10 Anos é Muito Tempo: The XX num Verão Quente

10 Anos é Muito Tempo: The XX num Verão Quente

14 Agosto, 2019 /

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xx é editado no pico do verão londrino, mas à imagem da capital inglesa, não deixa entrar muita luz.

Há coisa de um mês, recordámos duas das três mais aclamadas estreias de 2009. Faltava o homónimo dos The XX, editado em plena silly season, altura de marasmo não só discográfico, mas quase total. xx é editado no pico do verão londrino, mas à imagem da capital inglesa, não deixa entrar muita luz. Na altura pré-álbum, o CV dos quatro londrinos eram compostos por versões nebulosas de clássicos r&b, hábito que ainda hoje mantêm. A versão limitada de xx pela Rough Trade incluia três: “Do You Mind?” de Kyla, “Hot Like Fire” de Aaliyah e “Teardrops” de Womack & Womack. E isto leva-nos ao ponto fulcral deste texto: a influência que esse r&b, no geral, e Burial, no particular, poderão ter tido nestas 11 canções. “Beyoncé é a mais entusiasmante performer dos nossos tempos” terão concluído antes de se tornarem na mais badalada nova banda de 2009.

Para começar com o mais aborrecido, eis os factos: os xx são de Londres e estudaram na Elliott School, que tem como ex-estudantes honorários os Hot Chip, Four Tet e… Burial. Se isso não interessa grande coisa na hora de apontar influências e caminhos, repescamos Untrue, do produtor londrino. A forma como Burial manipula também ele clássicos r&b, de Usher a… Beyoncé, de Christina Aguilera a D’Angelo e… Aaliyah, com resultados tão simples e surpreendentemente emocionais é uma das maiores e mais belas proezas de um tempo em que já não se inventa nada, mas em que se manipulam arquivos com mestria. Um exemplo: em “Archangel”, pega numa das canções mais melosas (discutível, bem sei) deste século (“One Wish” de Ray J) e transforma-a em algo negro, mas tocante e completamente novo.

Ora, se Burial partiu da luz para a escuridão e criou a banda sonora perfeita para uma Londres by night, os xx partiram de um negro que vai da roupa à expressão facial dos quatro elementos (parece-nos mais timidez que pose) e que inevitavelmente acaba nas canções que a imprensa chegou a insinuar serem sobre a vida sexual dos quatro elementos. Lá está a influência r&b a vir ao de cima. Mas importa esclarecer que as letras não são assim tão explicitas e isto no fundo parecem ser canções sobre intimidade e as emoções que daí advêm. E assim, carregados de mistério (outra cartada que Burial leva ao extremo), mas com um som surpreendentemente transversal que chega aos alternativos, ao mainstream e a celebridades como Rihanna que samplou “Intro”, eventualmente a canção mais icónica da banda.

E foi assim que uma banda quase ausente de carisma, com uma simplicidade que vai do som até à capa, que fez os jornalistas gastar as chatas comparações com os Young Marble Giants e o uso do termo “minimalismo” chegou ao topo das listas de melhores do ano e encheu salas e festivais.

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Autor:
14 Agosto, 2019

O Pedro Arnaut recua uma década no ano em que estamos para recordar músicas, discos e bandas que andavam por aí a rodar nessa altura. Porque 10 anos é muito tempo.

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