Santíssima trindade: contexto, conteúdo e consistência

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Santíssima trindade: contexto, conteúdo e consistência

A democracia precisa de quem pare para pensar.

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Estou a escrever isto com a realidade social media em mente – mas a verdade é que considero que estes 3C se aplicam a tantos aspectos da nossa vida que já deixou de ser online ou offilne, mas que é onlife.

Pai, filho, espírito santo. Tese, antítese, síntese. Camelo, leão, criança. Da religião católica, passando por Hegel e por Nietzsche, a verdade é que a tríade é uma espécie de fórmula que nos ajuda a compreender a realidade – ou parte dela. No âmbito popular é comum ouvirmos que “três é a conta que deus fez”.

No mundo das redes sociais há uma santíssima trindade: contexto, conteúdo e consistência. Chamemos-lhe os 3C. E sim, estou a escrever isto com a realidade social media em mente – mas a verdade é que considero que estes 3C se aplicam a tantos aspectos da nossa vida que já deixou de ser online ou offilne, mas que é onlife.

O conteúdo é rei e quem é a rainha? Ou o outro rei?

Uma das frases mais comuns em eventos relacionados com marketing tem sido esta: “o conteúdo é rei”. Pergunto sempre quem é a rainha pois temo pela vida solitária do conteúdo, ali a existir por si mesmo e sem chão onde assentar o arraial. Quem diz rainha, diz rei, pois não tenho um pensamento heteronormativo nestas coisas dos casais: sejam os casais constituídos por pessoas humanas ou  por conceitos.

Quase de modo imediato consigo visualizar um rei para o conteúdo: o contexto. Confesso que não sei dizer quem é que manda “lá em casa” pois parece-me que um não pode mesmo viver sem o outro. Qualquer  conteúdo, entenda-se, qualquer coisa que digamos ou que partilhemos, exige um contexto para que seja compreendida.

Os contextos exigem que sejamos sensíveis para com os mesmos. Exemplo: as criações do Insónias em Carvão divertem-me, mas como não estou muito atenta ao futebol, confesso que nem sempre as compreendo. Falha-me o contexto para as poder integrar.

Outro exemplo: perante uma tragédia como aquela que se viveu com os incêndios, há uns anos, fazer uma publicação com o sushi oferecido por uma marca com o copy “com a alma a arder” revela uma falta de sensibilidade ao contexto capaz de (Ta-DA!)  incendiar as redes sociais.

Afinal, havia outra: chama-se consistência

Para que aquilo que dizemos seja ouvido e tido em conta, numa comunidade, não basta “fazer um viral” ou ser muito comentado uma única vez. A consistência é aquilo que nos permite ocupar um lugar de respeito na comunidade, seja esta online ou offline. Fazer o primeiro Festival de Ideias Tontas pode ser uma ideia excelente e, como a malta gosta de dizer, disruptiva. Todavia, o Festival começará a ganhar o seu lugar (ao sol) quando houver uma segunda edição, ou até uma terceira.

A consistência vive de dedicação, de resistência à frustração e da disponibilidade para aprender através da tentativa e do erro. Ver que um tweet se tornou viral é giro, pode até trazer-nos visibilidade durante um dia ou dois, mas se não mantivermos uma presença consistente, com contributos permanentes para a comunidade, o viral não terá valido de nada. Longe vai o tempo em que os virais ficavam na memória (sai da frente ó Guedes); neste momento a esperança média de vida de um viral é algo muito efémero, tal como a vida de uma borboleta.

Se tiveste a ideia fantástica de criar o Festival de Ideias Tontas não reduzas a existência do Festival ao dia em que ele acontece: mantém-te presente, cria e/ou recicla conteúdo e vai mantendo a ligação com os teus seguidores. Estes podem ser só meia dúzia de pessoas, mas serão aquelas que vão comprar o bilhete sem conhecer o alinhamento e até vão espalhar a palavra sobre o evento. Mais uma vez: esta postura pode acontecer tanto no online como fora dele.

Uma trindade de quatro

Esta trindade – Conteúdo, Contexto e Consistência – tem lugar numa Comunidade. Comunidade que pode, ao início e durante algum tempo,  traduzir-se apenas em duas pessoas – ou três, para dar continuidade ao esquema trinitário. Os 3C permitem-nos criar, nutrir e manter uma Comunidade. A Comunidade é o chão onde os 3C vão assentar o tal arraial (peço desculpas, mas escrevo isto durante os santos populares) e onde vão receber amor, ódio, sugestões de melhoria, elogios, reclamações e “tudo aquilo a que temos direito”.

Seja online, seja offline, as linhas orientadoras para criar e vincar uma presença junto dos outros passa por apostar no conteúdo (que cative e que seja relevante, acrescentando a valor aos outros), adequado ao contexto e no qual se reconheça consistência (na frequência, na abordagem, no tom genuíno). Não há receitas que funcionem com cada um de vós, pois certamente aquilo que têm para dar (conteúdo) será único, assim como o contexto. E se não for, malta, pensem duas vezes antes de publicar ou de agir: estamos cansados do “mais do mesmo”, não estamos?

Já agora: não sei se existe um Festival de Ideias Tontas. Fica a ideia. Tonta, pois claro.

 

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  • Joana Rita Sousa

    Joana Rita Sousa é filósofa. Trabalha na área da comunicação e da cultura digital. É formadora e consultora, bem como uma série de coisas que ficam melhor em inglês:  digital strategist, community manager, copywriter e ghostwriter. Em Dezembro de 2018 criou o #twitterchatpt - e a vida no twitter, em Portugal, nunca mais foi a mesma. Dizem que é um unicórnio de leads.

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