#FreeBritney: o estranho caso de Britney Spears foi a tribunal mas ficou tudo igual

#FreeBritney: o estranho caso de Britney Spears foi a tribunal mas ficou tudo igual

20 Agosto, 2020 /

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A tutela de Britney Spears foi discutida esta quarta-feira em tribunal, mas vai manter-se tudo igual até fevereiro de 2021. A cantora "opõe-se veemente" a continuar a ter o pai como seu tutor oficial.

O assunto não é novo mas ganhou especial destaque nos últimos tempos, via redes sociais. A hashtag #FreeBritney ressurgiu, repescada de 2009, acompanhada de várias histórias e publicações que sugeriam que a princesa da pop vive presa sob o controlo do pai. A história remonta a 2008, altura em que Britney Spears sofreu uma crise de saúde mental altamente mediatizada e viu a sua carreira passar para as mãos dos seus “guardiões legais”. Os termos do acordo da tutela nunca foram divulgados publicamente, mas sabe-se que restringem a liberdade da cantora de 38 anos de várias formas. É sobre esses termos que surgem relatos que nos deixam sem perceber o que é verdade e o que é teoria da conspiração.

A tutela

Em 2008, após uma série de episódios que revelaram a instabilidade mental da cantora, o seu pai, Jamie Spears, pediu a tutela temporária da filha e, desde então, Britney Spears não controla muitas das decisões relacionadas com a sua situação financeira, profissional ou pessoal. Nos últimos doze anos, o seu pai e o seu advogado https://staging2.shifter.pt/wp-content/uploads/2021/02/e03c1f45-47ae-3e75-8ad9-75c08c1d37ee.jpgistraram não só os seus bens como controlaram a sua vida privada. Podiam limitar ou proibir as visitas que tinha, as entrevistas que dava e podiam, inclusivamente, comunicar diretamente com os médicos e interferir no tratamento da cantora.

De acordo com a Business Insider, em 2018, a estrela pop tinha um património líquido de 59 milhões de dólares, tendo gasto, só nesse ano, 1,1 milhões em taxas legais e outras despesas com a tutela (o pai receberia um “ordenado” mensal de cerca de 100 mil dólares como tutor da filha).

Em março de 2019, o advogado Andrew Wallet renunciou ao cargo de co-responsável pela tutela. Em setembro do ano passado, também o seu pai, James Spears, deixou o cargo de curador, alegando “razões pessoais de saúde”. Mas isso só aconteceu depois de ter internado novamente Britney Spears numa clínica psiquiátrica, alegadamente, segundo a imprensa americana, contra a vontade da cantora, provocando uma onda de críticas. Além disso, está também a ser investigado por alegada violência contra o neto, Sean Preston, de 13 anos.

Desde então, a tutela da cantora que pouco ou nada controla na sua própria vida tem sido uma espécie de concurso. Um juiz nomeou a gestora Jodi Montgomery como tutora temporária de Spears – Montgomery já era conselheira legal e financeira da artista desde 2018. Em julho deste ano, a mãe de Spears, Lynne Spears, também entrou com um pedido no tribunal para ser incluída na tutela, querendo ajudar a gerir as finanças da filha, especificamente um fundo criado para os filhos da cantora. Mas Lynne Spears nunca esteve envolvida na tutela de Britney e, apesar de se ter divorciado de James Spears em 2022, reconciliaram-se em 2010, o que torna difícil para se apurar quais as suas verdadeiras intenções.

A tutela expira dia 22 de agosto e agora, numa informação divulgada pela imprensa de todo o mundo nos últimos dias, novos documentos judiciais apresentados no Tribunal Superior de Los Angeles na terça-feira (dia 18), revelam que Britney quer que Jodi Montgomery continue como a sua tutora, passando de guardiã temporária a efectiva. Nos documentos consultados pela CNN, lê-se que “Britney opõe-se veementemente a ter James [Jamie Spears] como tutor da sua pessoa”. Ontem, dia 19 de agosto, na mais recente audiência para rever os contornos da sua tutela, o tribunal decidiu que o pai continua a ser o principal guardião legal da filha, mantendo-se tudo na mesma. Para que a vontade de Britney expressa nos documentos acima mencionados seja concretizada, “têm de ser apresentados certos documentos legais antes de serem levados a um juiz, e isso ainda não aconteceu”, avança o Entertainment Tonight.

Free Britney

Foi por volta de 2009 que surgiu a hashtah #FreeBritney e a campanha que a acompanha, que acusa James Spears de querer controlar a vida da filha a todos os níveis. A hashtag ressurgiu no ano passado e tornou-se um movimento nas redes sociais que faz campanha para ajudar a cantora a retomar o controlo da sua vida. Alguns dos fãs de Spears acreditam que a artista foi forçada a assinar o acordo da tutela e afirmam que nas suas redes sociais a cantora pede ajuda de forma dissimulada. Este grupo alega que a artista vive presa na própria casa e que não tem liberdade, pessoal ou económica.

