Quando se mudou de Mina Clavado para Buenos Aires, Camila Sosa Villada começou a escrever num blog. Chamou-lhe La Novia de Sandro. Nessa altura estudava comunicação social durante o dia e era trabalhadora do sexo no Parque Sarmiento durante a noite. Quando o trabalho acabava, de madrugada, escrevia os posts do blog à mão, que noutro momento publicava na internet através de um cibercafé. Quando começou a trabalhar como atriz, apagou o blog. Se não fosse um fã que decidiu guardar os textos e que mais tarde lhos enviou por e-mail, provavelmente a sua obra hoje seria diferente.
Ler-se a si mesma com distanciamento, e deixar de ter vergonha de quem já tinha sido, levou-a até As Malditas, a primeira recomendação da newsletter de Março. Esta história que Juan Forn conta no prólogo da edição original dá que pensar: por um lado, se Camila quis apagar o blog, devia ter-se respeitado a sua vontade; por outro, se ninguém tivesse guardado o arquivo, não se teria revisitado. Um estranho deu-lhe a possibilidade de se voltar a olhar; desta vez com afecto. Sem vergonha.