Apesar de o pimento e de o tomate terem tido a mesma origem ancestral, há milhões de anos atrás, são dois frutos distintos. Os pimentos produzem capsaicinóides; os tomates são mais fáceis de cultivar mas não produzem essa particular substância que confere o picante. A menos que se consiga modificar geneticamente. É isso que uma equipa de investigadores propõe com um olho nas potenciais utilizações desse componente.
Ao longo do tempo, as técnicas de modificação genética como a CRISPR-Cas9 têm vindo a ser aperfeiçoadas, tornando-se mais rápidas, baratas e seguras; e, num futuro, poderão ter implicações em diversas áreas, desde a saúde humana à modificação de alimentos. Neste último campo, podem originar novos frutos ou plantas aperfeiçoadas para determinado objectivo comercial, podendo, quem sabe, empresas como a agro-química Monsanto registar patentes para determinadas modificações de genes que só elas poderão operacionalizar. Já estás a começar a compreender toda a complexidade do assunto, certo?
Voltando aos tomates; a ideia de os modificar e de os tornar picantes é de um grupo de investigadores do Brasil e da Irlanda – não é, de todo, a primeira vez que se fala em modificação de frutos, tendo já sido anteriormente sugerido alterar morangos, cogumelos e cerejas, por exemplo. De acordo com o paper que publicaram na Trends in Plant Science, os cientistas explicam que o cultivo de pimentas chili é exigente e que todos os genes que produzem capsaicinóides existem no tomate só não estão activos.
Os benefícios dos capsaicinóides para a saúde humana poderão ser uma das vantagens da alteração do DNA de tomates. Os investigadores brasileiros e irlandeses dizem que existem 23 tipos diferentes de capsaicinóides e que muitas dessas moléculas mostraram ter propriedades anti-inflamatórias e anti-oxidantes, além de serem associados a benefícios como a perda de peso; podem também ser bons para atrasar o desenvolvimento de tumores, conforme conta o Quartz.
“O capsaicinóides são compostos muito valiosos; são usados na indústria de armas nos spray de pimenta, também são usados em anestésicos e há alguns estudos que mostram que ajudam na perda de peso”, referiu ainda ao The Guardian Agustin Zsögön, da Universidade Federal de Viçosa, no Brazil, co-autora do artigo científico, detalhando interesses na modificação genética de tomates para além da alimentação.
Agustin Zsögön e a restante equipa já começaram a trabalhar nos novos tomates modificados com capsaicinóides e contam ter novidades para partilhar no final deste ano de 2019.