Clube de Poesia: uma exposição de pintura fora da norma das telas

Clube de Poesia: uma exposição de pintura fora da norma das telas

26 Fevereiro, 2019 /
Poems of Problems Composição gráfica, tinta acrílica sobre parede, 2019

Índice do Artigo:

"Clube de Poesia é a primeira exposição individual de Horácio Frutuoso numa instituição museológica."

Sempre que pensamos no Museu de Serralves é provável que à memória surjam os grandes nomes da cena artística que por lá vão passando em exposições antológicas e de grande valor institucional. Só no último ano tivemos Álvaro Lapa, Robert Mapplethorpe e Joan Miró; a abrir 2019 inaugurou a grande exposição de Joana Vasconcelos, criada para o Museu Guggenheim, em Bilbao, e pela primeira vez em exibição em Portugal. No entanto, Serralves não se faz só de artistas consagrados, nem das salas principais. Para além dos nomes mais sonantes que vão ocupando os principais átrios expositivos, o museu portuense dedica as salas mais pequenas, do piso superior, a artistas emergentes na cena mundial.

Uma das mais recentes iniciativas neste capítulo, tomando conta do espaço dedicado a Projectos Contemporâneos, é o Clube de Poesia, uma exposição do artista português de apenas 27 anos, Horácio Frutuoso. Em Clube de Poesia encontramos uma espécie de síntese da obra do jovem pintor, que nos permite de imediato perceber a abrangência e diversidade da sua abordagem. Como o próprio nome indica, esta é uma mostra de artes visuais onde o texto se assume como um elemento essencial e diferenciador, tal como noutras obras de Horácio que podemos até encontrar online.

Clube de Poesia é a primeira exposição individual de Horácio Frutuoso numa instituição museológica. Este título pode relacionar-se directamente com duas das especificidades que singularizam a sua prática artística: a atenção à linguagem — a presença de frases escritas sobre paredes e chão de galerias, uma espacialização daquilo que historicamente se designou como poesia visual, ocupa um lugar destacado no seu percurso expositivo — e uma constante criação de sinapses, de associações.”

Sejam peças exclusivamente tipográficas onde palavras ou frases interagem entre si e com os espaços, sejam manchas de texto sobre composições a óleo ou pinturas realistas de objectos com uma componente tipográfica forte – como é o talão do multibanco que podemos ver abaixo –, é através do texto e da palavra que a narrativa criada pelo jovem artista se torna única e mais desafiante. Uma intenção de que de algo modo pode ser descrita como paradoxal mas talvez por isso se torne tão preponderante: Frutuoso pega na linguagem mais regrada que partilhamos, a escrita, para a remisturar e desconstruir, apresentando-a tanto de um modo correcto e assertivo como criando com as letras composições caóticas e indecifráveis.

Clube de Poesia estará patente em Serralves até ao dia 5 de Maio de 2019.

Ser o prisioneiro de mim mesmo E o criminoso dos meus desejos. Roubo-me de faca apontada E corto com toda a vontade, Tal como todos, De querer mentir Óleo sobre tela, 2018
O dia em que deixei de ser (ou fui obrigado) Jovem artista. Óleo sobre tela, 2018
Perco o percurso do corpo / E deixo-me dobrar / Sobre a escuridão das luzes / No obscuro desejo / De tudo ficar abstracto. Óleo sobre tela, 2019

Fotografias de Filipe Braga – cortesia Museu de Serralves

Autor:
26 Fevereiro, 2019

O João Gabriel Ribeiro é Co-Fundador e Director do Shifter. Assume-se como auto-didacta obsessivo e procura as raízes de outros temas de interesse como design, tecnologia e novos media.

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