Como a app de Trump pode contra-atacar quem ‘o enganou’ – quem se lembra da Cambridge Analytica?

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Como a app de Trump pode contra-atacar quem ‘o enganou’ – quem se lembra da Cambridge Analytica?

A democracia precisa de quem pare para pensar.

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A app Trump 2020 é uma poderosa aplicação de extração de dados, sendo provavelmente esse o seu principal objectivo.

Abrimos a semana com a notícia de que Trump e a sua equipa teriam sido ludibriados por um grupo de jovens astutos que se inscreveram no seu comício, fazendo disparar as expectativas e acabaram por não aparecer deixando o pavilhão completamente despido. O grupo, que juntou o movimento alternativo de TikTokers, fãs de música coreana — os K-Pop Stans — a outros activistas de teclado, literalmente, terá sido responsável por mais de 800 mil registos de presença fictícios no comício de Trump, registados através da app de campanha do presidente americano. O que não foi notícia foi o poder dessa app e como toda essa corrida de opositores pode ter sido muito mais estratégica do que os utilizadores podiam imaginar.

Brad Parscale, responsável da equipa de Trump, não foi discreto nem misterioso enquanto celebrava as centenas de milhares de registos na aplicação. O homem por trás da campanha digital do POTUS celebrava no seu Twitter “a maior transferência de dados e registos num rally de todos os tempos” e deixava a pista que devia ter sido seguida mas não foi atempadamente. Agora, a revista Technology Review do MIT dá-nos um olhar sobre a app Trump2020 e o seu potencial extrativo e… as notícias não são as melhores.

A app Trump 2020 – que, para além do registo para comícios, tem uma secção de notícias e uma secção social onde Trump faz rodar algumas das mensagens que quer pôr em circulação como ataques à oposição ou ao seu novo alvo, as redes sociais – é uma poderosa aplicação de extração de dados, sendo provavelmente esse o seu principal objectivo. O mesmo Parscale já tinha revelado em entrevista a aposta neste sistema de recolha de dados dos utilizadores, apontando o objectivo: para conquistar os votantes, a equipa de Trump quer começar por criar uma base de dados com informações sobre eles, à imagem do que ouvimos falar no caso Cambridge Analytica. Para isso a app regista não só os inputs do utilizador como informações como Dados de Localização e Identidade do telemóvel — algo que até já tinha sido criticado depois de analistas de segurança revelarem que esta informação estava a ser armazenada de forma pouco segura.

Se à primeira vista podemos pensar que por ser uma base de dados quase completamente aleatória pode não ser útil, é fácil imaginar a equipa de Trump a filtrar todos os contactos que se registaram fora dos Estados Unidos da América, através da localização, ficando com noção de todos os que dentro do seu país se registaram em oposição.

Estes dados poderão servir para mapear geograficamente a oposição a Trump ou utilizar outra das estratégias que fomos conhecendo, como a microsegmentação. De resto, o Wall Street Journal já no ano passado apontava a relação entre Trump e a empresa Phunware, responsável pela criação de software de recolha de informação sobre localização.

Do outro lado do espectro político, nos democratas, também Joe Biden tem a sua própria aplicação com alguma permissividade ao nível da privacidade. Neste caso, a app de Biden pede acesso à lista de contactos que cruza com o registo de votantes do partido, pedindo aos utilizadores que enviem mensagens a quem a app identificar como sendo potencialmente persuadido. Para se perceber a diferença, a revista norte-americana traçou um comparativo sobre as permissões pedidas por uma e outra aplicação. (quadro ao lado)

Em suma, este caso revela o contraste claro entre as noções que as pessoas têm da tecnologia e do seu potencial. Se por um lado quem quis corromper a campanha de Trump viu na aplicação uma forma de levar a melhor, por outro, a falta de escrutínio da porta de entrada falsa pode ter feito com que estas pessoas tenham comprometido as suas informações, passando-as para a mão da equipa de Donald Trump, com todos os Data Sciences e Marketeers dispostos a trabalhar sobre elas. Mais uma vez, tal como no caso Cambridge Analytica, este caso mostra como o utilizador médio raramente analisa do ponto de vista da segurança e da privacidade uma aplicação, nem mesmo se for do seu principal rival político.

https://shifter.sapo.pt/topico/cambridge-analytica-files/

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  • João Gabriel Ribeiro

    O João Gabriel Ribeiro é Co-Fundador e Director do Shifter. Assume-se como auto-didacta obsessivo e procura as raízes de outros temas de interesse como design, tecnologia e novos media.

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