Everything surgiu no mundo dos videojogos como uma promessa marginal. Criado por David O’Reilly, um artista sobre quem já escrevemos várias vezes no Shifter, o jogo baseia-se numa mecânica livre que permite ao jogador explorar tudo o que quiser de um universo praticamente infinito. Em Everything podemos ser uma vaca, uma planta, uma árvore, uma ilha, um planeta, uma estrela, o que quisermos, e a partir daí explorar o nosso redor, sem que a nossa fruição seja norteada por qualquer tipo de objectivo. Everything é um jogo com um forte pendor conceptual mais do que competitivo, e segue a linha de trabalho do artista que frequentemente se multiplica por projectos à procura de nos surpreender com as suas indagações criativas.
Lançado em 2017, Everything foi de tal modo diferente no mundo dos videojogos que até a indústria do cinema reparou. O seu trailer, um vídeo exploratório do ambiente do jogo de 11 minutos, com a narração do lendário filósofo americano Alan Watts, também ele muito popular na internet, foi premiado como curta-metragem em Viena e chegou mesmo à shortlist de nomeados para os Óscares desse ano.
Como explica no post de Instagram em que anuncia este pequeno grande passo, Everything é o sonho de vida que David O’Reilly já concretizou — o resultado de um esforço continuado de mais de 10 anos no desenvolvimento de uma biblioteca de criaturas 3D. Tal como podes ver no trailer, Everything propôs-se a ser um mundo e consegui-o, de facto. Não é o mundo antropocêntrico e densamente habitado como aquele em que vivemos realmente, nem um mundo hiper-detalhado como poderíamos esperar da tendência de criação dos videojogos, mas um mundo simples, natural e aparentemente orgânico onde tudo tem aparentemente potencial para comunicar e se relacionar entre si. Everything é como que uma espécie de poema visual e interactivo sobre o tudo, servindo facilmente como pano de fundo para questões sobre o mundo real visto de diferentes perspectivas.
Agora, O’Reilly anunciou que pretende disponibilizar, de forma faseada, todos os elementos que compõe este jogo para que qualquer pessoa possa usar como bem lhe apetecer — como refere no Instagram, até para fins comerciais. Segundo o artista e a pesquisa que fez, esta tornar-se-à automaticamente uma das maiores bibliotecas singulares de objectos em 3D. O primeiro lançamento, simbolicamente feito no dia de aniversário do artista, foi o pacote dos animais contendo modelos de 239 espécies. Nos próximos tempos todos espera-se que saiam os próximos pacotes, todos eles ficarão disponíveis aqui.
O’Reilly justifica a sua opção de dar livremente todos os elementos com o preço habitual deste tipo de objecto. O artista quer assim dinamizar, dentro do possível, o surgimento de novos artistas nesta área que passam assim a ter um bom ponto de partida para a experimentação. Os modelos 3D serão disponibilizados em .fbx, .blend & .glb e formato compatível com Unity, com uma licença Creative Commons Attributtion 4.0. Significa isto que podem ser corridos no software de modelação 3D Open source (e gratuito) Blender, e que tudo pode ser usado para qualquer fim desde que nos crédito finais do output o autor original seja referenciado.