquer lista de startups lisboeta. Fundada em 2012 e dirigida por Miguel Santo Amaro, a Uniplaces faz parte da primeira geração da Startup Lisboa e tornou-se o exemplo dos exemplos de sucesso; o primeiro projecto a vingar na nova onda de empreendedorismo que a incubadora da Câmara proporcionou. A Uniplaces é um mercado online de arrendamento de quartos para estudantes, uma espécie de “Airbnb” para estudantes; a empresa nasceu entre Lisboa, Londres e Argentina, tendo na capital portuguesa a sua sede; ao longo dos anos, captou perto de 30 milhões de dólares em investimento.
Zaask
Lançada em 2012 por Luís Martins, a Zaask é um mercado online onde pessoas que ofereçam determinado serviço podem registar-se de modo a que outros, que procurem esse serviço, possam entrar em contacto com essa pessoa e contratá-la. Seja um web designer, alguém para passear o cão, um planeador de casamentos, um jardineiro ou um professor de línguas, o Zaask é uma plataforma transversal a áreas profissionais e aberta a qualquer pessoa que tenha algo para oferecer e queira obter um rendimento extra com esse serviço. O Zaask permite avaliar o perfil de cada pessoa, através das pontuações e avaliações que têm. A empresa diz ter mais de 460 mil utilizadores por mês e quase 100 mil profissionais inscritos. A plataforma opera em Portugal, Espanha, Alemanha, Reino Unido e Brasil, e desde a sua criação obteve cerca de 2,1 milhões de dólares de investimento.
Probe.ly
Fundada em 2016, a Probe.ly é um software que promete verificar se outros softwares são seguros; no fundo, a Probe.ly serve para verificar vulnerabilidades em aplicações e sites, e pode ser corrido nessas plataformas de forma contínua. A Probe.ly substitui a necessidade de hackers que voluntariamente testem as plataformas ou de equipas humanas para essa tarefa, uma vez que faz a verificação de forma automática. A Probe.ly venceu o programa de aceleração Lisbon Challange em 2016, recolhendo 620 mil euros, e o prémio Caixa Empreender Award no ano seguinte. O software foi lançado em 2017 na forma de beta privado e em Março de 2018 captou 435 mil euros de investidores, incluindo a Caixa Capital. A Probe.ly disponibiliza uma versão gratuita do seu software, virada para empresas mais pequenas que habitualmente têm um orçamento reduzido e que passam assim a ter acesso a uma ferramenta de cibersegurança que não detecta todas as vulnerabilidades da versão paga mas algumas.
Mapidea
Criada em 2017 por Miguel Marques, Eduardo Ramos e Pedro Moura, a Mapidea quer colocar empresas a olhar para o mapa, para o que existe em seu redor ou numa dada zona, e utilizar essa informação geográfica em prol da tomada de melhores decisões de negócio. A ideia parece meio abstracta, mas é preciso termos presente que as empresas são feitas de decisões e o conhecimento do terreno pode ser essencial, estejamos a falar da localização de uma loja, da residência do consumidor ou do local onde um potencial cliente visita o site da empresa. No fundo, a Mapidea permite a qualquer negócio perceber o local onde vale a pena investir. A Mapidea disponibiliza ferramentas em cloud e acessíveis através do modelo de subscrição anual; esta start-up lisboeta, que deu os primeiros passos na Startup Lisboa, diz querer tornar a inteligência geográfica tão fácil e comum como usar Excel. A startup lisboeta tem como clientes a Vodafone, a NOS, a Domino’s Pizza, a Novartis ou a Tabaqueira. Recebeu financiamento de 250 mil euros da Portugal Ventures em 2017, numa ronda de investimento seed (fase inicial).
EatTasty
Plataformas como a Glovo ou a Uber Eats permitem receber em casa (ou noutro sítio qualquer) refeições de restaurantes. Já a EatTasty é uma ideia diferente: esta start-up portuguesa, fundada em 2016 por Orlando Lopes e Rui Costa, promete a entrega de comida caseira no local de trabalho. A EatTasty utiliza as cozinhas dos restaurantes, desaproveitadas antes da hora de almoço, para confeccionar refeições com ingredientes frescos; a entrega é depois feita nas secretárias das redondezas. Para os donos dos restaurantes, a EatTasty é uma forma de rentabilizar as suas cozinhas; a maior parte das cozinhas inscritas na plataforma já prepara mais de 150 refeições por dia. A EatTasty, presente em Lisboa e Madrid, anunciou em Julho de 2019 uma ronda de investimento seed (fase inicial) de 1,1 milhões de euros, liderada pela Indico Partners, um fundo português de investimento em capital de risco independente; o valor angariado junta-se aos 370 mil euros que já tinham recebido anteriormente. A EatTasty já vendeu mais de 140 mil refeições, tem mais de 100 mil utilizadores registados.
(Se tiveres sugestões, correcções ou acrescentos a fazer nesta lista, fala connosco através de comunidade@shifter.pt.)
[conteúdo patrocinado por Made Of Lisboa]