O ‘Trap Pimba’ de Dois Brancos & Um Preto

O ‘Trap Pimba’ de Dois Brancos & Um Preto

16 Abril, 2017 /
trap pimba

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A "verdadeira" crítica musical a um dos álbuns deste ano.

Quando entramos num museu e olhamos para as pinturas expostas, quantas vezes pensamos sobre o pincel usado pelo artista? A primeira vez que entrei nesta galeria, composta por 11 obras de carácter (vá, ligeiramente) dadaísta, confesso que também não o fiz. Seguramente inspirados pelo aroma e sensações do famoso Ice Tea setubalense, três youtubers portugueses, Conguito, Nurb e Pakistan, juntaram-se para fazer um projecto musical apelidado de – pasme-se – “Dois Brancos & Um Preto”.

Trap Pimba é o primeiro álbum do trio e confirma as expectativas deixadas pelo primeiro single. “Calhambeque” conta com a participação especial da conceituada socialite Lili Caneças, que, embora amplamente reconhecida como um dos nomes mais influentes do movimento Jet Set, estreia-se com esta participação no Hip Hop contemporâneo. Será uma tentativa de captar novos sobrinhos para o movimento Socialite? É, com certeza, uma ousadia por parte da artista que merece o nosso aplauso.

O álbum inicia-se com a faixa “Pimba”. Um tema onde percebemos a dedicação e ligação do trio ao público feminino, em contraste com uma preocupação constante com o Malhão. Ao longo da faixa, os MC’s Nurb e Conguito levantam diversas questões sobre o contexto familiar e o estilo de vida deste ícone do cancioneiro nacional.

Segue-se “Bacalhau”, um misto de cheiros e sensações em torno da dispensa da Maria. Uma união retratada numa faixa onde química e gastronomia são tópicos em discussão, algo recorrente ao longo do disco. A faixa “Pitéu” é, aliás, outro exemplo disso. Nesta é discutida uma alimentação sem complexos, pontuada com sugestões alimentares à Joana e à Teresa. Há também espaço para uma viagem pelas tradições, na qual as degustações típicas do magusto se elevam ao estatuto de dádiva.

“Amores”, “Sede” e “Criança” são as faixas onde são abordados os temas de cariz amoroso e sentimental. Nelas fala-se de alguns problemas ligados às relações de paixão e familiares mas também do profícuo amor e desejo que mantêm pelas mulheres da sua vida. “Calhambeque” é a música responsável pela entrada Lili Caneças no mundo do Hip Hop actual. Com um flow e delicadeza de excelência, é a única participação exterior neste álbum. O videoclipe para o single foi realizado por Sakê, também youtuber.

Num regresso à infância e às origens, surgem as faixas “Kabritinha” e “Sonhos”.  Com um tom nostálgico e recorrendo a uma lírica cinematográfica, transportam-nos para uma espécie de universo nostálgico (mas em ácidos). Se na primeira é relatada a importância de um bovino no crescimento pessoal de um indivíduo, a segunda é a transmissão audaz e real das dificuldades inerentes à vida de um artista reconhecido e aclamado.

Em “Paki” é o produtor que assume o protagonismo. Por fim, “Sai” – um desabafo de Nurb sobre o terminar de uma relação sustentada pelos seus sacrifícios, acompanhado por Conguito, ora em auto tune, ora num tom bastante assertivo e directo, numa sequência de punchlines sem resposta possível, capazes de incendiar as mentes do mais sensíveis.

Não há outro grupo assim no universo do Hip Hop contemporâneo. Dois enormes e talentosos MC’s e um poderoso produtor que juntos conseguem não se anular, tornando-se ainda maiores com uma sofisticação urbana única e autenticidade características da margem sul.

Pakistan apresenta-se como um produtor de mão cheia, dotado de uma sofisticação na gestão e adequação dos seus beatsOs instrumentais são potentes e sonantes, capazes de reflectir o sentido de cumprimento das obrigações diárias ou o desfrutar de uma tarde a colher frutos – como nêsperas ou laranjas – e dar uma trinca gostosa. Óptimo para ouvir durante um pôr-do-sol na Serra da Arrábida, enquanto se bebe uma cerveja ou sob o efeito de “incenso marroquino”, numa gélida noite em Amesterdão, de olhos postos no mar e em tudo o que nele não se vê para além de azul ou negro, se for de noite.

Trap Pimba é o primeiro álbum de estúdio de Dois Brancos & Um Preto. Editado pela TOCA RECORDS, vai ser mostrado nas maiores cidades do país na digressão “Gangsta Pimba Tour”. Será um álbum certamente bem recebido pelo público e crítica musical. É uma estreia vigorosa e o confirmar da ascensão às estrelas deste trio. Dia 16 de Abril vai com certeza ser recordado como o dia em que Dois Brancos & Um Preto abriram um novo capítulo no Trap português.

Podem fazer download gratuito de Trap Pimba aqui.

(Este artigo foi escrito respeitando o espírito satírico do projecto.)

Foto: In-visível

Autor:
16 Abril, 2017

93 til' infinity

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