Nova Iorque, 2010: The National e LCD Soundsystem

Nova Iorque, 2010: The National e LCD Soundsystem

22 Maio, 2020 /

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Parece haver um virar de página para Nova Iorque, cidade-fetiche da primeira década do século XXI, sem vírus, mas a recuperar de uma enorme crise financeira.

2010 é um número redondo pelo que usar termos como “fim de ciclo” nunca será interpretado como descabido, mas, mais do que um virar da década, a esta distância, o primeiro dos anos dez parece ser o fim de algo: de uma América, de uma rede de bandas que criavam laços umas com as outras: Dark Was the Night de 2009 é o exemplo perfeito.

Às tantas, os The National eram amigos dos Beach House, que eram amigos dos Grizzly Bear, que eram amigos de Feist, que era dos Broken Social Scene, que eram um supergrupo tal como os The New Pornographers (TNP), que incluam Neko Case e Dan Bejar… e podíamos seguir por aí fora com vários outros nomes ligados a um indie norte-americano que a Pitchfork confirmava com o selo Best New Music.

Mas também parece haver um virar de página para Nova Iorque, cidade-fetiche da primeira década do século XXI, sem vírus, mas a recuperar de uma enorme crise financeira. O fim dessa Nova Iorque da moda com epicentro em Brooklyn aproximava-se: Matt Berninger mudar-se-ia para a Califórnia e os LCD simularia anunciavam (encenavam?) o seu fim. Ambos vinham de discos marcantes, Boxer no caso dos National, Sound of Silver no dos LCD Soundsystem, duas das obras mais influentes desses tempos. Chegamos, então, a High Violete e This is Happening.

High Violet – The National

Faz muito sentido regressar hoje a High Violet, eventualmente o melhor disco dos National, pois aquelas metáforas sobre o amor e outros problemas aplicam-se perfeitamente a este louco ano 20. Numa entrevista dada na altura, Matt Berninger disse que o Boxer seria “sobre as pessoas fecharem as portas, desligarem-se do mundo exterior”. High Violet “é a escolha de abertura ao mundo como fuga ao sofoco”.

Quarentena-fim de quarentena. Um dos charmes da banda é o paradoxo que parece existir entre as canções e o outro lado mais lúdico da banda, sejam vídeos promocionais ou de backstage. Canções tristes, como se fosse necessário usá-las como desabafo para depois, mais leves, brincarem uns com os outros e mostrar uma banda bem humorada. Exemplo maior: “Terrible Love”. É olhar para a letra da canção e ir ver o vídeo promocional.

This is Happening – LCD Soundsytem

Bem menos polarizadores que os National, os LCD Soundsystem repetiram o truque no sucessor da sua grande obra-prima. E a verdade é que voltaram a cair nas graças da crítica e a sair sobre ombros… até regressarem ainda lá em cima, num eterno crowdsurf, como aquele que se repetirá para sempre e onde quer que se toque ao vivo a “Mr. November” dos National.

Mas é essa atitude de estrela de rock pós-40s que James Murphy queria renegar. Demasiado velho para isto, como já deixava implícito em “Losing My Edge”, primeiro de todos os êxitos do longinquo 2002, enquanto atirava recadinhos à industria que alimenta uma ideia de reciclagem quando uma banda ou artista já nada têm para dizer.

A propósito de “Losing My Edge” e a enumeração literal de referências que representa essa canção: Murphy volta a ser literal numa canção de This is Happening ao citar a guitarra de “Heroes” (Bowie) em “All I Want”. Sempre entre a euforia e a emoção introspectiva, This is Happening tal como American Dream não conseguem aguentar a fasquia de Sound of Silver, mas bastaria este último para conceder a Murphy a possibilidade de continuar a tentar.

Autor:
22 Maio, 2020

O Pedro Arnaut recua uma década no ano em que estamos para recordar músicas, discos e bandas que andavam por aí a rodar nessa altura. Porque 10 anos é muito tempo.

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