Os bastidores da criatividade da This Is Pacifica

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Os bastidores da criatividade da This Is Pacifica

A democracia precisa de quem pare para pensar.

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Com um espírito refrescante, a This is Pacifica cria comunicação integrada e projetos diferenciados que originaram reconhecimento e prémios. Tivemos a oportunidade de conhecer os seus processos criativos e espaço de trabalho, e não resistimos a entrevistá-los. Conversámos com o Filipe Mesquita.

This is Pacifica é um estúdio de comunicação independente com sede no Porto, Portugal, criado em 2007 por Pedro Serrão, Pedro Mesquita e Filipe Mesquita.

Com um espírito refrescante, a This is Pacifica cria comunicação integrada e projetos diferenciados que originaram reconhecimento e prémios. Tivemos a oportunidade de conhecer os seus processos criativos e espaço de trabalho, e não resistimos a entrevistá-los. Conversámos com o Filipe Mesquita.

A nível pessoal, quando é que descobriste que eras um criativo? E qual é a tua definição de ser criativo?

Creio que não existe propriamente uma descoberta mas antes uma série de consequências que vão reforçando a ideia. Acredito que a resposta está mais na diferença do que propriamente na criatividade. Para nós, tudo está na riqueza das ligações que tu crias entre as coisas. E isso é que gera a criatividade, o quão criativo tu vais ser. 

Quando tu relacionas uma coisa que à partida não tem relação com outra, quer tenhas 4 anos ou 40 anos, como é o nosso caso, é isso que dita o quão diferente tu vais ser ou onde vai estar essa diferença. A consciência de que tu consegues fazer as coisas de uma forma diferente ou pelo menos a relação que tu fazes entre as coisas é diferente da que as pessoas que estão ao teu lado fazem. Esse é o caminho. Não é tanto seres criativo como um título, mas sim sentires que tu sozinho, ou com outros, consegues fazer coisas diferentes. Acho que é mais esta a génese.

Como é que o teu processo criativo começa e de que forma é que evoluiu ao longo do tempo? 

O processo é transversal. O nosso processo criativo começa sempre a partir de um problema. Isso é que dita a diferença de não sermos artistas e sermos designers, é que nós partimos sempre de um problema que nos é imposto. O que para nós é diferente é que, por inerência, detestamos repetir fórmulas e olhamos sempre para cada problema como se nunca tivéssemos tido nenhum problema igual. Focamo-nos muito naquilo que está à volta da cultura de cada projeto para chegar a uma solução que seja complementar, que seja algo que pertença ao universo da marca. Portanto, não impomos um estilo próprio nem impomos fórmulas que já resultaram, e por isso é que também existe esta procura evolutiva de encontrar sempre coisas diferentes e trabalhar com coisas com que nunca trabalhamos antes. E é um processo com o qual nós nos identificamos, que é uma espécie de não processo, é um não formato. Tentamos partir sempre para os problemas de uma forma desformatada e começar a construir a partir daí.

Quem ou o que é que tem sido a maior influência na vossa forma de pensar o design? 

Habitualmente dizemos que não somos um estúdio de design. Por uma razão muito simples, é que nenhum de nós tem uma formação clássica de design, e portanto só isso faz com que as nossas influências não sejam tradicionalmente os grandes designers ou as grandes escolas de design. Passa muito mais por influências transversais, desde a música, à arquitetura, e o facto de estarmos com arquitetos é uma razão de isso existir, a arte. 

Por isso é que gostamos de experimentar tanta coisa diferente, tem a ver com o facto de gostarmos de muitas áreas transversais e tangentes também, que se tocam. Quando estás muito focado em design, normalmente estás dentro do problema do design, só. Estás dentro da abrangência do design. Falas de design, falas com designers, resolves as coisas como um designer faria ou como já o fizeram. E nunca pões em causa coisas que poderias pôr.

Desde o início que sentimos essa necessidade de questionarmos outras coisas e do nosso trabalho também questionar coisas, desde os materiais, passando pelos suportes, a forma como nós podemos ou não evoluir um projeto para outras áreas que nós não trabalharíamos, como ambientes, digital, tecnológico, artesanal… Tem muito a ver com essa necessidade de trabalhar de uma forma diferente. O nosso fio condutor é que é diferente. Não está focado só em design mas o design é a forma com que nós materializamos os projetos. E mesmo quando nos pedem um poster, tentamos fazer coisas diferentes dentro do formato, também para não nos repetirmos e para não nos sentirmos cansados daquilo que fazemos. 

