Ubuntu é um conceito de origem africana, apesar da difícil definição, Desmond Tutu resume ubuntu como “a minha humanidade está inextricavelmente ligada à sua humanidade”. É uma interdependência da qual não nos podemos livrar. “Eu sou, porque tu és”, um reconhecimento de que, na essência, dependemos uns dos outros, de que sem a existência do outro a nossa existência torna-se irrelevante. Como tal, influenciam-nos mutuamente em termos individuais e comunitárias.
Nada acontece isoladamente, tudo que fazemos tem consequências noutras pessoas, comunidades e o mundo em geral.
E por causa dessa interdependência, torna-se cada vez mais urgente cooperarmos, colaborarmos, reconhecermos que as nossas sociedades funcionam em conexão e que cada indivíduo é um elemento importante da sociedade com reconhecimento e direitos merecidos. Não faz sentido nenhum que ainda exista racismo e várias outras formas de expressão de ódio. O racismo é um flagelo que deve ser combatido em várias frentes, entre as quais, através da educação e transformação cultural. É preciso que o sistema de ensino e as famílias abordem o tema com transparência de modo a desconstruir toda a base que leva uns a acreditarem que são melhores seres humanos que outros, toda essa cultura que nos impede de progredir como sociedade. Negar a existência de um problema não o faz desaparecer, só o agrava.
Outra frente é o empoderamento das minorias oprimidas através de políticas justas e inclusivas que garantam os seus direitos fundamentais ao mesmo nível que todos os outros cidadãos, e oportunidade de fazerem parte do sistema, confiar nele influenciá-lo através da Participação.
Ainda sobre o Ubuntu. De outubro de 2019 a janeiro 2020, participei na Academia de Líderes Ubuntu, que explora o conceito e desenvolve metodologia de formação em resposta á cada vez mais notável necessidade de formar as pessoas para uma liderança servidora, focada nas pessoas, livres de ganância e corrupção. Tornou-se claro nos tempos que vivemos a falta de bons líderes mundiais capazes de promover harmonia e paz. É o caso de Donald Trump e Jair Bolsonaro, por exemplo, que pregam o ódio e fomentam divisões.
É preciso encarar a diversidade como algo que torna as nossas sociedades mais ricas.
E as nossas lideranças políticas, comunitárias, empresariais têm que abraçar essa luta de desconstrução de ódio, racismo e discriminações, valorizando as pessoas e tornando-as o centro. Só assim poderemos progredir.
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Texto de Saliu Djau