Por aqui já nos fartámos de escrever sobre internet e sobre como, nos últimos anos, a rede das redes tem evoluído de uma forma exponencial em serviços de aplicações. A World Wide Web é a versão mais conhecida do universo de conexão digital maior que completa “a internet” mas nem mesmo sobre esta fracção conseguimos ter uma visão clara. Em parte, isto deve-se à arquitectura de base da internet e à forma como a comercialização do acesso ao público à rede foi acompanhada por uma urbanização do espaço digital. As moradas – endereços – indecifráveis tornaram-se endereços legíveis, as aplicações mais interessantes à distância de um clique e, com toda esta evolução, o submundo das conexões que formam a gigante malha que é a internet foi fugindo da vista, ficando imersa no manancial de artefactos que surgiram à superfície.
Hoje em dia já poucos pensamos que a sustentar as conexões digitais entre partes opostas do mundo existem cabos gigantes que atravessam oceanos, nem tão pouco como circulam afinal todas as informações online: em que polos se concentram ou se dispersam, onde se acumulam conexões e quais os pontos finais de uma rede que parece sem fim. Foi sobre este segundo prisma de observação do espaço digital que nasceu há 17 anos o The Opte Project, que em 2021 voltou a ser actualizado.
Criado em 2003 por Barret Lyon, o The Opte Project pretende ser uma visualização tão assertiva quanto possível da imensidão de redes que compõem a rede-mãe que é a Internet no geral. Não sendo o primeiro projecto do género, é um dos que continua activos e em actualização, permitindo uma visualização recorrente dos dados. 2003, 2010, 2015 e, agora, 2021, marcaram os anos em que o projecto se actualizou renovando a imagem global da Internet. Para os criadores o intuito é permitir que o mapa sirva de ferramenta de ensino e aprendizagem sobre a Internet, mas também de investigação. Como tal, os dados e visualizações estão disponíveis no site do projecto sob licença Creative Commons BY-NC o que significa que podem ser usados, mediante atribuição dos autores, para qualquer fim que não seja comercial.
As capturas do The Opte Project, em vídeos que percorrem a história da Internet desde 1997 até a um dos pontos referidos, são um espetáculo alucinante em que pequenos pontos se ligam e desligam, concentram e dispersam, numa coreografia que nos parece quase natural ou orgânica. As relações que o projecto revela só se observam no detalhe entre ligações, ou na captura de padrões que permitem perceber certas nuances do desenrolar da história – ou de histórias em particular. Exemplo dessas observações são a análise às ligações ligadas ao Departamento de Defesa dos Estados Unidos da América, ou ao Shutdown de Internet no Irão em 2019. Todos os mapas seguem uma legenda cromática que indica em que zona do globo está registado determinado nódulo da rede – para isso o projecto segue a divisão das áreas de registo regional de internet. No caso europeu, por exemplo, é o Réseaux IP Europééns Network Coordination Centre que serve não só a Europa como a Ásia Central, Rússia e Ásia Orienta. Sobre o esquema cromático aplica-se depois uma leitura à densidade de pontos que se traduz visualmente numa presença mais ou menos saturada da cor e que indica o maior ou menor número de conexões em redor de um mesmo ponto.
O mapa global, e da evolução desde 1997, permite não só ter uma ideia da forma exponencial como a rede se expande, como perceber como os pontos de conexão se relacionam entre si, em clusters mais ou menos organizados. Mas também permite, como dizíamos, leituras mais particulares, como perceber como a China controla parte do tráfego proveniente do país ao fazê-lo passar por apenas 2 pontos. Neste ponto, os autores do projecto usam a sua visualização para também abordar a topologia da própria internet. A topologia da internet baseia-se no princípio Hub & Spoke que minimiza os pontos de acesso à rede ao canalizar as comunicações pelos mesmos “hubs”, em vez da sugerida pelo projecto mesh network. As mesh networks são redes criadas através de protocolos e que permitem que qualquer aparelho use uma rede para que se possa ligar directamente a outro, sem ter de fazer passar a sua informação pela rede central, tal como acontece actualmente com o Airdrop. A diferença entre as topologias é que faz com que nestas visualizações todas as linhas (conexões) tendam para um nódulo central da rede que, este sim, estabelece a conexão com outro nódulo maior e, por aí adiante.
Nos créditos do projecto podemos ficar a saber um pouco mais sobre Barret Lyon, o seu autor, e auto-descrito como um “generalista em tecnologia” crítico dos protocolos em que funciona a internet actualmente que consideram imaturos e antiquados, mas também sobre quem o acompanha no projecto, Pablo Gonzalez Vargas, responsável pela edição e direção de arte e Billy Mendrix responsável pela banda sonora.