10 livros para te refrescares no Verão

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Ilustração de Shifter

10 livros para te refrescares no Verão

A democracia precisa de quem pare para pensar.

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Sem ordem específica, sem tema definido, sem critérios de exclusão em função do ano de edição, reunimos 10 livros que por um motivo ou outro podem ser boas escolhas.

O Verão é por tradição, mais do que na realidade, uma altura do ano em que nos parece que temos mais tempo livro do que no resto do tempo. Os dias são mais longos, o que ajuda a criar essa ideia e a ideia de que sobra algum tempo ainda diurno depois do trabalho. Para além disso, os fins de semana quase sempre soalheiros convidam a passeios ao ar livre ou a horas a fio sentados em bancos de jardim. Nesses momentos nada melhor do que ter um livro para fazer companhia, ajudar a descansar a cabeça e refrescar algumas ideias, por isso, como vem sendo hábito, deixamos-te algumas sugestões de livros para este Verão.

Sem ordem específica, sem tema definido, sem critérios de exclusão em função do ano de edição, reunimos 10 livros que por um motivo ou outro podem ser boas escolhas. Não nos limitamos às edições deste ano porque os bons livros não têm data, a romances porque a boa literatura não é só ficcional, nem a clássicos porque há tempo e espaço para tudo; damos-te as nossas sugestões sinceras como se tivéssemos de escolher 1 ou 2 livros para recomendar a um amigo.

Na definição desta lista participaram: João Ribeiro, Rita Pinto, Marco Cotas, Jorge Félix Cardoso, David Carvalho e Daniel Hoesen.

Girl in a Band, Kim Gordon

É sem dúvida a peça mais voyeurista possível de toda a arte da ex-vocalista e baixista dos Sonic Youth, mas vale mesmo a pena, sejas ou não fã da banda. Primeiro, porque tem todas as mais valias de uma autobiografia, como a cusquice ou o simples facto de a melhor versão de qualquer história ser sempre a do protagonista. Depois, porque Kim Gordon teve e tem uma das vidas mais fascinantes que tenho memória de ter lido. Ainda que o livro seja sobre o desmoronar dos Sonic Youth, do seu casamento com Thurston Moore, e do sonho indie norte-americano, Kim fala-nos de resiliência e paz de espírito, tudo com uma classe que não dá para descrever num parágrafo. Para ler em duas noites de Verão, inclui ainda com uma das melhores definições de Feminismo que li nos últimos tempos.

Tropic of Cancer, Henry Miller

Esteve proibido nos Estados Unidos até 1961 e só por isso, vale a pena perceberes porquê. Tropic of Cancer revolucionou a literatura da sua época e, como obra de estreia, deixou bem explícito ao que vinha Henry Miller. O livro é um relato autobiográfico do escritor, que chega a Paris depois de abandonar os EUA. Sem dinheiro, o protagonista é apresentado à boémia francesa e redescobre o seu talento em dias e noites de liberdade sem fim.

Miller é conhecido por falar como nenhum outro escritor sobre sexo, e Tropic of Cancer é ainda hoje considerado por muitas livrarias um livro erótico. Entendo o furor e o choque da América puritana de ’34 ao deparar-se com a sua escrita libertária, mas não classificaria o livro como pornográfico. Miller fala sobre sexo (entre MUITOS outros temas), de maneira aberta e até agressiva – especialmente para quem se ofende com calão –, mas a obra tem muito mais de filosófico e irreverente do que de obsceno. Polémicas à parte, Tropic of Cancer foi celebrado pelos maiores intelectuais da época como Samuel Beckett, George Orwell ou T. S. Eliot, e elevado a clássico da literatura americana. A leitura em inglês é difícil mas aconselhada.

