The Irishman: um parque de diversões para adultos

The Irishman: um parque de diversões para adultos

6 Dezembro, 2019 /
(From l to r) During a break in the trial of Jimmy Hoffa, Chuckie O’Brien (Jesse Plemons), Bill Bufalino (Ray Romano), Frank Sheeran (Robert De Niro) and Hoffa (Al Pacino) are shocked at the news of JFK’s assassination. © 2019 Netlfix US, LLC. All rights reserved.

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Há muito que esperávamos que Al Pacino se juntasse à dupla de sucesso Scorcese & De Niro. Isso aconteceu magistralmente em The Irishman, um filme produzido pela Netflix, que é já considerado um dos melhores do ano.

Foi no dia 27 de Novembro de 2019 que a Netflix abriu ao mundo as portas para uma das mais aguardadas estreias do ano, The Irishman, ou O Irlandês, em português.

The Irishman representa uma (muita aguardada) reunião de personagens que se tornaram icónicas com os trabalhos que realizaram juntos desde os anos 70: o realizador Martin Scorcese, a mente responsável por detrás de grandes obras como GoodFellas, Casino, Taxi Driver, The King of Comedy ou Raging Bull.; o ator Robert De Niro, que acompanhou o sucesso de Scorcese e de TODOS os filmes mencionados – esta colaboração realizador/ator foi um dos principais motivos para o sucesso meteórico que os dois atingiram; ou Joe Pesci, que vem imediatamente à memória quando se fala em parcerias bem sucedidas no cinema e em Scorcese, com o imortalizado “Funny how?” em The Goodfellas.

Um dos motivos para este filme ser ansiosamente aguardado pelos fãs é exatamente pela oportunidade de poder ver estes três nomes novamente a trabalhar juntos no grande ecrã (a última vez que participaram num filme foi em 1995 em Casino), sobretudo quando já ninguém esperava que este momento voltasse a acontecer, tendo em conta que um deles estava reformado desde 1999. Em algumas entrevistas, Scorcese admitiu que, no início, foi muito difícil convencer Joe Pesci a sair momentaneamente da reforma para participar neste filme. O ator mostrava-se reticente em fazer “mais um filme sobre a máfia”, e foi preciso que o realizador lhe garantisse que desta vez, o papel que Pesci iria representar se distanciava da personagem explosiva e “boa companheira”, típica de quando estes dois trabalharam juntos no passado – desta vez Pesci interpreta um sábio, calmo e poderoso membro da máfia.

Quando se fala em grandes atores, anos 70 e filmes de máfia, existe um outro nome que vem imediatamente à mente de qualquer fã de cinema. Estou a falar do responsável por personagens como Michael Corleone em The Godfather ou Tony Montana – “Say hello to my little friend!” -, em Scarface, Al Pacino. Se tal como Scorcese, Pacino está diretamente ligado ao melhor que foi criado dentro deste género, a questão que todos se colocavam era “porque é que nunca trabalharam juntos?” Em algumas entrevistas dadas pelos dois, revelaram que simplesmente as circunstâncias da vida, durante todos estes anos, não o permitiu mas era um desejo mútuo. Ao contrário de Pesci, o realizador deu a Al Pacino exatamente o tipo de papel que este gosta de representar, Jimmy Hoffa, um impetuoso, explosivo e influente sindicalista dos anos 70 que, na altura, era um nome conhecido por todos os americanos.

Baseado na história real e no livro I Heard You Paint Houses (expressão utilizada pela máfia quando se queriam referir aos assassinatos encomendados), O Irlandês retrata a evolução de Frank Sheeran (Robert De Niro), desde os seus humildes (mas já ambiciosos) tempos como condutor de camiões, até este se tornar uma importante figura no mundo da máfia americana e grande amigo de Hoffa.

É através da perspetiva de Frank que acompanhamos, durante 3h30m, esta magnifica história de violência, corrupção, amizade, máfia, e, sobretudo… vida. É através dos olhos e voz do próprio Frank que somos apresentados, via flashbacks, aos mais importantes momentos da sua vida – existem várias linha temporais que, graças ao tempo de duração do filme, são apresentadas de forma fluída e natural.

A história de Frank muda no dia em que conhece Russel Bufolino (Joe Pesci), um futuro grande amigo, e “atual” poderoso membro da máfia. É precisamente Russel quem apresenta Frank a outra das personagens principais desta história, o sindicalista corrupto Jimmy Hoffa (Al Pacino). Toda a criminalidade e violência que faz parte da vida destas pessoas tem consequenciais pessoais, familiares, e psicológicas, que foram exploradas graças ao tempo de duração do filme. A partir daqui os dados estão lançados e o resto faz parte da história…

Bill Bufalino (Ray Romano), Frank Sheeran (Robert De Niro) e Jimmy Hoffa (Al Pacino) (foto de Niko Tavernise via Netflix)

The Irishman é um filme sobre a vida onde, por acaso, as pessoas andam sempre de fato, são descendentes de italianos e, no trabalho, a única cor que utilizam para pintar paredes é o vermelho. As 3h30m de duração são exatamente o tempo necessário para contar esta história. No final ficamos com a sensação que nada ficou por dizer e que todos os momentos fizeram sentido como um todo – de forma natural, sem um ritmo frenético ou excessivamente pausado.

Obrigado Netflix

Aos 77 anos, Scorcese decidiu que ainda tinha algo mais a contar, que ainda podia fazer mais um filme sobre a máfia sem cair na repetição e desgaste. Porque? Bem, outro dos motivos que faz deste um dos melhores realizadores de sempre, é a forma e capacidade como cria a evolução das suas personagens, desde a normalidade até ao estado de pura loucura – sem que nos apercebamos que isso está a acontecer -, fazendo o espectador sentir compaixão e compreensão pelo protagonista (isto faz-te lembrar algum filme recente? Normal, Todd Phillips bebeu muito de Scorcecse e isso nota-se claramente na realização do Joker). Desta vez, o realizador queria contar uma história do princípio ao fim, explorando todos os momentos importantes da vida da personagem, sem apressar a sua evolução e mostrando o antes, o durante e o depois de uma vida cheia como foi a de Frank Sheeran.

É estranho (mas verdade), pensar que com Scorcese, Robert De Niro, Joe Pesci e Al Pacino juntos, fosse difícil encontrar alguém que quisesse produzir o filme e investir o dinheiro necessário para a sua realização, mas foi exatamente isso que aconteceu. Se não fosse a Netflix, que se chegou à frente e ajudou a produzir o filme mais caro de sempre realizado por Scorcese (159 milhões de dólares), não chegaria a existir The Irishman – o motivo para a produção ter sido tão cara foi a tecnologia de rejuvenescimento que Scorcese utilizou para conseguir filmar atores com 80 anos em fases da sua vida mais jovens e para, por exemplo, fazer De Niro mais alto do que é na realidade.

Por ter “apostado” neste projeto, por ser responsável pela primeira vez de Al Pacino e Martin Scorcese juntos, por ter criado as condições necessárias para a produção de um dos grandes filmes do ano, é preciso dizer… Obrigado Netflix.

https://shifter.sapo.pt/2019/11/cinema-ideal-irishman-netflix/

Autor:
6 Dezembro, 2019

Nascido e criado em Coimbra, onde se encontra a estudar Marketing e Negócios Internacionais. Apaixonou-se pela escrita, é amante de cafés e tem um relacionamento sério com a literatura. Escritor favorito: Ernst Hemingway. Livro favorito: Crime e Castigo, de Fiódor Dostoiévski.

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