MYheARTheatre: a companhia de teatro que ensina inglês nas escolas portuguesas

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Foto de João Ribeiro/Shifter

MYheARTheatre: a companhia de teatro que ensina inglês nas escolas portuguesas

Esta é a história de um ator perserverante que tem muitas vezes a missão de dar a conhecer o teatro aos alunos do país.

Cultura e educação, duas premissas que ouvimos sistematicamente nos telejornais diários e que muitos teóricos consideram ser a base de cidadania de um povo. A cultura e a educação são um investimento e a falta delas são um custo irreparável para todos nós. Portugal está a fazer o caminho das pedras para ligar estas duas vertentes e colocá-las ao serviço da população. Foi nesta base de raciocínio que o Shifter conversou com Simão Biernat, fundador da MYheARTheatre e ator principal desta companhia de teatro.

A MYheARTheatre é uma companhia de teatro educacional em inglês. “Damos aulas de inglês com teatro, não fazemos peças de teatro com inglês.” Simão explica-nos que a diferença fundamental entre a empresa e as concorrentes passa sobretudo por utilizar o teatro para ensinar da melhor forma a língua inglesa. O foco está na educação através da cultura. Mas o projecto não nasceu em Portugal por uma facilidade de circunstância.

Como muitos jovens portugueses, as condições profissionais ditaram o destino do jovem Simão Biernat e a emigração foi a solução encontrada para alguém que queria “viver do teatro e ser ator profissional”. Mas as motivações não eram só estas. Depois do Erasmus em Brno, o amor ficou na República Checa e voltar, desta vez para Praga, seria a única hipótese possível para alguém construir a felicidade pessoal e profissionalmente. O trabalho surgiu instantaneamente. Passado uns meses trabalhava em três companhias de teatro ao mesmo tempo, uma delas focada em teatro educacional para crianças pela Europa Central.

Os primeiros três anos substanciaram-se em muitos quilómetros percorridos e muitas peças apresentadas (30 a 40 exibições por mês) a crianças de nacionalidades, línguas e credos diferentes. O trabalho era reconhecido e numa altura em que geria a companhia, resolveu voltar. Simão casou, foi pai mas faltava a outra parte da felicidade que complementa a primeira. A sua companheira segurou-o e rumaram a Portugal. Para Praga levou uma mala para viver e voltou com uma bagagem familiar, cultural e de horizontes que lhe permitiu traçar o futuro relativamente ao teatro.

A ideia do seu futuro voltou com Simão e a importação do conceito de teatro educacional foi consumada com a adaptação ao mercado português, onde a narrativa, a moral da história e o público-alvo foi reformulado. O nome da companhia evocando um trocadilho entre coração e arte esteve presente desde muito cedo na sua cabeça e em 2018 começou esta aventura. A MYheARTheatre conta com atores portugueses e com um nativo inglês no elenco e podem apresentar nove peças distintas em escolas, dependendo do ano de escolaridade dos alunos. Em cada exibição, é tido em conta os diferentes estágios de evolução da língua inglesa por parte dos alunos e o objetivo é que todos interajam com os atores.

A questão da interacção é fundamental para a companhia. Por decreto, cada peça tem um limite máximo de assistência para que os alunos possam participar, de forma decisiva, no rumo de cada interpretação. As crianças e os adolescentes não são um público fácil e a experiência de vários anos na Europa permite que as técnicas estejam cada vez mais apuradas.

“Ali sou um ator que finge que é professor”, confessa Simão quando desafiado a pensar numa carreira apenas de professor. Há uma responsabilidade inerente naquilo que a MYheARTheatre faz. Muitas vezes, o primeiro contacto dos alunos com o teatro é nesta aula didática. Cabe a Simão e aos colegas darem uma boa impressão sobre a arte teatral, seja na óptica do utilizador, seja na óptica do profissional. Numa fase crucial de escolhas profissionais, os alunos podem criar empatia para o futuro com o teatro ou até mesmo ver na profissão a sua paixão de vida.

De norte a sul do país, sentem a evolução nas passagens seguintes. As escolas têm sido muito recetivas a este tipo de experiências e depois da primeira vez, firma-se uma vontade em contar com a companhia de teatro no próximo ano. Como cada nível de escolaridade é direcionado para uma peça diferente, a experiência é sempre nova para quem prossegue com sucesso na carreira estudantil. Além das peças para jovens, Simão Biernat dá worskhops de preparação para o mercado de trabalho nas escolas, além de aulas de expressão dramática.

“As pessoas não percebem a diferença entre um ator profissional e um ator amador, nem o que isso implica.” Este mote de vida continuará a ser um cavalo de batalha para Simão nos próximos tempos. “A maior chapada de luva branca que dei a muita gente é conseguir viver do teatro em Portugal.” Ao Shifter, Simão confessa que ainda existe o estigma vincado que o teatro e a atividade artística funciona como um hobbie e que para pagar contas e viver condignamente é necessário ter um trabalho a tempo inteiro, uma profissão “normal”.

A MYheARTheatre continuará a fazer o seu caminho mas existe o sonho de se dedicar ao associativismo na sua terra-natal, Alenquer e poder contribuir para o desenvolvimento cultural de um concelho por explorar. A vontade passa por criar mais teatro com mais qualidade e com novas condições para que outros possam surgir.  O sonho de fazer mais e melhor não se extingue por muitas dificuldades que possam existir. A história da perseverança tem muitos rostos anónimos em Portugal e é necessário que estes sejam suportados seja qual for a área de atuação. O caminho de Simão continuará.

As fotos deste artigo retratam um ensaio da companhia para uma exibição na Conferência da Associação de Professores de Inglês. Autoria visual de João Ribeiro/Shifter no LX Factory.

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