Amazon terá espiado vendedores para criar produtos concorrentes, alega investigação do WSJ

Amazon terá espiado vendedores para criar produtos concorrentes, alega investigação do WSJ

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1 Maio, 2020 /
Foto de Nik Jay via Unsplash

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Funcionários da Amazon terão acedido a dados de vendas dos vendedores que recorriam a esta plataforma para ajudar o gigante do ecommerce a desenvolver produtos concorrentes, de marca própria.

Além dos itens que a Amazon vende directamente na sua plataforma, há produtos no site da Amazon que são comercializados por terceiros. É o chamado Amazon Marketplace: por um valor mensal e uma fatia em comissões, a Amazon disponibiliza a sua plataforma a qualquer vendedor que queira usá-la para vender, beneficiando da vasta audiência e base de clientes de que a maior loja de comércio electrónico dispõe.

Contudo, uma investigação do Wall Street Journal (WSJ), divulgada esta semana, trouxe más notícias para quem depende do Marketplace. Funcionários da Amazon terão acedido a dados de vendas dos vendedores que recorriam a esta plataforma para ajudar o gigante do ecommerce a desenvolver produtos concorrentes, de marca própria. Por outras palavras, imaginando que a Amazon queria criar uma torradeira, a empresa foi olhar para terceiros que estavam a vender torradeiras na sua plataforma para extrair informação sobre as vendas e desenvolver uma melhor torradeira.

O WSJ falou com mais de 20 funcionários e analisou vários documentos que mostram que alegadamente a Amazon usa informação de vendedores terceiros para desenvolver os seus próprios produtos, apesar de a empresa dizer que não o faz. De acordo com fontes ouvidas na investigação, o uso desses dados é uma prática comum, discutida abertamente em reuniões, e as regras que a Amazon tem para o Marketplace não são aplicadas uniformemente. O jornal dá um exemplo: um funcionário tinha dados de um vendedor de acessórios automóvel, que através da Amazon tinha vendido 33 mil unidades em 12 meses, juntamente com o que a empresa tinha feito com as vendas desse comerciante; em Setembro do ano passado, a Amazon lançou produtos concorrentes. “Nós sabíamos que não podíamos”, disse um dos funcionários ao WSJ, que terá acedido a dados de terceiros no Marketplace. “Mas ao mesmo tempo, estávamos a fazer produtos com a marca Amazon e queríamos que eles vendessem.”

Ao The Verge, fonte da Amazon garantiu o seguinte: “Tal como outros retalhistas, olhamos para dados das vendas e da loja para dar aos clientes a melhor experiência possível. Contudo, proibimos estritamente os nossos funcionários de usar dados específicos e privados de um vendedor para determinar que categorias ou produtos de marca própria lançar. Embora não acreditemos que essas denúncias sejam precisas, levamos as alegações muito a sério e lançámos uma investigação interna.”

A Amazon diz que lançou uma investigação interna, até porque o assunto é especialmente grave para a empresa. Em Julho, a multinacional de Jeff Bezos garantiu no Congresso norte-americano que não usava dados de vendedores terceiros para benefício próprio e, por isso, em causa, poderá estar uma Amazon a mentir perante os congressistas. Nate Sutton, um dos advogados de topo do gigante do ecommerce, referiu que a empresa não usa dados de vendedores individuais para desenvolver os seus produtos, apenas dados agregados de múltiplos comerciantes.

A Amazon, à semelhança de outras grandes multinacionais norte-americanas como o Facebook, tem estado debaixo do olhar atendo de reguladores e da autoridade norte-americana de comércio, a FTC (Federal Trade Commission), por eventuais práticas anti-concorrenciais. Em cima da mesa, tem estado o Marketplace mas não só.

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1 Maio, 2020

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