Mesmo que o terceiro filme tivesse estabelecido uma boa finalização para o grupo de bonecos que tanto amamos, a Pixar decidiu trazer a quarta longa-metragem para bater o martelo do fim de uma era de referências. E, como não é surpresa, o efeito nos espectadores não é nada além do esperado: emoção e carinho. Entretanto, o que se deve reiterar é que isto não é mérito deste filme em solo, mas sim da junção de uma fórmula e personagens já há muito queridos pelo seu público.
Era esperado que a narrativa seguisse o hábito “pixariano” de contar histórias. Mais uma vez Woody é posto à prova para ultrapassar quilómetros e grandes obstáculos para retomar o status quo com sua dona – neste caso já não falamos mais de Andy, e sim de Bonnie. O que temos de diferente entretanto é o conceito de “casa” tão presente nas obras anteriores, invertido e ressignificado, é interessante ver, pela primeira vez, os bonecos a questionarem as suas motivações e as próprias vontades pessoais.
Toy Story 4 é o filme de Woody, com pontas de Bo Peep e pouquíssima participação de Buzz e Jessie. O protagonismo destes últimos dois é completamente ignorado e injustiçado em detrimento de novos personagens (não que estes não sejam bem construídos e cativantes), o que cria um gosto amargo sobre as suas memórias. Por outro lado, Bo Peep, uma das personagens menos trabalhadas nos outros três filmes, tem um crescimento gigantesco quanto a desenvolvimento e galga um lugar nunca antes dado a ela.
Gabby Gabby, a suposta antagonista, é a nova personagem mais bem trabalhada aqui. As suas diversas camadas possibilitam que haja sempre surpresas sobre os seus atos e que a sua motivação seja, afinal, compreensível. O trabalho de voz de Jordan Peele e Keegan Michael-Key como Bunny e Ducky, respetivamente, rende às personagens piadas extremamente características, e a voz de Keanu Reeves como Duke Caboom é de se pedir por mais.
Josh Cooley realiza uma longa-metragem pela primeira vez, entretanto, foi o responsável pelo argumento de Inside Out, além dos storyboards de Ratatouille, Up e Cars 2, ou seja, há uma grande familiaridade com os produtos Pixar. Isso faz com que Cooley esteja em território seguro, e aliado à animação excecionalmente detalhado e real, diz adeus de maneira terna a um de seus mais memoráveis projetos. Toy Story 4 é um filme que toca o coração!
Texto de Ilana Oliveira
(Nota: este texto foi originalmente publicado no c7nema, um dos mais antigos sites de informação, opinião e crítica de cinema em Portugal, tendo sido aqui reproduzido com a devida autorização.)
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