Fala-me do vosso ambiente de trabalho – é organizado ou caótico? O que é que está na tua secretária, neste momento?

É simultaneamente organizado e caótico. É engraçado porque não temos esse distanciamento para perceber como é que trabalhamos mas somos relativamente organizados, relativamente caóticos. E dá-nos prazer ser as duas coisas. Dentro do caos nascem coisas que a organização não permite, e a organização permite que o caos se organize de forma a ser mais produtivo e a ser consequente. O caos não é consequente, a maior parte das vezes. Para o bem e para o mal, temos de ser consequentes com aquilo que fazemos. 

Gostamos desse caos de não ter segmentação, não ter compartimentos, não ter secções e portanto de desenvolver projetos integrados, que permitem esse caos, relacionando coisas que seriam sequenciais, e o facto de fazermos tábua rasa disso permite que trabalhemos como um todo e nisso o caos é a forma de organização. Depois é preciso ter outputs. Os outputs é a organização que nos permite por isso é as duas coisas. Orgulhosamente caóticos organizados.

Hoje em dia temos diversas ferramentas digitais nas nossas mãos. O teu primeiro instinto ainda é pegar num papel e numa caneta? 

Tentamos sempre que as ideias não partam do computador. O computador não é a nossa ferramenta de ideia. 99% das nossas ideias partem de discussão antes da materialização. E tentamos que isso seja sempre o ponto de partida. Nós brincamos sempre muito e dizemos que somos três diretores criativos mas quando um de nós está a fazer um projeto, dizemos que é um designer e que tem dois diretores criativos. Portanto há sempre uma lógica muito democrática, ninguém se apropria de um projeto de forma estanque. E isso obriga-nos a discutir e a falar muito sobre os projetos. Claro que o facto de trabalharmos há tanto tempo juntos faz com que existam automatismos, e que exista uma coisa que eu acho desde o princípio e que ajuda qualquer organização: que tu acrescentes mais às ideias do que subtraias. E isso foi sempre uma preocupação que nós tivemos. Não é uma preocupação consciente mas antes inconsciente, em que cada um adiciona coisas que valorizam mais a ideia do ponto de partida e não subtrai. 

Isso faz com que as ideias se construam muito em termos de adições e portanto o computador acaba por ser só uma consequência dessa ideia. E muitos dos nossos projetos nascem da, muito também por causa disso. Muitas vezes forçamo-nos a ser manuais nos projetos, principalmente porque é muito rico pensar com as mãos e mais do que isso brincamos também muitas vezes a dizer que “como designers, se só trabalhamos com um tipo de clientes, nós não exercitamos o corpo todo”. Só exercitamos alguns músculos, ou alguma parte do corpo, uma perna, ou um braço. E acho que nos torna muito mais completos se nós pensarmos, e mais tonificados, se pensarmos nos projetos de uma forma mais ampla, mais aberta e, ao mesmo tempo, mais completa. 

Normalmente, as pessoas tendem a escolher um caminho de conforto e segurança nas suas carreiras. Como é que se mantêm atuais e frescos no vosso processo criativo? 

Desafiando-nos. Existe uma pica de acrescentar coisas. E, mais do que isso, a nossa preocupação é que o projeto brilhe mais do que nós. E o projeto só pode brilhar se tu trouxeres alguma coisa de novo ao cliente, à ideia, à materialização. Claro que, por inerência, acabamos nós também por sermos recompensados com isso mas é muito mais interessante em termos de portfólio tu encontrares diferentes soluções, e todas elas ricas, do que criares um padrão de estilo, que repetes de projeto para projeto, e os torna mais aborrecidos, nesse sentido. Para nós é muito mais importante que cada projeto tenha um brilho próprio, uma aura própria, e nós procuramos isso. Aliás, em termos de fotografia, estamos sempre à procura da fotografia que defina o projeto e nunca é uma fotografia em estúdio, com fundo branco. E isso tem a ver com a preocupação que nós temos em criar um ambiente, uma espécie de ecossistema à volta de cada projecto. Para que também tu tires partido de tudo aquilo que o projeto te deu. As referências, a materialização, a ideia… Na realidade, nós só nos sentimos tranquilos quando sentimos que puxamos tudo o que tínhamos para puxar naquele projeto, que não ficou nenhuma ideia boa por explorar. 

