Depois de na primeira termos reflectido sobre nós e sobre a sociedade num contexto pandémico nunca antes vivido, desta vez mergulhamos na origem do Conhecimento e da chamada Era da Informação. Será que sabemos mesmo o que sabemos? O desenvolvimento dos meios de comunicação foi uma das maiores mudanças de paradigma desde a revolução industrial e, com isso, uma série de outras mudanças foram-se sucedendo no nosso mundo. É seguro dizer que nunca vivemos tão rodeados de informação, contudo, é visível a confusão em que estamos imersos. Reunimos várias reportagens, entrevistas, ensaios e crónicas que teorizam sobre a influência que este fluxo vertiginoso de novo conhecimento e informação teve na forma como olhamos o mundo, nós próprios e em sociedade.
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Dizem os especialistas que vivemos na era da informação. O desenvolvimento dos meios de comunicação foi uma das maiores mudanças de paradigma desde a revolução industrial e, com isso, sucederam-se uma série de outras mudanças no nosso mundo. É seguro dizer que nunca vivemos tão rodeados de informação, contudo, é visível a confusão em que estamos imersos.
Pouco tempo antes de morrer, o filósofo italiano Umberto Eco apelava aos jornalistas e a outros curadores de informação para que tivessem cuidado com a forma como filtram as informações veiculadas nas redes sociais, e alertava para a falsa equivalência entre “os idiotas” e os prémios Nobel criada pelo modelo destas. Eco aludia para um fenómeno relacionado com o efeito Dunning-Kruger e que pode servir para explicar como teorias estapafúrdias chegam à luz do dia, como o famoso QAnon. E, tacitamente, abria o debate sobre a crise de mediação que se instalara no universo digital de comunicação – com um argumento altamente conservador mas nem por isso desprezível.
Se é verdade e positivo que as redes nos ligaram mais do que qualquer outro aparato tecnológico na história da humanidade, outras vozes secundam o italiano apontando aos efeitos desta revolução nos índices de confiança quer em instituições, quer em profissionais de determinadas áreas. Numa revolução em que os líderes foram empresas privadas com modelos de negócio expansionistas, a sociedade parece ter-se fragmentado e alguns dos sistemas basilares da modernidade tornaram-se obsoletos, mas não devemos olhar à história com uma perspectiva anacrónica e, muito menos, moralista.
Em Ecce homo: Wie man wird, was man ist, Nietzsche, já a braços com a doença mental que viria a marcar o final do seu percurso, embarca num exercício épico de auto-reflexão em que passa em revista toda a sua vida e obra. Por entre reflexões sobre as obras que marcaram a sua carreira e comentários sobre autores com quem de alguma forma dialogou, o alemão fala-nos do quão determinante pode ser algo tão banal como uma dor de barriga. O livro, cujo título em português se traduz para “Como se chega a ser o que é”, foi a última tentativa do cáustico filósofo para conferir um sentido global à sua vida, que não passasse pela apologia gratuita ou o ódio preconceituoso. Nietzsche procurava com uma leitura exaustiva sobre si próprio compreender-se e dar-se a compreender. Mas e enquanto sociedade? Como chegámos a ser o que somos? Em boa parte, a resposta a essa pergunta esconde-se naquilo que sabemos, nas leis que se tornaram universais e nos paradigmas que assumiram a vigência. Mas será que sabemos mesmo o que sabemos? E como ficámos a sabê-lo? O conhecimento é a maior marca do humano na Terra; tudo o que sabemos é o processamento simbólico da realidade à luz do humano. O nosso enquadramento sobre o mais abstracto e esotérico dos fenómenos. Mas será que olhamos o suficiente ao aspecto dessas marcas? Essa é a proposta desta edição da revista do Shifter e foi por isso que, para capa, escolhemos o trabalho do artista português Pedro Matos, que coloca em plano de pormenor expressões triviais da humanidade contemporânea, abordando-as com uma minúcia quase científica, de quem tenta recriar e reconhecer a marca que ali se deixou.