Benfica vai ser o epicentro criativo e digital de Lisboa durante 4 dias

Benfica vai ser o epicentro criativo e digital de Lisboa durante 4 dias

7 Outubro, 2019 /
A última edição da Lisbon Maker Faire foi em 2016 (foto de Future Behind)

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A Lisbon Maker Faire e o Reboot irão animar a freguesia lisboeta de Benfica entre 10 a 13 de Outubro.

A Lisbon Maker Faire vai regressar! Yeah! Interrompida em 2016, depois de anos a ser organizada pelo SAPO e depois pela Bright Pixel, a feira onde as crianças podem sentir-se adultos e os adultos crianças está finalmente de volta. O FabLab Benfica decidiu reactivar a Maker Faire lisboeta e, por isso, vai realizar-se em Benfica, uma das freguesias periféricas da cidade que, durante alguns dias, se transformará num epicentro criativo e digital da cidade – e a Maker Faire não será a única ‘culpada’ por isso.

Se a Lisbon Maker Faire está agendada para os dias 11 e 12 de Outubro, uma sexta e sábado, respectivamente, o Reboot irá acontecer de 10 a 13, também em Benfica. André Rocha, um dos responsáveis do FabLab Benfica, é o ponto de ligação entre as duas iniciativas que prometem ajudar a descentralizar Lisboa. Numa cidade demasiado presa ao seu centro, onde o tecido empresarial e tudo o que o circunda (conferências, debates, lançamentos, festas…) acaba por se acumular, zonas como Benfica precisam de ser agitadas com iniciativas que criem motivos de interesse e atraiam novos públicos – que provem que a periferia não é um mero aglomerado de prédios, marquises e betão onde não há vida.

E Benfica – uma freguesia tendencialmente envelhecida mas mais central do que aparenta ser (tem comboio directo para zonas como Entrecampos, Areeiro, Rossio ou Oriente, e com dezenas de ligações de autocarro) – precisa muito de iniciativas frescas como a Maker Faire e o Reboot.

O regresso da Lisbon Maker Faire

André Rocha e Nuno Monge, os professores que estão à frente do FabLab Benfica, decidiram trazer a Lisbon Maker Faire de volta porque, em primeiro lugar, é uma “estratégia para o FabLab Benfica se relacionar com a comunidade envolvente” e é uma actividade pertinente e elegível para um fablab. Depois, porque surgiu uma oportunidade de financiamento através da Distributed Design Market Platform, uma rede dedicada ao design distribuído da qual o FabLab Benfica é o parceiro português. “O objectivo primordial da Distributed Design Market Platform é promover quem trabalha em design distribuído, um conceito que também se está a tentar definir através deste projecto”, explica André. O que é design distribuído? “Basicamente é um design aberto, livre de propriedade intelectual, e que pode ser concebido em qualquer parte do mundo e manufacturado localmente.” Por outras palavras, vários designers podem colaborar no desenho, por exemplo, de uma cadeira à distância e depois cada um pode imprimir essa cadeira num fablab na sua cidade, em vez de essa cadeira ser produzida numa fábrica comum e depois importada para diferentes localizações.

Imagem da Lisbon Maker Faire

Com financiamento do lado da Distributed Design Market Platform, André e Nuno adquiriram por três anos os direitos da marca ‘Maker Faire’, que pertence a uma organização sem fins lucrativos norte-americana chamada Maker Community, por três anos; depois falaram com a direcção do Politécnico de Lisboa porque queriam realizar o evento no campus de Benfica e trataram com os antigos organizadores da Maker Faire em Lisboa da ‘passagem de testemunho’. “Esta ano vamos fazer a uma escala mais pequenina, é o regresso, é o ano zero; mas para o ano queremos ganhar escala e patrocinadores maiores”, explica André. “A própria Maker Community também nos deu uma ajuda. São quase patrocinadores da feira porque ajudaram a adquirir a licença no ano zero e assim sobrou-nos uma almofada para investirmos noutras coisas. Isso foi porreiro. Foi um apoio essencial.”

André passou o Verão a juntar a comunidade ‘maker’ portuguesa, desde malta de outros fablabs, a designers, programadores e fazedores no geral que se interessem por este mundo de fabricação digital e das artes digitais. Não se ficou por Lisboa, “porque a Lisbon Maker Faire é um evento nacional”. Foi ao FabLab das Aldeias de Xisto, à UPTEC do Porto, ao Design Factory de Aveiro, ao Hardware City de Aveiro… Constituiu uma espécie de ‘conselho consultivo’ para reunir opiniões de várias pessoas e começar a dar corpo ao evento. “Um rapaz que já tinha tentado criar uma Maker Faire em Évora juntou-se a nós”, conta. “Quando soube que a Maker Faire ia regressar, quase que lhe vieram as lágrimas aos olhos. Ele agora está a gerir o programa de voluntariado e virá com a sua equipa mais cedo para ajudar na produção e na montagem. Também vai dar um workshop.”

