Nesta revista trazemos para o papel uma reflexão habitual no Shifter, sobre o espaço online. Aproveitamos o contraste do papel para pôr em perspectiva alguns fenómenos do digital, bem como para desmistificar alguns dos grandes chavões que pontuam o debate, numa série de artigos que se pretendem como um princípio de um debate alargado; como um ponto de uma situação complexa onde impera fomentar a literacia e a consciência crítica sobre os comportamentos individuais, colectivos e não-humanos.
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Onde estamos nunca estamos sós. Por muito que percepcionemos a experiência em linha, digital, como uma experiência individual, e em muitos casos solitária, a verdade é que por trás desse aparato se esconde uma imensa infraestrutura, moldada e habitada por outros como nós, e que, mesmo na nossa intimidade, comportamentos semelhantes acabam por gerar um padrão. Mesmo sós acabamos por estar sujeitos à presença do outro. No limite, à forma como outro concebeu a infraestrutura onde contemos a nossa solidão. E mesmo sós, fazemos parte de um grupo maior, mesmo que neste caso possa ser o grupo dos que se julgando sós, numa vista alargada, são elementos que correspondem a um padrão alargado num grupo maior do que a sua percepção, visão ou imaginação alcança. E se esta podia ser uma analogia com o mundo natural, a imponência das suas criações, a presença de outros seres vivos e micro-organismos, ou com a cidade, o poder da arquitectura, e a convivência dos que nela habitam, neste caso aplica-se ao espaço que se criou paralelo a tudo isto. Ao espaço digital.
Nesta revista trazemos para o papel uma reflexão habitual no Shifter, sobre o espaço online. Aproveitamos o contraste do papel para pôr em perspectiva alguns fenómenos do digital, bem como para desmistificar alguns dos grandes chavões que pontuam o debate, numa série de artigos que se pretendem como um princípio de um debate alargado; como um ponto de uma situação complexa onde impera fomentar a literacia e a consciência crítica sobre os comportamentos individuais, colectivos e não-humanos. É assim que se explica a presença na capa do trabalho de Catarina Rodrigues, publicado no Shifter a propósito do 25 de Abril, em que a designer e programadora desafia a máquina a representar o símbolo da revolução nacional, o cravo.
Numa coleção de perspectivas humanas sobre o ambiente digital, tecnológico, tantas vezes automatizado, damos à máquina espaço para se exprimir de forma a podermos contemplar criticamente a sua forma de expressão. Num exercício de perspectiva que ilumina a prática da revista, uma prática de questionamento, diálogo e interação. De propostas, ideias e reflexões, mais do que de certezas, leis e vatícinios. Longe do fatalismo de uns ou do tecno-solucionismo de outros, numa perspectiva ponderada, equidistante e livre, sobre um novo que se tornou tão ubíquo que hoje é quase natural.