Olá, eu sou o Jorge Félix Cardoso e esta é a quinta edição do Qu’ouves de Bruxelas, uma newsletter para acompanhar a campanha das Europeias 2019.
O Qu’ouves de Bruxelas é um espaço sensivelmente semanal que olhará para o trabalho do Parlamento, para os vários Estados-Membros, e para a relação da União com o Mundo, tentando contribuir para uma discussão informada e um voto esclarecido no dia 26 de Maio de 2019, data em que esta newsletter terminará.
O trabalho do Parlamento e das instituições
UE e Japão confirmam que sushi e wurst vão bem à mesma mesa, e podem coexistir sem arroz chau chau nem Big Mac. A cimeira desta semana, tal como anunciado na última Qu’ouves, foi um sucesso, com o reafirmar de um mundo aberto e global, e tónica no livre comércio e no multilateralismo. Abe pediu ainda que as partes se entendam para não haver um No Deal Brexit.
A Comissão divulgou a sua apreciação sobre o estado da Justiça na União (spoiler: não está grande coisa). A Roménia, que detém a presidência do Conselho, continua sob vigilância.
Estando o Parlamento em “hibernação” eleitoral, fiquem com os melhores momentos de 2014-2019.
Macron, uma das esperanças dos defensores de uma União aberta e defensora dos seus valores, deu esta semana um tiro no pé, pondo em causa um dos marcos da UE: Schengen, o espaço de livre circulação sem controlos fronteiriços. Disse também que o clima deveria ser outra das prioridades da União.
A política externa da União Europeia não para com as eleições, como não poderia parar. Por isso mesmo, aqui deixo um artigo sobre ela, que acaba por explicar a frase que se segue. Marcelo está na China a confraternizar com um “rival sistémico” da UE, segundo o último relatório da Comissão. Dá que falar, não? Eh.. não. Continuamos a ignorar olimpicamente a política externa da UE e a relação com as políticas externas nacionais. O absurdo da semana foram declarações do Ministro da Economia alemão sobre a entrada da UE, em grupo, na Belt and Road Initiative chinesa, prontamente desmentidas pela própria UE. A The Economist tenta ajudar.
Por cá, foi 25 de Abril. E a União talvez precise de um.
Um quem é quem europeu?
Hoje, algo diferente. A Comissão é um bicho cheio de gentes diversas e desconhecidas. A DG Trade, responsável pela política comercial (uma das áreas em que a Comissão tem mais poder), acaba de ser reconduzido no cargo. É Jean-Luc Demarty, um homem que serve para abrilhantar um jantar com um custo nas dezenas de libras. Tem nas suas mãos decisões que mudam o mundo – literalmente. No entanto, tendo procurado bastante, tudo o que encontrei foi este perfil, do tempo em que chefiava a política agrícola. Não era mal pensado conhecer melhor os chefes da Comissão…
Os Estados-Membros e as eleições
Como habitual, uma sondagem geral:
Em Portugal, o desprezo dos líderes e dos meios de comunicação traduz-se nesta vergonha: apenas 3% dos jovens dizem que é “extremamente provável” a sua ida às urnas, e 61% revelam não terem interesse. Causa ou consequência, pouco importa. Continuamos a perpetuar um ciclo em que políticos sem ideias e comunicação social que não as procura alimenta com polémicas um eleitorado que prefere o conforto da crítica no sofá. Dias negros para a Democracia.
Ponto positivo: parece que é esta semana que o PSD lança o seu programa, o último dos grandes partidos a fazê-lo. Todos os programas e manifestos disponíveis aqui.
Na vizinha Espanha, a recta final da campanha eleitoral foi de confirmação do sucesso das tácitas usadas por Trump, Bolsonaro e restantes amigos. O WhatsApp parece ter sido peça chave na subida do Vox, partido de extrema-direita e nódoa na toalha ibérica anti-extremismo.
Um artigo sobre o líder da Frente Nacional para as europeias, um jovem de 23 anos a bater-se pelas bandeiras clássicas da extrema-direita francesa. Geração Erasmus? Qual?
Weber, líder na corrida a presidente da Comissão, comprometeu-se a bloquear o Nord Stream 2, um gasoduto que une a Rússia à Alemanha e que tem estado sob forte contestação. A fazê-lo, estaria a ter uma posição contrária à do seu partido de origem.
Juncker deixou um apoio bem explícito a Merkel para um qualquer alto cargo na União (presidente da Comissão? Do Conselho?), e ainda lhe chamou “adorável obra de arte”.
Na Ucrânia, vizinha da UE, as eleições deram a presidência a um ator desconhecido cujo grande feito na vida foi… fazer o papel de Presidente. O Politico deixa seis lições. Os líderes europeus, para acautelar qualquer eventualidade, já o convidaram para as suas capitais.
Não esquecer que a União é muuuuuuuuito grande. Estende-se por todos os continentes. Este artigo conta-vos quais os pontos mais estranhos onde há votos a serem contados.
A próxima semana
A partir de hoje está disponível uma ferramenta para ajudar os europeus a descobrir o partido que melhor os representa.
Hoje haverá debate entre os spitzenkandidat (entre todos, excepto Weber, que faltou para ir a uma cerimónia de homenagem de um amigo na Baviera).
A campanha deve finalmente arrancar. Falta menos de um mês. É hora de ter respostas.
Por fim, umas leituras mais longas
Ando a dedicar umas linhas ao futuro da União. Podem ficar com um artigo aqui, sobre demografia e urbanização, e outro aqui, mais geral (este último vai ter segunda parte).
A Irlanda é o chico-esperto da UE. Depois de ser “predador” fiscal, competindo com todos os outros Estados Membros numa corrida ao fundo do poço, faz agora o mesmo com questões de privacidade online.
E, se estamos a falar de privacidade, faz sentido lembrar o magnífico trabalho do New York Times.
“The European Press Corps cannot cover the EU”. Obrigatório.
E uma entrevista com todos os candidatos a presidentes da Comissão? Uma mesmo bem feita, com perguntas rápidas sobre questões concretas da UE? Aqui a têm.
Uma TED Talk sobre o poder do Facebook e a interferência em eleições, feita de forma relativamente impune.
(Nota: esta é a quinta edição de Qu’ouves de Bruxelas. Se gostaram, subscrevam e partilhem com os vossos contactos. E, no dia 26 de Maio, votem.)
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