Amazónia a fundo perdido

Amazónia a fundo perdido

5 Setembro, 2019 /
Foto de Ryk Porras via Unsplash

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A única saída que vislumbro é a criação de um fundo internacional dotado convenientemente que negoceie a passagem da Amazónia a zona internacional protegida.

Muitas vezes assistimos impotentes ao desenrolar dos acontecimentos que têm um impacto real na nossa vida. Por vezes, essas ocasiões, pela sua magnitude, têm um impacto que nos transcende, podendo ser de tal grau que afectam toda a Humanidade, e sentimos um desespero angustiante quando percebemos que nenhum de nós, individualmente, pode alterar o curso dos acontecimentos e que, mesmo em grupo, estamos dependente de vontades alheias de agentes aparentemente irracionais e de caminhos pedregosos e mal iluminados.

As alterações climáticas, que ameaçam as condições de vida terrestre tal como as conhecemos, são um dos casos mais paradigmático destes instantes da História, em que falhamos em tomar atempadamente decisões ponderadas sobre o futuro comum – conformados que estamos pelo status quo e ignorando que a ausência de medidas que conservem o equilíbrio instável do momento que conhecemos farão com que este se desfaça e se torne o principal catalisador da mudança para um estado imprevisível.

A propósito de desequilíbrio, de momento os olhos têm estado postos na Amazónia, essa floresta tropical que todos prezamos por inúmeras razões que já foram elencadas em diversos locais; portanto, dispensar-me-ei do trabalho de as compilar aqui em detalhe de forma a ilustrar a sua importância, até porque acredito que já as sabem de cor.

Todos desejamos conservar a Amazónia para o bem comum, mas apesar da poesia afirmar que esta pertence ao mundo, esta legalmente faz parte de vários países da América do Sul, estando a sua maior parte dentro de um estado soberano chamado Brasil, que de momento é governado por um sujeito inenarrável, que chegou onde chegou por mecanismos de acção-reacção dignos de um filme de Bucha e Estica.

Os incêndios na Amazónia vistos do Espaço (foto via NASA)

E se é verdade que o pouco apreço que esse senhor tem pelo consenso científico aliado à sua vontade de dar rédea solta aos fazendeiros – para que aumentem a sua actividade naquela zona de forma a embelezar os seus números económicos, sem qualquer escrúpulo aparente – nos faz ficar incrédulos e ter raiva perante tanta ignominia, também é verdade que a economia do Brasil se tem degradado nos últimos anos e necessita de alguma (re)animação para melhorar, e o papel de um governante é responder primeiramente às necessidades do seu país e dos seus habitantes, até porque o resto do mundo não lhe garante a reeleição.

Como tal, causa-me um pouco de desalento ver que a comunidade internacional, seja incapaz de ter uma política concertada para a preservação da Amazónia que não passe da retirada de fundos residuais que perfazem cerca de 70 milhões de euros distribuídos entre Alemanha e Noruega, e que apenas tinham como destino políticas de preservação estritas e algumas palavras de censura mais ou menos fortes que escalaram em bate-bocas ridículos entre chefes de Estado.

A única ameaça séria que li foi a suspensão do Brasil do acordo Mercosur-EU, que ainda nem está em vigor; e, apesar de acreditar que ameaças de sanções podem funcionar no curto prazo, pecam pela incapacidade para a ajuda estrutural que o Brasil necessita neste aspecto, dado que a agricultura é o principal pilar económico do país, responsável pela maior parte das suas exportações como indica a imagem abaixo.

A única saída que vislumbro é a criação de um fundo internacional dotado convenientemente que negoceie a passagem da Amazónia a zona internacional protegida, e que custeie um projecto de transição económica à imagem do projecto “Visão 2030” da Arábia Saudita, de forma a compensar o país pela não utilização de um recurso que é seu por direito. Contudo, isso teria sempre de ser feito pela via negocial e com o pleno consentimento do povo e representantes brasileiros, senão poderia sempre ser visto como uma prática neocolonialista.

Esta é uma opção politicamente arriscada e penosa para todos os envolvidos, como tal é de esperar que enquanto a floresta arder e a opinião pública estiver acicatada a temática se mantenha nos principais palcos, com alguma tensão no ar, mas assim que a época das queimadas passar tudo será varrido para debaixo do tapete e nada será feito para impedir que de ano para ano a área protegida diminua constantemente.

Texto de Edgar Almeida

Autor:
5 Setembro, 2019

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