O que são 10 anos numa vida de 4,6 mil milhões? Qualquer coisa como um milionésimo de segundo. No caso do Sol, e sabendo que cada década da sua vida é uma década de mudanças turbulentas, esta década não deixa de ser um período temporal digno de análise e admiração, apesar da sua aparente insignificância.
Num vídeo recente lançado pelo Solar Dynamics Observatory (SDO) da NASA, podemos ver 10 anos de história do Sol editados num time lapse impressionante que os reduz para 1 hora, sem reduzir minimamente o fascínio da ciência por detrás da maior estrela do sistema solar.
O vídeo, intitulado “Uma Década de Sol”, é o resultado directo do trabalho do SDO, que observa atentamente a órbita do Sol no espaço em redor da Terra há 10 anos. Durante esse tempo, os astrónomos acumularam mais de 20 milhões de gigabytes de dados, e compilaram 425 milhões de imagens em alta definição, captadas uma vez a cada 0,75 segundos entre 2 de junho de 2010 e 1 de junho deste ano. Cada segundo do vídeo representa um dia na vida do Sol.
De acordo com a NASA, “esta informação permitiu inúmeras novas descobertas sobre o funcionamento da nossa estrela mais próxima e sobre a forma como como ela influencia o sistema solar.” Ao longo do vídeo é possível perceber que, durante essa década, o Sol passa por uma mudança algo radical, borbulhando lentamente com enormes ondulações magnéticas (conhecidas como manchas solares), que atingiram o seu pico por volta de 2014, antes de desaparecerem novamente. Essa quietude do Sol não é uma surpresa para os cientistas, mostrando o aumento e queda da atividade que ocorre como parte do ciclo solar; a cada 11 anos, mais ou menos, os pólos magnéticos do Sol mudam de repente; o norte torna-se o sul, a actividade magnética solar começa a diminuir e a superfície do Sol começa a parecer um mar tranquilo de fogo amarelo. Esse período de relativa calma chama-se mínimo solar – e estamos a vivê-lo neste momento.
A meio caminho entre essa mudança radical numa década e a seguinte ocorre outra mudança violenta, quando a actividade magnética aumenta para um ponto alto, agora conhecido como máximo solar, e a superfície do Sol ondula com manchas solares gigantes, com explosões de plasma conhecidas como erupções solares. Cada máximo tem o seu pico com outra inversão do pólo magnético, sinalizando assim um novo ciclo solar.
Estas mudanças são difíceis de detectar na Terra a olho nu (embora os máximos solares resultem em auroras mais visíveis em lugares em latitudes mais baixas por todo o mundo), mas o satélite SDO da NASA observa-as claramente ao monitorizar a estrela com luz ultravioleta. Esses comprimentos de onda ultra-energéticos cortam o brilho do Sol e revelam as abundantes mudanças magnéticas na atmosfera externa do Sol.
Apesar de o, em português, Observatório de Dinâmica Solar (SDO) ter mantido o Sol debaixo de um olhar atento e quase constante ao longo destes 10 anos, a NASA explica que houve alguns momentos de excepção. “Os frames a negro no vídeo correspondem a momentos em que a Terra ou a Lua eclipsaram o SDO enquanto passavam entre o satélite e o Sol. Um blackout mais longo em 2016 foi causado por um problema temporário com o instrumento AIA [usado para captar as imagens] que foi resolvido com sucesso após uma semana. As imagens em que o Sol está descentralizado foram observadas quando o SDO estava a calibrar os seus instrumentos.”
A agência espacial norte-americana promete que o SDO e outras missões espaciais continuarão a observar o nosso Sol de perto nos próximos anos, para fornecer mais informações sobre o nosso lugar no espaço, lembrando-nos também indirectamente da nossa pequenez no universo.
A música no vídeo chama-se “Solar Observer” e foi composta pelo músico Lars Leonhard.