Luanda Leaks: 715 mil documentos queimam Isabel dos Santos e IA dá uma ajuda

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Luanda Leaks: 715 mil documentos queimam Isabel dos Santos e IA dá uma ajuda

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Isabel dos Santos, a auto-intitulada mulher de negócios, construiu a sua fortuna beneficiando directamente do Governo angolano liderado à data pelo seu pai.

Num dia, Isabel dos Santos responde em exclusivo a uma entrevista da RTP e, poucos dias depois, sai a público um trabalho jornalístico que promete adensar o curso da história. O Luanda Leaks é um trabalho de investigação do International Consortium of Investigative Journalism (ICIJ) com base em 356 GB de material, um total de mais de 715 mil documentos confidenciais. Este material foi recolhido pela Plataforma para a Protecção de Denunciantes em África (Protection des Lanceurs d’Alerte en Afrique), liderada por William Bourdon, um dos advogados de Rui Pinto no princípio do processo Football Leaks, e posteriormente entregue ao ICIJ para que liderasse as investigações jornalísticas.

As conclusões da investigação estão agora a ser amplamente divulgadas pela imprensa portuguesa e internacional, e incidem sobre a forma como Isabel dos Santos, a auto-intitulada mulher de negócios, construiu a sua fortuna beneficiando directamente do Governo angolano liderado à data pelo seu pai, José Eduardo dos Santos – algo oportunamente negado por Isabel dos Santos mas em investigação pelas instâncias judiciais.

Para além desta informação, a investigação revela também uma rede de mais de 400 empresas ao serviço dos esquemas financeiros da empresária, entre as quais off-shores em Malta, Maurícia e Hong Kong, detidas tanto por si como pelo seu marido e que permitiriam, alegadamente, a movimentação de dinheiro de modo discreto permitindo entre outras coisas milionárias evasões fiscais.

Outra das descobertas principais sobre esta rede mostra como tudo isto foi feito, segundo o ICIJ, com o conluio de consultores financeiros das principais praças, como a PwC e a Boston Consulting Group, que ignoraram sinais de que a empresária estaria a beneficiar de dinheiro do seu país para aumentar a sua fortuna pessoal. Terão mesmo sido advogados e consultores a desenhar estratégias para potenciar os seus lucros – algo que para o ICIJ mostra a forma como reguladores no Ocidente ignoram as tácticas fiscais utilizadas para lucrar através de movimentos para offshore.

Podes ler a peça principal deste trabalho de investigação jornalística aqui. Já o caso completo da Luanda Leaks encontras aqui.

Como a Inteligência Artificial ajudou a dar sentido à história

Uma das novidades do ponto de vista da investigação neste caso foram as ferramentas utilizadas. Graças à enormidade de documentos a que os jornalistas tiveram acesso, a sua análise individual seria praticamente impossível em tempo útil. Para isso, a ICIJ juntou-se ao Quartz, revista norte-americana de economia, que desenvolveu um sistema de inteligência artificial para explorar os dados de forma automatizada.

Através da utilização da ferramenta Universal Sentence Encoder, os jornalistas e programadores envolvidos puderam converter frases em vectores – conjuntos numéricos de números –, que permitiam uma rápida detecção da incidência dessas frases ou similares noutros documentos, mesmo que em outras línguas. Por exemplo, à frase “establishing a new corporation” o software fez corresponder “nova entidade para a sociedade”, num e-mail em português, e “of the firm as newly constituted” num e-mail trocado com uma empresa na Maurícia.

O exercício da equipa foi então converter todo o material para os tais vectores, permitindo que os jornalistas encontrassem a informação relevante a parte da investigação em curso sem terem de percorrer todos os mais de 700 mil documentos, um por um.

Índice

  • João Gabriel Ribeiro

    O João Gabriel Ribeiro é Co-Fundador e Director do Shifter. Assume-se como auto-didacta obsessivo e procura as raízes de outros temas de interesse como design, tecnologia e novos media.

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