De chips para a pele a helicópteros eléctricos, o resumo da CES 2019

De chips para a pele a helicópteros eléctricos, o resumo da CES 2019

19 Janeiro, 2019 /

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De televisões que se dobram a computadores quânticos. Isto é um pequeno resumo do que se passou nos últimos dias em Las Vegas.

CES. É uma gigante feira de tecnologia de consumo, a maior de todas. Decorre todos os anos em Las Vegas, sendo uma montra para várias empresas mostrarem as suas mais recentes inovações. Notícias sobre a CES correm os órgãos de comunicação social especialistas e os mais generalistas também, permitindo a quem não está em Las Vegas – nem tão pouco nos EUA – saber o que naquela feira se passa (ou passou).

A CES (ou Consumer Electronics Show) é o primeiro grande evento tecnológico do ano. Realiza-se desde 1967 e é organizado pela Consumer Technology Association. Junta sempre algumas das maiores marcas de tecnologia na área do consumo e funciona como uma espécie de antevisão da tendências que irão marcar o ano. A cada edição há uma série de “keywords” que definem o evento e esta CES 2019 não foi excepção. Veículos eléctricos, condução autónoma, ecrãs dobráveis, portáteis, 5G, televisões 8K… tudo isto e muito mais andou em Las Vegas.

Se para quem circula por entre os expositores da CES já é difícil apanhar tudo e sintetizar o mais relevante, para quem vai acompanhando de fora a tarefa não é mais fácil. As notícias sobre a CES são muitas e corremos sempre o risco de algo importante não nos chegar. Ainda assim, decidimos lançar-nos na tarefa de selecionar alguns produtos que nos saltaram à vista através das notícias que fomos recolhendo de diversas publicações.

O tablet que se dobra

Comecemos pelo tablet que se dobra. Chama-se FlexPai, é fabricado pela Royole (uma empresa de que provavelmente nunca ouviste falar) e pode parecer mais uma prova de conceito que outra coisa. Tem um ecrã de 7,8 polegadas que pode ser dobrado ao meio numa parte específica do equipamento; quando dobrado, as apps ficam acessíveis apenas num dos lados. Pode, por exemplo, ser colocado em cima de uma mesa para ver um vídeo. De acordo com quem testou o FlexPai, não é o melhor tablet no que toca a hardware e software, parecendo uma peça inacabada… à venda por 1 388 euros.

Foto via Royole

O computador quântico da IBM

A computação quântica é uma revolução que parece estar à beira de chegar, e a IBM trouxe à CES aquele que apelida de “primeiro sistema quântico integrado”. Denominado IBM Q System One deve ser entendido como um símbolo, mais que um breakthrough. É uma bonita peça de engenharia, como escreve o The Verge. O IBM Q System One supera os computadores a que estamos habituados por ser capaz de processar quantidades absurdas de dados e algoritmos complexos, tendo sido desenhado para uso profissional e científico, nomeadamente nos campos farmacêuticos e financeiros. Belo por fora, com um cilindro metálico fechado dentro de uma caixa de vidro, o IBM Q System One não é computador que se poderá comprar numa loja; em vez disso, estará guardado algures na IBM e acessível por entidades como a energética ExxonMobil ou o laboratório CERN através da nuvem (IBM Q Network). De notar que o Q System One não é o primeiro computador quântico da IBM.

Foto via IBM

A televisão que se enrola como um poster

A televisão que se enrola sozinha já tinha sido apresentada no ano passado na CES em modo protótipo, mas a LG voltou a mostrá-la na feira, agora que está pronta para ser comercializada – não é conhecido o preço ainda. De qualquer das formas, esta televisão dá pelo nome de OLED TV R e consiste num ecrã que pode ser escondido dentro de uma caixa, evitando assim que exista um ecrã preto numa sala quando não está em utilização. A tela pode ser recolhida na totalidade ou apenas parcialmente, sendo que na parte visível pode ser exibido um relógio ou um reprodutor de música. A TV que se esconde só é possível graças à tecnologia dobrável que a LG, à semelhança de outras fabricantes, tem vindo a experimentar: no fundo, o ecrã fica enrolado dentro de um pequeno móvel.

O sério concorrente da Lenovo ao Surface Studio

A Microsoft tem vindo a surpreender tudo e todos com hardware de excelência e a sua linha Surface. Em particular, o Surface Studio é um computador ‘all-in-one’ (como um iMac) direccionado para o segmento criativo. É bastante caro e a Lenovo mostrou na CES uma alternativa com o mesmo conceito, cerca de 1000 dólares mais barata. O Yoga A940 tem algumas diferenças curiosas como todos os periféricos (rato e teclado) poderem ser arrumados debaixo do ecrã quando queremos usar a caneta ou tirar partido do ecrã táctil. Tal como o Surface Studio, a proposta da Lenovo também tem um ‘dial’ que pode ser utilizado para determinadas tarefas criativas. O computador vai custar cerca de 2400 dólares.

