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Maioria das empresas que mais consomem floresta não falam sobre isso

Maioria das empresas que mais consomem floresta não falam sobre isso

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16 Julho, 2019 /
Foto de Janusz Maniak via Unsplash

Índice do Artigo:

Relatório adianta que cerca de 450 empresas e mais de 50 governos se comprometeram em acabar com a desflorestação até 2020, mas que muitas empresas já admitiram que o prazo não será cumprido.

Uma organização britânica chamada CDP – Carbon Disclosure Project –, cujo intuito é esmiuçar o impacto ambiental das grandes empresas, perguntou a 1500 dessas companhias qual o seu impacto nas florestas e o que estão a fazer para diminuir essa pegada. 70% das firmas contactadas não respondeu e, das 306 que divulgaram dados, 24% mostraram pouco ou nada fazem para reduzir a desflorestação do planeta.

O relatório da CDP, que pode ser consultado aqui e que tem como referência o ano de 2018, centra-se nas 306 empresas que divulgaram aos seus investidores ou parceiros de negócio informação sobre a sua relação com a floresta, incluindo sobre quatro tópicos críticos em termos de risco florestal: madeira, óleo de palma, pecuária e soja. Entre as 306 companhias, estão algumas das maiores produtoras do mundo, grupos ligados ao sector agrícola e alimentar, bem como ao mundo do retalho e dos serviços; além disso, 202 dessas empresas estão listados em bolsa, com um valor superior a 4 biliões de dólares, conforme nota a CDP.

Imagem via CDP

Para esta organização sem fins lucrativos britânicas, partilhar dados sobre o impacto na desfloração é uma questão de transparência, importante não só a nível corporativo mas também para o ambiente. A massa empresarial contribuiu largamente para perda de mais de 3,6 milhões de hectares de floresta no ano passado, à medida que árvores foram cortadas para retirar madeira, soja e óleo de palma, ou para abrir caminho para gado.

Entre as empresas que não divulgaram a sua pegada nas florestas está, como aponta a publicação Fast Company, a Mondelez, a gigante alimentar por detrás de marcas como a Oreo e que utiliza bastante óleo de palma nos produtos que fabrica, ou a IKEA, que de acordo com o seu próprio relatório de sustentabilidade recorreu 18 milhões de metros quadrados de madeira em 2018, tendo já se comprometido a aumentar o uso de madeira de fontes sustentáveis. Também não responderam à CDP a marca de vestuário Gap, a cadeia de supermercados Auchan ou a empresa alimentar Parmalat – de acordo com a CDP, algumas destas e de outras firmas ignoraram os seus pedidos também nos últimos três anos.

Imagem via CDP

Mas das 306 empresas que foram transparentes em relação à desflorestação, 1/4 admitiu que pouco estava a fazer para limitar o desmatamento e mais de 1/3 também não está a fazer em conjunto com os seus fornecedores para mitigar o problema ambiental. Além disso, só 1/4 relatou riscos de perdas devido à desflorestação e quase 1/3 nem sequer incluiu questões relacionadas com a floresta nas suas avaliações de risco.

A CDP reconhece, contudo, os esforços de apenas sete empresas no que toca à desflorestação: entre elas, está a francesa L’Oréal, alemã Beiersdorf AG ou a suíça Tetra Pak. A L’Oréal, por exemplo, tem uma política de zero desflorestação e já reconheceu que a má gestão das florestas ao longo da sua cadeia de fornecedores pode ter impactos negativos na sua marca, arriscando mais de 180 milhões de dólares. Na Europa, 87% dos consumidores procuram produtos com impacto zero na desflorestação, segundo refere a Fast Company.

De acordo com a CDP, as empresas não podem ignorar os impactos que os seus negócios, incluindo as cadeias de fornecedores, têm nas florestas, nem os riscos disso para os próprios negócios e para o mundo. As empresas que queiram manter a participação no mercado têm de estar atentas às reacções dos clientes, dos investidores e dos consumidores, cada vez mais atentos ao consumo sustentável.

A CDP adianta que cerca de 450 empresas e mais de 50 governos se comprometeram em acabar com a desflorestação até 2020, mas que muitas empresas já admitiram que o prazo não será cumprido. Foi o caso do grupo agrícola e alimentar norte-americano Cargill, que no mês passado disse que a ele e a sua indústria de uma forma geral não vai conseguir alcançar tal meta até àquele ano. A desflorestação tem impactos negativos incalculáveis nas alterações climáticas, provocando não só a emissão de dióxido de carbono mas tornando também a sua absorção mais difícil; os impactos são negativos também ao nível da vida selvagem e não só.

Autor:
16 Julho, 2019

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