Nos tempos estranhos que vivemos a informação é uma das melhores formas de combate. Em princípio nenhum dos que hoje estão vivos viveram nada que se assemelhasse àquilo por que estamos a passar e a dificuldade em compreender o fenómeno agrava a nossa reação ao mesmo. Ou, noutros casos, leva-nos para conclusões precipitadas baseadas em preconceitos que em nada ajudam na resolução da pandemia, fustigando ódios num tempo onde toda a solidariedade parece ser pouca.
Nesse sentido o jornalismo ganha um papel extraordinariamente preponderante, não só na disseminação de informações correctas e credíveis, como na ideação de formas de explicar ao cidadão comum como se propaga um vírus deste género — tentando pôr termo às teorias mais rocambolescas. Jin Wu, Weiyi Cai, Derek Watkins e James Glanz, quatro jornalistas do New York Times, assinaram recentemente um dos trabalhos mais esclarecedores neste capítulo. Uma reportagem com pouco texto, onde dados recolhidos por operadoras de telecomunicações e o motor de busca Baidu, através da monitorização dos telemóveis, e a análise de especialistas se transformam num elucidativo mapa da epidemia.
Recorrendo a dados recolhidos sobre o tráfego aéreo e a movimentação de pessoas provenientes da província de Wuhan, área onde se estima que tenha começado o surto, a investigação traça no mapa as rotas que o vírus tomara numa disseminação silenciosa. Parte dos indivíduos que serviram de vector contagiando um número indeterminado de outros terão sido portadores assintomáticos do vírus algo que fez com que todos os alertas tenham surgido tarde demais. A juntar à equação a subvalorização do potencial letal do vírus terá sido a outra chave para que o resultado fosse uma pandemia que já atingiu mais de 300 mil pessoas por todo o mundo.
A recolha de dados e o seu tratamento, juntando àquilo que hoje se conhece sobre o vírus, permitiu à equipa fazer uma leitura retrospectiva daquilo que poderá ter sido o seu percurso, nomeadamente à boleia de quem viajou de Wuhan para outras cidades do mundo como Bangkok, Sydney, Nova Iorque ou Milão, ainda antes de ser decretado o fecho da cidade.
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