O Corvo: jornal digital sobre Lisboa encerra por falta de “sustentabilidade financeira”

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O Corvo: jornal digital sobre Lisboa encerra por falta de “sustentabilidade financeira”

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O jornal digital O Corvo acabou e o jornalismo local ficou mais pobre.

O jornal digital O Corvo falava de Lisboa como ninguém falava. Não noticiava o novo bar trendy da capital nem anunciava ‘com pompa e circunstância’ o próximo gigante empreendimento turístico. Em vez disso, esmiuçava promessas por cumprir, problemas na cidade e preocupações dos moradores.

O Corvo era o jornal local que Lisboa não tinha e que deixou novamente de ter. Esta quarta-feira, 29 de Maio, O Corvo anunciou o cessar da sua publicação. “O fim chega por não termos conseguido encontrar forma de garantir a sustentabilidade financeira indispensável à continuidade do jornal. Apesar dos esforços desenvolvidos desde o início do projecto, a 1 de Março de 2013, e com especial vigor nos últimos dois anos, após o renovado impulso nascido de uma reconfiguração do capital da empresa, esgotámos a capacidade para continuar a fazer jornalismo independente de qualidade”, lê-se numa nota publicada esta manhã no site do projecto.

Desde 2013, O Corvo procurou tratar os assuntos locais, colocando-se ao lado de quem vive a cidade e não de interesses políticos ou económicos. Quando era para ser crítico, O Corvo era crítico – mesmo quando falava da nova Praça de Espanha ou do novo projecto urbanístico de Entrecampos. No fim de contas, procurava “informar sem agendas escondidas” e “reflectir os principais desafios quotidianos enfrentados por uma comunidade tão ampla e heterogénea como é a que vive a cidade de Lisboa”.

Foi nesse sentido que perguntou sistematicamente porque é que partidos políticos podem encher as praças mais emblemática da cidade, porque é que há espaços verdes ao abandono, lixo a acumular-se nas ruas, pessoas a serem despejadas das suas casas, porque é que há uma biblioteca inaugurada há apenas dois anos mas já com infiltrações e tectos a cair. Simultaneamente, traçava perfis das várias freguesias de Lisboa, falava de jardins esquecidos, comemorava marcos culturais, patrimoniais e históricos importantes para a cidade.

Fundado pelo jornalista Samuel Alemão – a quem no final de 2017 se juntou a Daniel Toledo Monsonís para ajudar Samuel na revitalização do projecto –, O Corvo foi crescendo com uma audiência maior e exigente, sem receios em apontar “o dedo aos erros que, como seria inevitável, acabámos por cometer” (“o que, em boa verdade, nos ajudou a sermos ainda mais atentos, empenhados e rigorosos no que fizemos”). Este jornal digital, registado na Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) como todos os outros, contou com investimento de capital próprio dos dois ao longo dos anos e era monetizado através de publicidade.

O Corvo era importante para Lisboa. Mas diz adeus. A cidade ficará agora apenas com o tratamento de lifestyle e propagandístico de outras publicações privadas, com a revista da Câmara Municipal de Lisboa, e com as notícias que os meios generalistas acham pertinentes fazer. Faltará foco e aproximação local. Faltará diversidade nas vozes. Faltará o Corvo.

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