Se há partido que nos últimos anos se tornou numa espécie de símbolo para os tempos que a União Europeia foi vivendo, esse partido foi o Syriza. Encabecado por Alex Tsipras, secundado, a princípio, por Yannis Varoufakis, o pequeno partido grego vindo da ala esquerda foi protagonista de algumas das mais debatidas reuniões na cúpula da burocracia europeísta e desafiador do poder instituído num braço de ferro que acabaria por perder. Depois de em 2015 ter surpreendentemente chegado ao poder, completando uma trajectória ascendente que se iniciara em 2012, o Syriza teve este domingo a sua primeira grande derrota nas urnas, que se começara a adivinhar na derrota política de há quatro anos.
As eleições gerais em terras helénicas do último fim-de-semana devolveram o poder ao partido Nova Democracia, que em Janeiro de 2015 tinha sido arredado eleitoralmente como penalização pela entrada da Grécia na crise e por suspeitas envolvimento em casos de corrupção, e fecham o ciclo de perto de uma década sem Governos de maioria absoluta.
Desde 2012 até 2019 os gregos expressaram nas urnas a sua rejeição ao partidos políticos mais tradicionalistas — à direita, o Nova Democracia (ND) e, à esquerda, o partido socialista grego, PASOK — mas nestas eleições os sinais são inversos. Para se medir a inversão de ciclo marcada por estas eleições, é preciso perceber que o último partido a ter maioria absoluta tinha sido o PASOK, entretanto reduzido a um lugar na coligação Movimento Para A Mudança, que obteve nestas eleições o terceiro lugar, a uma distância assinalável de ND e Syriza.
O Nova Democracia chega à posição maioritária de formação de Governo conquistando um total de 158 assentos parlamentares, uma maioria absoluta no universo de 300 lugares, quase o dobro do número de assentos conquistados pelo Syriza, 86, e mais 136 lugares do que o terceiro, Movimento Para A Mudança, com apenas 22.
O resultado é visto em todos os quadrantes como uma forte penalização para o Syriza; apesar de nos últimos quatro anos, o Governo de Tsipras ter conseguido uma performance política com alguns pontos positivos, como a descida do desemprego de 28 para 19% ou a saída pacífica do programa de assistência financeira iniciado em 2010, o partido falhou às suas ambiciosas promessas pelo que acabou penalizado. Recorde-se que a chegada do Syriza ao poder surgiu num contesto de confronto com as políticas da União Europeia; o partido foi promotor do referendo em que 61% dos gregos votaram contra as condições impostas pela troika composta por União Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional; o partido ficara em 2º em 2012, surpreendera nas eleições europeias de 2014, ficando à frente do partido no poder, Nova Democracia, e ganhara as legislativas em 2015 num resultado político que foi interpretado como um voto de confiança dos gregos num governo que marchasse contra a União.
Em declarações após o reconhecimento dos resultados, Tsipras congratulou o seu opositor e sublinhou os pontos positivos do seu governo apesar da derrota. O líder do Syriza disse num discurso com transmissão televisiva que Kyriakos Mitsotakis, o próximo Primeiro-Ministro grego, encontrará um país sem qualquer relação com aquele que Tsipras herdara em 2015, à beira da falência e com desemprego nos 28%, salientando por exemplo que agora a Grécia goza de taxas de juro historicamente baixas. De resto, em reacção à vitória do Nova Democracia e na expectativa de um Governo mais virado para as empresas e os investidores, o mercado reforçou a tendência de baixo juros para a Grécia atingido um novo mínimo histórico de 2%.
Estas eleições ficaram marcadas por outros acontecimentos que revelam a mudança de perfil político na Grécia, dos 6 partidos mais votados apenas 3 eram repetentes em eleições. As eleições de 2019 marcaram a estreia da coligação Movimento Para A Mudança, como solução de centro-esquerda, do partido MeRA25, de Yannis Varoufakis, mais à esquerda, e da Solução Grega, outro partido de direita fundado em 2016 pelo antigo deputado Kyriakos Velopoulos.