Para os dias antecedentes à Assembleia Geral das Nações Unidas, António Guterres, o Secretário-Geral deste que é o maior bloco institucional do mundo, convocou a Cimeira da Acção Climática. Tal como o nome escolhido para a cimeira sugere, nestes dias Guterres esperava apelos à acção e tomadas de posição assertivas de vários países, firmando a primeira resposta global contra a crise climática.
Nas ruas, dias antes, milhões de pessoas haviam mostrado a sua posição ocupando as artérias das principais cidades do mundo com protestos pelo clima, contra as políticas lesivas do meio ambiente e exigindo acções reais no encontro que se seguiria.
Contudo, aquilo que se passou em Nova Iorque não foi tão profícuo como se podia esperar e o que de melhor de lá resultou foram, novamente, os discursos com destaque para o de Greta Thunberg. A jovem activista sueca fez mais um dos seus discursos emotivos e extraordinariamente lúcidos questionando os líderes mundiais sobre a sua inércia, que considerou atrevimento mas as respostas práticas não foram muitas. O momento de consciencialização promovido por Greta tornou-se mais uma vez viral na internet e, pelo seu mediatismo, ficará certamente para a história.
Numa cimeira com “acção” no título, para além dos vídeos populares, importa questionar que mais se tornará um marco na luta contra a crise climática? Em boa verdade, no rescaldo desta cimeira, muito pouco parece ter sido realmente conquistado. A maior destas conquistas foi, por ventura, a criação de fundos de financiamento às alterações urgentes mas quanto a compromissos, planos ou ideias… o debate ficou escasso.
Os três grandes
Se o assunto é a crise climática três nomes têm que ser referidos antes de todos os outros. China, Estados Unidos da América e Índia são os maiores emissores de gases com efeito de estufa e os países de onde se esperam, e exigem, acções de maior envergadura. Essa era a expectativa antes do início do encontro, com o Primeiro-Ministro indiano, Narendra Modi, a figurar, inclusive, entre a lista de oradores nomeados, mas rapidamente se percebeu que não seria correspondida.
Modi anunciou que até 2022 a Índia reforçará a percentagem de energia gerada através de fontes renováveis, mas não se comprometeu com novos prazos ou objectivos sobre a dependência daquele que é um dos países mais populosos do mundo do carvão. Já da China a mensagem foi de confiança sobre aquilo que já está a ser feito – apesar de globalmente se concordar que é pouco – e um puxão de orelhas a Donald Trump por ter abandonado o Acordo de Paris. Dos EUA, o país-anfitrião, não se ouviu absolutamente nada algo que mostra a postura que tem sido adoptada pela https://staging2.shifter.pt/wp-content/uploads/2021/02/e03c1f45-47ae-3e75-8ad9-75c08c1d37ee.jpgistração norte-americana na abordagem aos problemas globais.
Em resumo: a China e a Índia continuam focadas e, apesar de lentamente, a responder ao celebrado no Acordo de Paris em 2015. Tanto um como outro país, deram conta de estar a cumprir os limites impostos nacionalmente determinados (NDC) com o gigante vermelho a afirmar que está a fazê-lo a um ritmo superior ao exigido. Já os Estados Unidos da América, depois de anunciarem a saída do Acordo de Paris, repetem a postura inerte e não deixam muita esperança de que algo esteja a ser feito. Trump não solicitou tempo para discurso nesta cimeira e nem era esperado na grande sala; contudo, ao aparecer terá sido surpreendido por Michael Bloomberg, antigo Presidente da Câmara de Nova Iorque, que o terá aconselhado a ouvir a conversa porque lhe dará jeito quando “resolver formular uma política climática”.
A acção da grande parte dos países que ainda assim apresentaram esforços foi quase sempre a mesma. À falta de novas ideias e medidas inovadoras para abordar o problema, os países que passaram pela cimeira anunciaram promessas incrementais dentro do enquadramento daquilo que já haveriam prometido anteriormente. Esse foi, de resto, um dos primeiros anúncios de Guterres que, para começar com boas notícias, revelou que mais perto de 70 países, como Noruega, Argentina, Etiópia e Turquia, estão dispostos a estabelecer objectivos mais rigorosos já para 2020 do que os incialmente estabelecidos no Acordo de Paris.
No mesmo sentido, são cerca de 65 as nações que prometem atingir o patamar das emissões zero em 2050. Entre estes, há que destacar o esforço notável de países mais pequenos como as Ilhas Marshal, que representadas pela sua Presidente, corroboraram a meta de 2050 apesar da alta dependência daquele pequeno país em combustíveis fósseis importados.
Dinheiro para mudar
Outra das boas notícias que se podem destacar da Cimeira de Ação Climática tem inevitavelmente a ver com a disponibilidade de capital para a mudança. Embora os mais idealistas pudessem crer numa mudança de consciência impulsionadora de um mundo diferente, a verdade é que a transição tem um preço e que muitos países, como a própria Índia e China, exigem ajuda financeira para suavizar as perdas que a transição exige.
Neste ponto em particular, vários países anunciaram que disponibilizarão mais dinheiro para fundos de investimento global verdes, como o projecto das Nações Unidas Green Climate Fund; entre eles, destaque para Coreia do Sul, Alemanha, Reino Unido, Islândia, Suécia, Dinamarca, Noruega, França, Reino Unido e Canadá, que, no total acumulado, prometeram uma reforço dos fundos na ordem dos 7 mil milhões de dólares.
Do lado do capital privado, também chegaram mensagens de alerta. Um fundo de gestão de pensões e seguros com um portfólio avaliado em 2,3 mil milhões de dólares, onde consta por exemplo a alemã Allianz, pediu publicamente para que se parasse de investir este dinheiro em indústrias relacionadas com os combustíveis fósseis sob pena de se tar a contribuir para o agravamento da crise. “Mitigar as alterações climáticas é o desafio das nossas vídeos, Políticos, negócios e sociedades por todo o mundo precisam de actuar rapidamente para reduzir as emissões climáticas”, disse Oliver Baete, director executivo da Allianz, em comunicado.
Também Bill Gates, um já mais do que conhecido filantropo, anunciou um programa totalizando 790 milhões de dólares com fundos da sua fundação, do Banco Mundial e de vários Governos, ao dispôr de pequenos agricultores para acelerar a sua transição e adaptação às novas realidades climáticas.
Outros pontos
Em resumo, podemos dizer que a Cimeira da Acção Climática não foi propriamente surpreendente, embora nesta fase qualquer acção possa ser considerada louvável. A inércia dos líderes mundiais continua a constrastar com a urgência expressa quer pela comunidade cientifica, quer pela sociedade civil. Para além do discurso inflamado, cativante e brutalmente honesto de Greta Thunberg, a jovem sueca e mais 15 activistas jovens juntaram-se para acusar formalmente uma série de países de estarem a violar os direitos das crianças ao poluir o ambiente – curiosamente os EUA ficaram de fora desta queixa por nunca terem ratificado o tratado que consagra os direitos dos mais novos.
Na ressaca da Cimeira tem sido muitas as discussões sobretudo em torno do que se foi tornando viral como o discurso de Greta; contudo, é importante ressalvar a ideia de que para além das opiniões sobre determinada retórica, presença ou personalidade, importa perceber o que se faz na realidade para que se trave o colapso que se vai antecipando. Quer concordemos ou não com a presença da jovem, apreciemos ou não o seu estilo, facto é que a sua voz tem falado num tom que faz
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