A aplicação que outrora servia apenas para publicar fotos pessoais tem-se tornado ao longo dos últimos anos uma das principais e mais efervescentes redes sociais, especialmente entre os mais jovens, mas também nas camadas mais adultas. A sua versatilidade é transversal a todo o tipo de conteúdos partilhados e, por isso mesmo, o Instagram passou também a rede social onde muitos vão para ler notícias e para se informarem sobre o que se passa no mundo.
Dados recentemente publicados num estudo do Reuters Institute sobre como as pessoas acedem a notícias e informação sobre a pandemia de Covid-19, dão conta de que 26% dos inquiridos com 18-24 anos o fez no Instagram, 19% usou o Snapchat e 6% o TikTok. Quanto a jornais, só 17% os consultaram. Os dados dizem respeito aos Estados Unidos mas globalmente os números chegam a ser maiores: na Alemanha, 38% dos indivíduos com 18-24 anos usou o Instagram, em Espanha 26%, no Reino Unido 24% e na Argentina 49%. Como coloca o The Guardian: “Para muitos jovens, clicar no Instagram para obter as últimas notícias é agora tão natural como era pegar no jornal diário para as gerações anteriores.”
Um outro relatório – também do Reuters Institute – traça várias tendências sobre o consumo de notícias digitais nas populações mais jovens. Segundo este mesmo documento, o Instagram é uma das aplicações mais usadas pelos mais novos, que preferem simultaneamente plataformas onde podem consultar informação e entretenimento no mesmo sítio. Numa análise detalhada ao Instagram, lê-se neste relatório que a aplicação é “uma forma fácil de saber o que está a acontecer com os meus amigos, ídolos, áreas de interesse e o mundo, livre de agendas”; é boa para uso diário e contínuo ao longo do dia, mas para alguns não é sítio para notícias. De qualquer modo, o Instagram – lê-se – “não é adequado para histórias complexas, notícias de profundidade, para muitos não é um espaço para hard news”.
Se os formatos de conteúdo do Instagram, das Stories aos carrosséis de imagens, permitem criar narrativas cativantes, interactivas e de consumo rápido, uma análise mais profunda dos temas está quase sempre dependente de links para o exterior da app, uma funcionalidade apenas possível para perfis verificados e, por isso, vedada à generalidade dos utilizadores. Assim, é difícil direccionar um utilizador para um artigo completo onde possa aprofundar o assunto que resumidamente começou a ler num post ou numa história, ou para verificar se a fonte é fidedigna ou os factos são correctos, por exemplo. Redes sociais como o Instagram podem também criar as chamadas câmaras de eco, expondo utilizadores principalmente a outras pessoas com quem partilham opiniões semelhantes, reforçando esse bias pré-existente e contribuindo para a polarização da sociedade.
Amelia Gibson, professora assistente e directora do Community Equity Data and Information Lab na Universidade da Carolina do Norte, nos EUA, tem observado como eventos recentes, da pandemia ao movimento Black Lives Matter, aumentaram o desejo por informação instantânea e em primeira mão, que se encontra facilmente no Instagram, por exemplo. A juntar a esse factor está a desconfiança das gerações mais novas em relação aos meios de comunicação tradicionais. Restam algoritmos que servem a cada utilizador conteúdo de publicações jornalísticas, organizações políticas e influenciadores alinhados com os círculos sociais e as crenças políticas de cada internauta.
“As redes sociais oferecem, por um lado, um meio para preencher o que parece ser um vácuo de fontes de informação de confiança. Mas, por outro lado, os nossos ambientes de redes sociais continuam a ser tão segmentados que algumas pessoas vivem, na verdade, em diferentes mundos informativos. Num desses ecossistemas informativos, podem ler sobre este momento [e os actuais movimentos de justiça social] como um acordar esperançoso e internacional relacionado com o anti-racismo; outros lêem-no como um tempo de ameaça profunda à existência. Vemos estes mundos chocarem quando as pessoas se encontram no mundo real”, disse ao jornal The Guardian. Para a especialista, a solução passa por convergir interesses entre as redes sociais e os órgãos de comunicação social. “Acho que as redes sociais fizeram muito para impulsionar movimentos de justiça social na última década, mas os meios tradicionais ainda têm muito poder para captar a atenção nacional e internacional.”
Jennifer Grygie, professora da área de comunicação na Universidade Syracuse, refere ao The Guardian que “o desafio com o Instagram é que é um espaço altamente visual, pelo que as pessoas partilham memes que servem mais para influenciar que para informar; e as pessoas precisam de tomar cuidado e estar conscientes de com quem estão a interagir”. Se, por um lado, as redes sociais como o Instagram equilibraram quem pode reportar notícias e trouxeram novas vozes para o espaço mediático, o sistema continua a ter falhas, como as notícias falsas e a desinformação, a criação de bias e a polarização da sociedade. Jennifer diz que os órgãos de comunicação social precisam de atrair o público que agora se vira para o Instagram, melhorando os seus sites, por exemplo.
“As plataformas sociais nem sempre actuaram como bons cidadãos corporativos – prestam pouca atenção aos anúncios políticos que são prejudiciais e falham em monitorizar o discurso de ódio. É importante criticá-los, mas também estar conscientes de que sem eles não teríamos visto o tipo de documentação que temos sobre as ameaças sociais e transparência em torno de injustiças… Ainda há muitas oportunidades para entregar conteúdo sem as redes sociais, e se as redes sociais não estão a agir como bons cidadãos corporativos, precisamos de encontrar novas e melhores maneiras de distribuir notícias”, disse ao The Guardian.
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