The Uninhabitable Earth, David Wallace-Wells

As alterações climáticas não são coisa do futuro. Neste livro podem encontrar descrições aterradoras da forma como, já hoje, temos o nosso planeta profundamente alterado graças à sociedade que construímos. Se não actuarmos, e depressa, e de uma forma informada, e…. são demasiados “se”, mas Wallace-Wells tem esperança. Para quem procura um livro capaz de contar o problema tal qual como ele é, mas sem perder a esperança de uma solução, que terá de ser, necessariamente, coletiva (não, as palhinhas que boicotaste não resolvem o problema).

The Machine Stops, E. M. Forster

“And there were of course the buttons by which she communicated with her friends. The room, though it contained nothing, was in touch with all that she cared for in the world.”

Publicado originalmente em 1928, este pequeno conto de E. M. Forster é uma excelente antevisão dos problemas de uma era em que as comunicações, feitas a velocidades supra-humanas, aproximam perfis e afastam pessoas. A Máquina e a Autoridade que a comanda têm muito a ensinar-nos. Talvez seja altura de parar · para pensar, pelo menos.

The Old Man and the Sea, Ernest Hemingway

Esta é a história de um velho pescador que não consegue pescar. Mais concretamente um velho que está a viver uma maré de azar, que dura há 84 dias. Decidido em mudar a sua sorte o nosso protagonista parte na manhã do 85º dia naquela que viria a ser a sua maior aventura, onde acaba por apanhar o maior peixe de toda a sua vida, e é aqui que as coisas mudam… Na verdade, esta é a história de um velho pescador que vai ser confrontado com a solidão, momentos de confronto pessoal, força de vontade e até delírio. Em O Velho e o Mar (The Old Man and the Sea) somos convidados a navegar por 80 páginas de uma escrita que consegue, ao mesmo tempo, ser intensa e divertida enquanto aborda um tema sério de uma forma simples e fácil de ler.

Pensei em sugerir qualquer livro de Hemingway (este seria o título), mas estamos na fase do paradoxo da sociedade mais conectada de sempre ser formada por um grande conjunto de indivíduos solitários, e por isso, achei que havia um sentido prático na recomendação da leitura d’ O Velho e o Mar.

Pedra de Afiar Livros e Outras Histórias de um Livreiro, Jaime Bulhosa

Desde a sua infância que Jaime Bulhosa cresceu num mundo rodeado por livros, livreiros, leitores, escritores e livrarias. Em Pedra de Afiar Livros e Outras Histórias de um Livreiro, estes assumem o papel de fio condutor que se vai desdobrando em dezenas de histórias, recordações, sarcasmo e humor. Um livro que pode ser lido por todos, mas que vê o seu valor aumentado consoante o gosto pela leitura de cada um.

Aviso: é possível soltar uma gargalhada inesperada em locais públicos, bem como, esqueceres-te que é Verão e tens os teus amigos preocupados por não te verem há dois dias…

What is Art?, Leo Tolstoy

Ora, vou começar por dizer que não sei quão aprazível é o Tolstoy em português, eu tenho o lido em inglês e é um dos livros com o qual tenho tido uma ‘relação complicada’. Poderia ter vos recomendado outros tantos títulos que li (e acabei bem melhores que este) recentemente – boas cenas como o Notes on a Nervous Planet, do Matt Haig, o Economic Science Fictions, do William Davies, ou mesmo o Brief Answers to Big Questions, do amigo Hawking, tudo reflexões 5*.

Mas em vez disso, What is Art?, aquela leitura difícil, daquelas que relês capítulos passados mais que uma vez, que revisitas ideais e interpretações, não fosse ele mandar bitaites em alemão e francês. E é isto, isto mesmo, que me faz voltar a abrir o livro, a procurar uma linha de pensamento que não minha. É entre livros, projectos profissionais ou pessoais e convívios, que reside o Tolstoy da minha vida, intercalado, entre ideais e ‘highdeas’ o que é a arte? O que é a beleza? Qual a verdade do artista? – ou a desenrolar nova semântica, a aprender que culturalmente a Rússia (back in the days) era órfã da palavra beleza, do seu conceito – só uma mulher é bela, Chopin é outra coisa.