Por vezes, a distância que tu percorres entre o problema e a solução é muito curta e nós gostamos de fazer long shots. É o desafio de pegares numa coisa que aparentemente não tem valor e de repente tu atribuis muito valor e, no fim, quando vês o projeto final, pensas: “Ah, isto era evidente, era simples de ser feito”. Às vezes está lá mas nunca mereceu a atenção, o cuidado e o talento para extrapolar tudo aquilo que ele podia ser e não foi. Eu acho que é um bocadinho essa a nossa missão, tentar trazer o melhor que cada projecto tem e só o podemos fazer se também tivermos um pensamento altamente positivo e optimista sobre o projeto. E isso também traz um bocado esse lado de renascer a cada projeto. Acho que também tem a ver com a forma como nós nos interessamos pelos projectos. Claro que, obviamente, cada projeto é um projeto mas cada projeto tem uma coisa que tem realmente valor – nós fizemos projetos para o Metáfora, que é um azeite agora que fizemos; Hardy, que é um salmão fumado; e para outras coisas que estamos a fazer, em que o produto é muito bom e nós acreditamos mesmo que ele é o melhor produto que nós podíamos ter em mãos. Claro que há uma razão para acreditar que tens de fazer um trabalho que esteja ao nível da qualidade do produto. E só acreditando e sentindo que aquilo é teu, e que podes contribuir e atribuir valor, gera uma recompensa. Não seria legítimo estares numa área como a nossa, e não pensares que um cliente que vem ter contigo não deva ser recompensado em termos de vendas e de negócio com o teu trabalho. Não podes ser umbiguista e pensar que vais impôr um modelo, e que esse modelo resultando ou não, é o teu. Há sempre uma preocupação de também nos sentirmos recompensados com o sucesso dos projetos.

De que forma é que sentem que a criatividade pode ajudar a sociedade nos nossos dias? 

Pode muito, com uma consciência muito grande do caminho que temos de fazer todos, que é não impôr soluções e materializações que sejam… Ou seja, o grande desafio que nós temos é repensar a necessidade de cada suporte e porque é que ele existe, ou seja, havia muito uma ideia baseada naquilo que era a media tradicional de fazer mupis, e fazer outdoors, e flyers, folhetos, catálogos, … E pensar porque é que estamos a fazer cada peça e a necessidade real dela existir. 

A Patagonia tem um anúncio muito giro, que começa logo com a imagem de um casaco a dizer: “Não compres este casaco. Se tiveres mais no armário, se só o vais usar uma vez…”. E acho que isso também serve de exemplo para a missão que nós temos que é não ceder à tentação de fazer muitas coisas e em grande quantidade, com grande uso de materiais, mas pensar na utilidade que cada uma delas vai ter e no papel que elas têm. E parte de nós essa responsabilidade de propor, também de uma forma estratégica e tática, aos clientes, a melhor forma de comunicar. 

E isso é algo que vamos introduzindo, que tem a ver muito com um trabalho que nós fazemos na maior parte dos projetos, que é um trabalho estratégico, de reflexão sobre aquilo que é o papel da marca, tom verbal e visual que a marca tem, mas também os outputs que a marca tem para comunicar. E por isso obviamente que também temos um papel para cumprir. E obviamente que depois existe também outra coisa, à parte disto, que tem a ver com os projetos tradicionais, que tem a ver com pelo menos estabeleceres um objetivo de ter pelo menos 1, 2, 3 projetos pro-bono, que ajudem instituições, organizações, ou então ter projetos que também representem isso. Nós temos um projeto chamado Surf Brewing, é uma marca de cerveja, em que todo o lucro do projeto (e isto é uma ideia do cliente, não é nossa, mas temos a felicidade de poder participar num projeto destes) é conduzido para limpar oceanos. Portanto acho que também envolveres-te com projetos desta génese traz-te alguma tranquilidade, em saber que vais dando alguns passos que podem ajudar. Obviamente que há uma preocupação, como todas as outras empresas, de teres lucro e de cumprires as obrigações com toda a equipa. Mas acho que vais introduzindo aqui alguma ideologia que é evolutiva e que se vai tornar cada vez mais importante nos projetos que tu trabalhas. 

 

Mishmash Creatives é uma série criada entre o Shifter e a marca de material de escritório minimalista Mishmash que procura perceber como é o trabalho de designers e de criativos portugueses ou residentes em Portugal, e como eles usam os produtos da Mishmash.

Índice

  • Mishmash

    A Mishmash é uma marca portuguesa de material de escritório minimalista que visa romper a mente de todos os entusiastas de design, apresentando uma selecção de produtos disruptivos.

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