‘A Herdade’ estreou nas salas de cinema de Portugal na passada quinta-feira, dia 19, mas já anda a dar cartadas pelo mundo fora há algum tempo.
A realização é de Tiago Guedes, o argumento partilhado entre este, o escritor Rui Cardoso Martins e o guionista francês Gilles Taurand. Com Albano Jerónimo a desempenhar o papel de protagonista, João Fernandes “um homem carismático, daqueles maiores do que a vida” e com a qualidade das pessoas que fizeram parte deste projeto a expandir-se por todo o elenco com atores donos de um talento reconhecido do público português como Sandra Faleiro, Miguel Borges, Ana Vilela da Costa, Victória Guerra, entre outros.
A Herdade, ou The Domain como por lá fora lhe chamam, é a história de uma família portuguesa dona de um dos maiores latifundiários da Europa e desenrola-se durante a segunda metade do século XX. O país passa por um momento histórico de grandes mudanças e impacto naquilo que era a vida dos portugueses com aquela que ficou conhecida como a Revolução dos Cravos de 25 de Abril de 1974, pondo assim fim ao Estado Novo e dando inicio a uma viragem no paradigma nacional, que passa a ter uma nova conjectura política, económica e social, afetando de forma profunda a vida dos seus cidadãos, a maioria dir-se-ia para uma melhor vida mas não seria esse o caso desta família – o que por si só revela um ponto de vista interessante e poucas vezes abordado quando se fala neste novo Portugal.
A Herdade é um filme onde, à medida que o tempo passa desenvolve as suas personagens e todo o ambiente exterior onde estas se enquadram, aprofundando a complexidade humana e social sem que, com isso, perca a emoção e energia cinematográfica necessária para deixar o espectador de “olhos colados” ao ecrã.
“Ambos, o homem e a terra, começam grandiosos, imperiais, mas com o decorrer dos eventos vão revelando as imperfeições, as zonas cinzentas, e tanto um como o outro se começam a desmoronar.”, explica Tiago Guedes na Nota de Intenções, que continua dizendo “Um filme de personagens, de atores, de interpretações fortes, da grandeza das paisagens que os envolvem e das consequências dos segredos que transportam. As heranças que nos deixam e as heranças que deixamos aos outros. “
Neste momento o filme encontra-se numa fase de recolha dos frutos plantados e pode-se dizer que a colheita tem sido bastante produtiva, com um especial destaque para os pedidos de exportação.
A Herdade teve a sua estreia mundial no Festival de Cinema de Veneza, onde estava nomeada para o Leão de Ouro – galardão máximo deste festival -, e que acabou por ser ganho por um dos filmes mais esperados do ano, Joker, de Todd Phillips. Depois de Veneza, agarrou nas malas e viajou para a sua próxima exibição nos TIFF – Toronto International Film Festival.
Em Veneza acabou por ganhar o Prémio Bisato d’Oro para Melhor Realização, atribuído por um júri da crítica independente, presente no festival.
Para perceber a importância que este tipo de prémios pode ter, a boa imagem deixada em Veneza fez com que o filme recebesse críticas positivas – e consequentemente visibilidade -, um pouco por todos os meios de comunicação especialistas na indústria: The Hollywood Reporter, Variety, Screen International, CineVue, Quelle Movies, etc.
Esta vitória teve direito a um texto de congratulação no site da Presidência da república onde se pode ler: “Épico intimista, entre o melodrama e o imaginário do western tardio, filme em diálogo com algum cinema clássico e moderno, nomeadamente o italiano, A Herdade é uma história do Portugal contemporâneo contada a partir das vicissitudes de uma família de proprietário rurais do sul do país”, afirmou o Presidente na mensagem de felicitações.
A consagração da qualidade deste filme dá-se quando A Herdade se torna o filme escolhido pelos membros da Academia Portuguesa de Cinema (APC) como representante de Portugal nos Óscares 2020, na categoria Melhor Filme Internacional e nos Prémios Goya, na categoria de melhor Filme Ibero-Americano.
Resta-nos esperar para saber quem vai ser o vencedor deste prémio, mas, para já, sabemos quem é o grande vencedor no meio de tudo isto e esse… somos todos nós – o público!