Esta quarta-feira, centenas de pessoas manifestaram-se em frente ao tribunal onde decorreu a última audiência relativa ao caso, em Los Angeles. A manifestação contou até com a presença de um ex-marido de Britney Spears, Jason Alexander, que disse aos jornalistas que “esta é uma situação infeliz na sua vida há muito tempo. Isto afetou-me a mim e a ela. Estou quieto há 10 anos e sinto que é um bom momento para avançar agora  e fazer barulho”.

Associada ao movimento #FreeBritney, existe uma petição que conta já com mais de cento e vinte mil assinaturas. “O pai dela não permite que ela conduza, todas as suas chamadas e mensagens são monitorizadas, ela não tem permissão para votar, sair com ninguém ou gastar o seu dinheiro sem autorização. E se quebrar alguma ‘regra’, ele ameaça retirar-lhe os filhos”, afirma a petição da change.org, que pede a liberdade de Britney.

A cantora nunca comentou publicamente a campanha #FreeBritney, mas recentemente disse aos fãs, através do seu Instagram, que está tudo bem, pedindo-lhes que não acreditem em “tudo o que lêem e ouvem”. É, aliás, na sua conta de Instagram que surgem grande parte das mensagens de suspeita e preocupação dos fãs, em posts um tanto ou quanto ambíguos, que variam entre as frases inspiradoras, danças em casa e selfies ao natural. Em praticamente todas as publicações da cantora há comentários de utilizadores desconfiados de que algo se passa. Sugerem que há alguém a controlar a sua conta, que todos os vídeos e fotos são gravados com antecedência e publicados de forma aleatória, assumindo que existe todo um planeamento para garantir a regularidade das suas publicações. Há quem diga que a cantora usa determinados códigos de cores nas roupas para pedir ajuda, há várias pessoas a perguntar se está tudo bem, a pedir que Britney tente comunicar caso precise mas não possa – como se cada uma das suas publicações fosse uma espécie de código críptico para qualquer coisa. Tudo tem estado sob análise e escrutínio absoluto, das suas publicações recentes, a acções passadas, às músicas e momentos altos da sua carreira, os fãs têm tentado encontrar mensagens subliminares e explicação para tudo. São também várias as celebridades que se juntaram ao movimento, como Miley Cyrus, Missy Elliot, Cher, Ruby Rose ou Courtney Love.

A família e amigos da cantora dividem-se entre os que ocasionalmente gostam de publicações #FreeBritney, e os que consideram que todo o movimento é um exagero sem fundamento. Os ex-namorados dizem que Britney não é tão mentalmente instável como a família refere, o irmão diz que a tutela foi “uma grande coisa que aconteceu à família”, e a mãe de Britney, que entretanto quis ser envolvida no processo, já foi “vista” em várias páginas de apoio à cantora que defendem a sua tal libertação. Sobre tudo isto, o The Post cita ainda o veterano produtor musical Ed Steinberg, dizendo que “o que quer que esteja ou não errado com ela, o movimento #FreeBritney está a torná-la relevante num momento em que muitas estrelas pop [do início dos anos 2000] estão a envelhecer e a desaparecer dos olhos do público. (…) Os seus empresários, a sua editora e a própria Britney não são estúpidos. Eles podem não ter iniciado o movimento, mas estão a beneficiar dele.”

O pai da cantora deu recentemente uma entrevista onde disse que “está farto” que o movimento #FreeBritney o pinte como um vilão. Ao The Post, disse que o movimento que o posiciona como “um pai cruel e oportunista (…) é um Piada.”

“Todos esses teóricos da conspiração não sabem de nada. O mundo não tem ideia”, disse. “Cabe ao tribunal da Califórnia decidir o que é melhor para minha filha. Não é da conta de ninguém.” Jamie Spears negou ainda “furiosamente”, de acordo com o The Post os rumores de que ele ou qualquer outra pessoa tenha roubado dinheiro a Britney. “Eu adoro a minha filha. Adoro todos os meus filhos. Mas isto é um assunto nosso, é privado.”

Autor:
20 Agosto, 2020

A Rita Pinto é Editora-Chefe do Shifter. Estudou Jornalismo, Comunicação, Televisão e Cinema e está no Shifter desde o primeiro dia - passou pela SIC, pela Austrália, mas nunca se foi embora de verdade. Ajuda a pôr os pontos nos is e escreve sobre o mundo, sobretudo cultura e política.

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