De qualquer das formas… acho que perceberam onde quero chegar, se tal como eu vendem ideias, este livro é aquele snack entre refeições, não é sorbet por que não é básico, não limpa o paladar, aguça-o, é aquele açafrão que ninguém pediu para o gin, mas OMG bate!

21 Lessons for the 21st Century, Yuval Harrari

Depois de um estrondoso sucesso com Sapiens, onde Yuval esmiúça as origens e razões que levaram a espécie humana a adquirir o estatuto de Deus dentro do seu ecossistema, o autor vira-se para os desafios que o Homo Sapiens terá de resolver num futuro histórico bastante próximo para se salvar de si mesmo.

O sucesso tecnológico e social, manifestado pelos actuais princípios sofisticados de governação política, que trouxe um nível jamais avistado de pacifismo, segurança e desenvolvimento intelectual às massas, corre perigo por ameaças inerentes a si mesmo. A velocidade vertiginosa que O Algoritmo começa a entender a natureza humana, inalcançada pela espécie ela mesma, aliada a uma segregação ideológica, política e religiosa e de paradigmas de governação gradualmente mais iliberais, traz enormes desafios. A relação entre a Máquina e o Homem e o que realmente separará futuros Super Humanos, com capacidades motoras e intelectuais inigualáveis ao mero comum mortal são tão incertas quanto a certeza de que a nossa espécie conseguirá sobreviver nos mesmos moldes sociais desde o Iluminismo.

Neste livro sucinto, com os vinte e um capítulos estritamente necessários, Yuval apresenta os problemas que, na sua visão, decidirão a base da continuação de Homo Sapiens e, com a sua habitual sapiência histórica, engendra hipotéticas soluções e alinha previsões sobre os seus efeitos permanentes. Um livro que define the Big Picture a não perder.

Immortality, Milan Kundera

Se há romancista contemporâneo com um estilo de escrita com que qualquer um facilmente se relaciona, esse é Milan Kundera. O checo, a viver em França há algumas décadas, desde 1975, tem em A Insustentável Leveza do Ser a sua obra mais reconhecida, mas que está longe de ser a única que vale a pena ler. A Imortalidade (Immortality) foi o livro que se seguiu, editado sete anos depois, e apesar de o fazer num estilo completamente diferente debruça-se sobre temas análogos.

Escreva sobre o que escrever, Kundera escreve sempre sobre o significado da vida e A Imortalidade não é excepção. Neste romance que cruza a história da desconhecida Agnes com estórias sobre Goethe, Bethoven e Hemingway, Kundera escreve sobre situações do quotidiano, revelando interpretações muito mais profundas, mais do que sobre a morte, sobre a forma como durante a vida lidamos com ela – sobre máscaras sociais, a fotografia na sociedade contemporânea, o amor, as amizades e a forma como tudo isso relaciona com o que imaginamos ser o nosso fim ou… a continuação depois do nosso fim.

The Internet Does Not Exist, E-flux Journal

Este pequeno livro, em formato de edição de bolso, é um guia indispensável para a Internet no século XXI. É uma colectânea de ensaios publicados ao longo dos últimos anos na revista E-Flux e oferece-nos a perspectivas de diferentes intelectuais sobre o universo paralelo que é a internet. Desde uma entrevista a Julian Assange até a um ensaio sobre a organização do espaço que é a internet, escrito por uma arquitecta norte-americana, as perspectivas que aqui são apresentadas são quase todas elas disruptivas, inspirando novas visões e ideias. Sendo um livro sobre Internet, é uma espécie de antídoto contra o uso acrítico e insconsciente desta tecnologia, elucidando sobre potenciais problemas políticos, sociais e mesmo legais que permanecem escondido por de baixo da fina camada que é o interface gráfico.

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