A Lisbon Maker Faire de 2016 (foto de Future Behind)

A Lisbon Maker Faire é “uma marca que funciona, é um momento de agregação e vamos gerar a partir daqui um movimento que neste momento está adormecido”, diz André. “A comunidade portuguesa de ‘makers’ exige que se criem estes momentos de reunião e de partilha e nós achamos que a Maker Faire, quando aconteceu em 2016, estava ao rubro nesse aspecto, foi uma grande celebração, mas de repente a organização não teve capacidade para fazer mais.” Para o professor de design de produto, docente na ESELx e co-fundador do FabLab Benfica, a Maker Faire pode ser mais que um ponto de encontro da comunidade de makers (ou de fazedores, em português) – pode ser um local onde novas colaborações surjam e é neste ponto que a Distributed Design Platform entra. “Posso estar ali com a minha mesa a divulgar o meu projecto, que está licenciado de forma aberta e com o qual qualquer pessoa pode colaborar.”

Todavia, a Lisbon Maker Faire não é um evento de makers para makers. Sim, vai haver makers a mostrar o que fazem, mas também clubes de robótica de escolas, uma competição de drones, workshops para crianças… É uma feira familiar, para todas as idades, “onde se sonha, onde se brinca e onde se experimenta coisas que nunca experimentámos”, comenta André. “Acho que a Maker Faire torna as crianças ‘rocket scientist’ e os adultos crianças autênticas. Aliás, acho que temos todos de vir com o entusiasmo de uma criança e com a seriedade com que uma criança encara estas coisas. Isto é ‘serious business’ para uma criança”, acrescenta.

O Reboot é o reinício do PLUNC

A Lisbon Maker Faire vai ter uma ligação directa com o Reboot, que acontecerá simultaneamente no Palácio Baldaya, a poucos metros do campus do Politécnico. “É uma organização dos alunos do doutoramento em medias digitais da Universidade Nova de Lisboa, em parceria com a Faculdade de Engenharia do Porto e uma perninha da Faculdade de Belas Artes também do Porto”, explica André. “Eu faço parte desse grupo de estudantes . Andávamos à procura de um espaço e, como estava a organizar a Lisbon Maker Faire para os mesmos dias, fez todo o sentido fazer perto. No mesmo espaço não convinha porque são instituições diferentes – de um lado o Politécnico de Lisboa e do outro a Universidade Nova.”

O cartaz do Reboot (imagem DR)

O Reboot vai decorrer entre os dias 10 e 13 de Outubro e, segundo uma nota enviada às redacções, “é um convite à especulação, à crítica, a uma produção científica refrescante e a intervenções artísticas transdisciplinares, livres de formalidades”. Ao longo dos quatro dias, existirá uma exposição aberta ao público que contará com obras aclamadas de artistas internacionais e nacionais reconhecidos, como Ben Grosser ou Pedro M. Cruz, bem como obras novas, algumas criadas especificamente para o Reboot, nas quais se procura cruzar arte, ciência e tecnologia. O Reboot contará ainda com três palestras: uma principal de Larry Shea, professor na Universidade Carnegie Mellon, que abordará o uso de tecnologias VR, AR e XR em storytelling e performances artísticas; outra do designer, músico e professor Miguel Carvalhais, intitulada “Computation, Replication, Art”; e uma última pela artista e professora Maria Mire, com o título “Moving Image and Media Archaeology: The Werner Nekes’ Collection”. Estas palestras serão, tal como a generalidade do evento, públicas e de entrada gratuita, sendo necessário um registo prévio através do site do evento.

O Reboot vai acontecer no belíssimo Palácio Baldaya (foto de Shifter)

“Como temos o apoio do American Corner da Nova, conseguimos trazer convidados internacionais”, explica André. “Vai também existir um simpósio doutoral, que será uma apresentação de trabalhos dos alunos de doutoramento, e que será uma coisa mais fechada” O programa completo do Reboot está disponível aqui. O festival nasceu das cinzas do PLUNC, cuja últimas edição, à semelhança da Lisbon Maker Faire, também foi em 2016; apresentava-se também como um festival de artes digitais e novos media. “Parte da equipa já participou no PLUNC, tem conhecimento e experiência de organizar esse festival. Nos tempos que correm não há orçamento para fazer um PLUNC, mas há para começar a pensar e a construir alguma coisa de baze e fazer crescer à semelhança do que se está a fazer com a Maker Faire. Esperamos que seja uma associação que funcione e que perdure no tempo”, remata André Rocha.

A Lisbon Maker Faire também tem entrada gratuita, sendo necessário realizar um registo prévio online. Podes saber mais sobre este evento no seu site oficial. E no próximo fim-de-semana já sabes: Benfica vai ser um epicentro criativo e digital de Lisboa. O convite fica feito para apareceres tanto na Maker Faire como no Reboot.

Autor:
7 Outubro, 2019

Jornalista no Shifter. Escreve sobre a transição das cidades e a digitalização da sociedade. Co-fundador do projecto. Twitter: @mruiandre

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