Fumaça “dá gás” a mini-série sobre os furos em Aljubarrota e Bajouca

Fumaça “dá gás” a mini-série sobre os furos em Aljubarrota e Bajouca

12 Abril, 2019 /

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“Queremos fazer jornalismo de investigação, bem-feito, com tempo e que oiça as pessoas. Tenho a certeza de que mais ninguém foi a Aljubarrota e à Bajouca ouvir quem nós ouvimos, da forma como o fizemos.”

Uma mini-série de quatro episódios, feita com tempo, e com áudio, fotos, mapas e links (para quem quiser aprofundar o assunto), é o que o Fumaça apresentará no próximo dia 22 de Abril sobre os negócios de gás natural em Aljubarrota e Bajouca. “É uma série jornalística de factos, mas com emoção e apresentada de uma forma cativante. O Bernardo Afonso compôs, tocou e gravou toda a banda sonora original propositadamente para os quatro episódios”, refere Pedro Santos, director do Fumaça.

Dá-lhe Gás revela o acordo entre a Australis Oil & Gas e o Governo português, através do qual a petrolífera australiana passou a deter, durante oito anos (prorrogáveis por mais dois), direitos de prospecção, pesquisa, desenvolvimento e produção de petróleo e gás em cerca de 2 510 km2 de subsolo nacional. A série Dá-lhe Gás aborda esse negócio e as vidas de quem já foi ou vai ser afectado pelos dois furos que a petrolífera quer fazer, em Aljubarrota (Alcobaça) e na Bajouca (Leiria), até ao final deste ano. “Contamos como foram comprados os terrenos, quem os vendeu, o que a Australis tem planeado, como têm reagido as populações, que só no ano passado perceberam que queriam furar nas suas terras, e como se mobilizam os activistas”, explica uma newsletter recente do Fumaça.

O Fumaça começou em 2016. Inconformado com o jornalismo feito em Portugal, um grupo de amigos, de Lisboa, encontrou no podcast uma forma de contar histórias que achava meritórias de serem contadas. Convidando activistas, políticos, humoristas e outras individualidades, mais ou menos anónimas, usaram estas vozes para esmiuçar vértices da sociedade pouco presentes nos media tradicionais. No ano passado, depois de ter ganho a primeira de duas bolsas da Open Society Foundations e de se ter apresentado como um órgão de comunicação social, o Fumaça começou a explorar conteúdos além do seu recorrente podcast de entrevistas. Palestina: Histórias de Um País Ocupado, uma mini-série de cinco episódios-áudio, foi o primeiro produto a ser apresentado, com relatos de resistência de uma Palestina ocupada recolhidos entre Ramallah, Belém, Hebron e Jerusalém.

Agora, no dia 22 de Abril, quem apoia os 147 apoiantes do Fumaça no Patreon irá receber os quatro episódios desta nova série de uma só assentada; os restantes terão de esperar até 14 de Maio para ter acesso à série completa. Por agora, estão disponíveis as descrições de cada um dos episódios numa página especialmente montada para este conteúdo, juntamente com algumas ilustrações, sugerindo a consistência do que aí vem – com Palestina: Histórias de Um País Ocupado não foi preparado um embrulho tão bonito.

“A diferença entre a forma como estamos a apresentar esta série e a da Palestina são os meios que temos. Hoje somos mais pessoas na equipa – juntaram-se a Joana Baptista (design e multimédia), o Mo Tafech (marketing) e a Margarida David Cardoso (jornalista) –, o que nos permite ter mais tempo para pensar e trabalhar as histórias. No Fumaça damo-nos a liberdade de experimentar, testar formatos, nunca temos uma formula fechada para nada”, explica Pedro Santos. “No site teremos a versão escrita do episódio, com fotos, mapas e as dezenas de links que suportam muita da nossa investigação e permitem às pessoas verificar as informações que damos, ler estudos, aprofundar o assunto.”

“Fazer esta série exigiu uma quantidade absurda de tempo e de recursos. Sem as bolsas de apoio ao jornalismo independente que vencemos e sem a ajuda de quem nos apoia todos os meses isto não seria possível”, contextualiza o director do Fumaça. “Queremos fazer jornalismo de investigação, bem-feito, com tempo e que oiça as pessoas. Tenho a certeza de que mais ninguém foi a Aljubarrota e à Bajouca ouvir quem nós ouvimos, da forma como o fizemos. Que tem acompanhado o trabalho dos activistas, como temos feito. É essa a marca que queremos deixar.”

O Fumaça diz que foram meses de investigação, cerca de um ano. Um trabalho intercalado com o curso diário do projecto, claro, mas que, como tudo o que equipa quer fazer, teve tempo. Como se lê na newsletter: “Demorámos o que foi preciso até sentirmos que naqueles minutos estão os factos e as emoções que queríamos que ouvissem.“

“Os temas ambientais e relacionados com as alterações climáticas e o aquecimento global são uma preocupação nossa desde sempre”, refere ao Shifter Pedro. “Foi neste contexto que percebemos que pouca gente parecia ter conhecimento de que, além das concessões no mar do Alentejo/Algarve, havia concessões em terra, numa vasta área da zona centro Oeste do país. O que nos chamou a atenção foi a demora da Agência Portuguesa do Ambiente em divulgar um parecer e um relatório de consulta pública por causa de um furo de gás em Aljubarrota. Como eu sou da região, decidimos que tínhamos de ir lá fazer reportagem, perceber se alguém já sabia onde se ia fazer o furo, se o terreno tinha sido vendido, se as pessoas de Aljubarrota sabiam o que se ia passar. No meio disto, percebemos que além de Aljubarrota, a Australis também queria furar na Bajouca. Então, fomos lá também.”

Dá-lhe Gás sai dia 22 de Abril para quem assina o Fumaça e até 14 de Maio para todos. Podes saber mais sobre a mini-série aqui.

Autor:
12 Abril, 2019

Jornalista no Shifter. Escreve sobre a transição das cidades e a digitalização da sociedade. Co-fundador do projecto. Twitter: @mruiandre

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