Foto via Lenovo

O helicóptero eléctrico

A CES está cheia de automóveis e até houve por lá um iate. Mas o nosso destaque vai para o Bell Nexus, um helicóptero eléctrico que poderá, no futuro, quem sabe, ser um táxi voador – ao serviço da Uber, por exemplo. A Bell, que já faz helicópteros há mais de 80 anos, apresentou na gigante feira um conceito que inclui espaço para quatro passageiros no interior; no exterior seis ventiladores oscilam horizontal e verticalmente para que o veículo se possa descolar e voar de forma eficiente e com pouco ruído. A Uber espera lançar o seu serviço de táxis voadores em 2023, mas a Bell diz que o Nexus poderá estar pronto só em 2025.

Foto via Bell

Produtos de Beleza

Uma das expressões mais visíveis da evolução tecnológica no que toca a bens de consumo tem a ver com a sua diferenciação no que toca a segmentos de mercado e públicos-alvo. A CES é o sítio por excelência para o observarmos. Se este tipo de certames são sempre marcados pela apresenta de hard tech como estamos habituados — telemóveis, computadores, televisões — este ano houve duas categorias a fazer furor: os produtos de beleza e os brinquedos sexuais.

Por partes. No que toca a produtos de beleza a panóplia de conceitos apresentados dava para encher uma feira única. Espelhos com realidade aumentada que permitem ver no reflexo o efeito de maquilhagem e máscaras de beleza impressas em 3D para que se adequem na perfeição à forma da cara de cliente são os planos das outsiders Coty e Neutrogena. Já a L’Oreal que materializa a sua aposta em tecnologia na existência de uma incubadora interna na empresa, apresentou um dos produtos que mais tem dado nas vistas — um chip wearable que mede automaticamente o pH da pele de quem o está a usar (na imagem abaixo).

Outra gigante habitual nestas andanças do grande consumo, a Procter & Gamble também trouxe novidades até à CES; apresentou um sistema de inteligência artificial preparado para equipar as suas escovas de dentes electrónicas e monitorizar os hábitos de higiene dentária do seu utilizador.

Courtesy of L’Oréal

Brinquedos Sexuais

Outro dos produtos que fez furor mesmo sem ir a Las Vegas foi… um massajador sexual. O massajador Osé, criado por uma empresa desconhecida chamada Lora DiCarlo, promete dar à mulher um orgasmo em mãos-livres através de uma tecnologia de micro-robótica que simula os movimentos do parceiro humano. A promessa do Osé é ousada e vai para além do simples orgasmo, a sua tecnologia estimula simultaneamente o clitórios e o ponto G dando um blended orgasm, isto é, um orgasmo simultâneo.

Os motivos que afastaram o aparelho do evento são muito menos prazenteiros. Segundo reporta o Buzzfeed o Osé terá figurado entre os premiados na categoria de robótica e drones tendo sido desqualificado e banido da exposição duas semanas depois por ser considerado obsceno e imoral.

Terá sido no dia 31 de Outubro que a empresa Lora DiCarlo recebeu o e-mail dos organizadores da CES, a Consumer Techonology Association, dizendo que o Osé perdiria o seu prémio bem como uma espaço de exposição, alegando uma cláusula contratual que dá poder aos organizadores para remover qualquer produto considerado “imoral, obsceno, indecente, profano ou que não mantenha a imagem da CTA”.

A mudança de opinião foi especialmente polémica olhando ao historial da feira. Por exemplo em 2016, o Little Bird, vibrador que se liga a e-books (?) tinha sido premiado com a mesma distinção.

Outras novidades

Claro que muito mais se passou na CES, mas não queremos correr o risco de tornar este artigo demasiado extenso. O 5G, apesar de ter estado por toda a CES e estar prestes a chegar ao mercado, ainda não é relevante ou inovador e não merece por isso a nossa menção — fica para outro artigo dedicado ao hype.

Se quiseres saber mais a revista WIRED fez duas listas (aqui e aqui) dos gadgets que mais impressionaram os seus reporteres no local; e elaborou também uma lista dos melhores produtos que já estão à venda – sim, porque a CES é uma feira onde as tecnológicas aproveitam para mostrar o que vão lançar ou apresentar conceitos, mas nem tudo chega ao mercado. Falando ainda em listas, o The Verge publicou uma com novidades que poderão interessar a ilustradores, vloggers e outros criadores de conteúdo.

O vlogger Sam Sheffer andou pela CES e também compilou aquilo que mais lhe chamou à atenção:

A fechar este artigo, como é habitual, dizer que a Apple não esteve oficialmente na CES, mas foi notícia pela surpreendente chegada do AirPlay e do iTunes às televisões da Samsung, LG e Sony. Foi também notícia pelos outdoors provocadores que colocou à porta da feira, lembrando os seus visitantes de que “o que acontece no seu iPhone fica no seu iPhone” – uma alusão à política de privacidade e ao modelo de negócio da empresa, que ao contrário de outras (como a Google e o seu Android) não faz dinheiro a venda dos dados dos utilizadores a anunciantes.

Autor:
19 Janeiro, 2019

Jornalista no Shifter. Escreve sobre a transição das cidades e a digitalização da sociedade. Co-fundador do projecto. Twitter: @mruiandre

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