Se por exercício de compreensão fossemos convidados a sistematizar a evolução da tecnologia móvel poderíamos dividir os avanços em duas grandes faixas: as inovações discretas mas surpreendentes e as previsíveis mas fascinantes. No segundo grande grupo, colocaríamos, por exemplo, o aumento exponencial no número de câmaras ou a capacidade de dobrar um equipamento até aqui sólido, já para o primeiro a selecção requeria alguma pesquisa. A verdade é que as inovações que escondem maiores mistérios tecnológicos e que, muitas vezes, se relacionam com alterações comportamentais, potencialmente induzido outras, nem sempre têm tempo de antena.
Uma das áreas que nos últimos tempos têm dominado a pesquisa e onde se vão assistido a alguns avanços impressionantes é a do armazenamento digital de ficheiros. Esta segunda-feira, na maior feira de tecnologia móvel do mundo, o MWC, em Barcelona, foi anunciado mais um passo relevante. Depois de a Samsung anunciar um Galaxy S10+ com uma capacidade interna de 1TB, foi a vez de duas fabricantes de cartões de memória, a Micron e a SanDisk, revelarem um novo recorde no armazenamento em microSD: 1 TB em microSD.
Se o último milestone de 400 GB de armazenamento num pequeno rectângulo de 15 mm × 11 mm × 1 mm já era notório, a nova capacidade vem abrir ainda mais os horizontes da portabilidade de ficheiros, podendo redefinir a forma como olhamos para os nossos smartphones ou para outros periféricos como discos externos. De notar que, enquanto que em armazenamento microSD, o máximo era 400 GB, em cartões SD – que são de maiores dimensões – já existiam opções de 512 GB. Actualmente, com a tecnologia cada vez mais pequena e versátil, as entradas para cartões microSD em equipamentos electrónicos, desde smartphones a câmaras, têm-se tornado mais comum que as para cartões SD.
Como se conseguem cartões tão pequenos?
Além de os microSD de 1 TB representarem uma mudança para o consumidor, este tipo de inovação acarreta mudanças para o sector tecnológico. É que a marca do 1 TB não é conseguida simplesmente por investimento superior ou materiais mais refinados, sendo resultado de uma evolução da estrutura do cartão. O desafio de maximizar o espaço de armazenamento numa unidade física tão pequena leva as equipas de desenvolvimento a tentar transístores mais pequenos e a organizá-los no interior do cartão de uma forma diferente, em camadas.
Por exemplo, no cartão de 400 GB da SanDisk, apresentado em 2017, cada transístor tinha uma dimensão de cerca de 10 nanometros (nm), estando dispostos em 25 camadas de 16 GB cada. Nos exemplares agora apresentados, é no número de camadas que se detecta uma maior diferença; são 96 camadas, o que, atendendo ao facto de se tratar da mesma unidade física de espaço, implica que os transístores tenham sido ainda mais reduzidos – estima-se que por volta dos 5 nm.
Estes avanços na electrónica e armazenamento digital é possível graças ao desenvolvimento incremental de ideias e princípios como a arquitectura do espaço a que se chama 3D NAND — o empilhamento de camadas para aumentar a densidade de memória. De resto, a Samsung tinha sido a primeira empresa a mostrar trabalho feito neste âmbito, aquando do anúncio e lançamento do seu potente Galaxy S10+ com 1 TB de espaço interno.
Apesar de parecer um detalhe técnico e com muito pouco sex appeal, a passagem de telemóveis com armazenamento relativamente pequeno como 32, 64 ou 128 GB para equipamentos com capacidade superior à de muitos computadores pode mudar a forma onde guardamos informações e ficheiros, aproximando ainda mais os smartphones daqueles que eram os propósitos únicos do computador de secretária. Para efeitos comparativos, o primeiro iPhone, lançado em 2007, tinha capacidade mínima de 4 GB e existiam modelos de 8 e 16 GB. Para além disso, o potente cartão permite acompanhar o ritmo de outras áreas, respondendo com eficiência a necessidades de espaço para, por exemplo, gravar imagens em qualidade 4K.
Um ponto importante de mencionar é que a nova capacidade do microSD é obtida sem sacrificar velocidade de transferência. Os cartões anunciados na MWC (mas que só devem estar disponíveis no segundo trimestre de 2019) apresentam entre 100 e 160 MB/s de velocidade de leitura e entre 90 a 95 MB/s de velocidade de escrita (reprodução vs gravação de ficheiros, respectivamente).
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