Ouvir Devendra Banhart é como namorar a sua música e vê-la despertar em nós a beleza das coisas, até das coisas mais tristes. É engraçado como esta sua ambiguidade é tão apaziguadora. Consegue falar-nos de assuntos difíceis ou dizer-nos coisas desagradáveis com o tom mais doce que a sua dor encontra.
A sua voz é delicada, murmurante. Ele apaixonante, nós apaixonados. E com a sua eterna reciprocidade, amar a música e ao som dela. Amar tudo: os dias, as árvores e as pessoas.
O seu universo é um lugar bonito onde se é sempre pelo menos um bocadinho feliz. E vale a pena a visita. Das florestas do freak folk, Devendra desbrava caminho por outras sonoridades. Ora mais latinas (apesar de nascido nos Estados Unidos, viveu durante a sua infância em Caracas, Venezuela, com a sua mãe), ora com um cheirinho a country, ou mais recentemente até com um pezinho na bossa nova, não estivesse ele envolvido no seio musical de Rodrigo Amarante e Caetano Veloso.
E mais do que se desdobrar nessa multiplicidade de influências e instrumentos, Devendra não se coíbe de fazer uso da sua criatividade e liberdade, redesenhando sem pudor o seu próprio mundo e concedendo, assim, às suas composições o cunho inconfundível que tentamos aqui descrever.
Podemos recomendar uma viagem por alguns dos primeiros álbuns como Rejoicing Hands e Nino Rojo (editados em 2004 por Michael Gira, dos Swans, que o havia “descoberto” dois anos antes), sem nunca deixar de mencionar o magnetizante What Will Be (2009), ou os mais recentes Mala (2013) e Ape In Pink Marble (2016).
Mas é o seu mais recente Ma (2019) – a sua pequena ode ao amor de mãe – que o traz de volta a Portugal, sete anos depois, desta vez com duas datas em Lisboa, no Capitólio a 16 e 17 de Fevereiro, e a 15 no Hard Club, no Porto.
Texto de Joana Canela