Um ano depois de Sophia ter passado pelo palco principal do Web Summit ao lado de Einstein, também um robô, a “vida” da esta robô-cidadão mudou ligeiramente. É que Sophia tornou-se a cara da Altice em Portugal, contracenando com Cristiano Ronaldo nas campanhas publicitárias do MEO. E não só: Sophia também ganhou pernas e ficou mais inteligente.
“Devem ter visto em vídeos que a Sophia agora tem pernas que andam mas não vamos mostrá-las hoje, vamos mostrar algumas actualizações ao processo de pensamento dela e alguns do Han também”, disse Ben Goertzel, o cientista de dados da SingularityNET, responsável pelo desenvolvimento da Sophia e de Han, o seu novo companheiro. No palco do Web Summit, os dois robôs apresentaram-se à audiência e até desenvolveram uma breve conversa.
Contudo, apesar de aparentarem sê-lo, nenhum destes robôs é inteligente. A inteligência artificial que usam está guardada na nuvem da SingularityNET em formato blockchain. Sophia e Han limitam-se a ir buscar a informação para parecerem inteligentes a essa base de dados em constante mutação e, com a ajuda de um conjunto de motores e sensores, conseguem imitar expressões humanas e entender o local onde estão. É, por isso, que Sophia é capaz de fazer expressões de alegria, tristeza ou zanga, ou de reconhecer num nível muito elementar como é que Ben Goertzel se está a sentir. “Estamos sempre a melhorar a sua palete de expressões faciais, algumas são criadas por artistas humanos, outras são aprendidas por modelos de rede neurais que são treinados com rostos humanos”, comentou o engenheiro.
Um cérebro digital na nuvem e em blockchain
No Web Summit também vimos Sophia a ir buscar informação à web para responder a perguntas, como o fazem as assistentes pessoais que encontramos no smartphone (Siri, Google Assistant…); ou a compreender onde estava Ben e a olhar para ele quando este o pedia. Enquanto que “Sophia já é uma estrela”, o Han nem por isso, sendo, segundo Ben, usado essencialmente para pequenas experiências de inteligência artificial, como a análise dos padrões sintácticos e semânticos da língua para misturar palavras comuns e fabricar frases sem sentido para nós. Qual o sentido prático disto? Provavelmente nenhum, mas nem Ben Goertzel nem a sua SingularityNET querem construir robôs. Estes servem apenas de ‘montra mediática’ – permitem testar algumas tecnologias, claro, mas são sobretudo uma forma de a SingularityNET chamar a atenção para o ‘grande produto’: criar um enorme e sofisticado cérebro digital.
Por outras palavras, a inteligência artificial (IA) que dá vida a Sophia e Han está guardada na nuvem, numa rede em blockchain chamada SingularityNET – e é por isso que, sem internet, nem Sophia nem Han são capazes de falar ou de fazer alguma coisa. Essa IA vai estar sempre a ser actualizada, à medida que os dois robôs, outros robôs, softwares e dispositivos que a usem recolham nova informação e a partilhem na rede. No fundo, o intuito é que a SingularityNET “se torne uma espécie de organismo digital biológico, uma sociedade e economia de mentes, onde múltiplas IA’s estão a falar umas com as outras na rede, a partilhar informação e a aprender em conjunto”.
Como é tudo em blockchain, a SingularityNET é de todos mas não é de ninguém – significa que será uma plataforma que qualquer um poderá usar de forma livre e gratuita, e para a qual poderá contribuir. Uma versão alpha da SingularityNET foi lançado em Dezembro de 2017 e a versão beta chegará em Fevereiro de 2019, um lançamento que Ben acredita que “será uma coisa em grande”. “Temos que ir para além da inteligência artificial que outras empresas e grupos de programadores estão a criar” e para o engenheiro isso passa por criar algo comunitário.
A SingularityNET enquanto rede é apoiada por uma fundação, mas será criado o Singularity Studio, que usará essa plataforma de inteligência artificial para criar produtos empresariais e tecnológicos com aplicações financeiras, biológicas, etc. A Singularity Studio será, assim, uma forma de Ben Goertzel fazer dinheiro directamente.
Cidadania para inteligência artificial em Malta?
Antes de chegar a Portugal, Ben Goertzel e a sua equipa da SingularityNET estiveram em Malta a negociar com o Governo daquele país a criação de um estatuto de cidadania para robôs ou softwares de inteligência artificial. “A Sophia passou a ser uma cidadã na Arábia Saudita no ano passado, o que é interessante“, lembrou o responsável, revelando estar a perceber com o executivo maltês para “definir exactamente o que significa um robôs como estes ou uma IA sem um corpo ser um cidadão e que teste poderia ser dado a um IA para perceber se percebeu as leis de um pais e as suas aplicações”.
Em conferência de imprensa, depois da passagem pelo palco principal do Web Summit, Ben comentou se devemos ter enquanto Humanidade da inteligência artificial. “Diria que não deveremos ter medo, mas devemos estar atentos, conscientes de que há aqui uma incerteza”, respondeu a um jornalista. “Há uma incerteza em criar inteligência artificial mais inteligente que os seres humanos, claro. E não podemos dizer com certeza o que vai acontecer. Pessoalmente, acredito que se criarmos IA’s da forma correcta, se as ensinarmos a ser bons e compassivos com as pessoas em situações reais, então eventualmente, quando se tornarem mais inteligentes do que nós, vão manter estas aprendizagens com eles. É como criar um filho.”
O engenheiro revelou ainda que um dos próximos passos com a Sophia é produzi-la em massa, já estando a trabalhar com uma fábrica no sul da China. Existem já 16 Sophia’s criadas e prontas em laboratório para serem ensinadas.
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