Segundo um comunicado publicado no jornal cubano Cuba Debate e assinado pela União de Jornalistas de Cuba (Unión de Periodistas de Cuba), desde a tarde de quarta-feira, a rede social Twitter bloqueou ou suspendeu dezenas de contas de media e jornalistas daquele país. O momento, segundo relatam, terá coincidido com a conferência de imprensa promovida pelo Presidente do Conselho de Estado e de Ministros, Miguel Díaz-Canel Bermúdez, e por outros Ministros do seu Governo, em que estes se propunham a fazer um ponto da situação sobre a conjuntura actual do país, mencionando aquilo que consideravam ser um apertar do cerco por parte da https://staging2.shifter.pt/wp-content/uploads/2021/02/e03c1f45-47ae-3e75-8ad9-75c08c1d37ee.jpgistração norte-americana liderada por Donald Trump.
Recorde-se que Donald Trump re-estabeleceu algumas das sanções económicas, que no passado haviam sido levantadas por Barack Obama; no passado mês de Junho, foram definitivamente suspensas as viagens de grupos escolares, a paragem de cruzeiros e a visita de iates privados provenientes dos Estados Unidos da América a Cuba.
Os representantes políticos cubanos, encabeçados por Díaz-Canel, mencionaram estas novas medidas do Governo norte-americano que visam tentar impedir que chegue combustível ao pequeno país do Caribe, referindo que o “cerco se está a apertar” com a intenção de “destruir a Revolução Bolivariana”. Em causa, estão não só as sanções impostas a Cuba mas também à Venezuela, o seu principal fornecedor de combustível.
Face a este cenário, os cidadãos foram alertados para a necessidade de racionar energia e de tomar medidas de emergência para que a distribuição de bens e a prestação de serviços não seja comprometida nos próximos dias. O presidente garantiu que até domingo não deverão haver blackouts energéticos mas depois desse dia o cenário é incerto.
Terá sido durante este anúncio, acompanhado em directo e através das redes sociais por muitos cubanos, que as contas começaram a ser suspensas na rede social Twitter, com as denúncias a surgirem em redes sociais paralelas como o Facebook ou o Whatsapp. Na lista de visados pela suspensão do Twitter encontram-se contas de vários tipos.
Twitter suspends Cuban media ahead of a special appearance by President Díaz-Canel on the program, Mesa Redonda (6:30pm), as he reports to the country on measures to be taken amid the energy situation. Broadcast live on Cubavisión, Canal Caribe, Radio Rebelde & Radio Habana Cuba. https://t.co/6X25cOgIGi
— Camila (@PrensaCamila) September 11, 2019
Entre os órgãos de comunicação social bloqueados encontra-se o Cubadebate com 300 mil seguidores, o @Granma_Digital com cerca de 167 mil, entre outras como o @MesaRedondaCuba, @RadioRebelde, @DominioCuba, @CubaPeriodistas, @CanalCaribe. Para além destas instituições foram também suspensas contas de jornalistas e directores de publicações como Leticia Martínez (@leticiadecuba ) e Angélica Paredes (@aparedesrebelde), da equipa de imprensa do presidente cubano; a da vice-presidente da União de Jornalistas em Cuba, Rosa Miriam Elizalde (@elizalderosa), e a do jornalista do Granma, Enrique Moreno Gimeranez (@GimeranezEm), entre outras.
Também contas institucionais pertencentes ao Governo de Cuba foram visadas pela razia — até agora sem explicação oficial por parte do Twitter. Neste particular foram suspensas a conta do Ministério das Comunicações (@MINCOMCuba) e de funcionários do Governo, como Yaira Roig (@yairajr), Directora de Comunicação e Imagem do Ministério das Relações Externas, e Mariela Castro Espín (@CastroEspinM), Directora do Centro Nacional de Educação Social.
Segundo o mesmo comunicado feito pelos jornalistas cubanos, esta não é a primeira vez que naquele país sentem dificuldade em utilizar a rede social do pássaro azul, a grande novidade está na escala dos bloqueios nunca antes vista. Como nota, os jornalistas cubanos citam ainda o documento oficial produzido pelo Governo dos Estados Unidos onde são descritas uma série de ideias e que já em edições anteriores tinham merecido o repudio dos órgãos de soberania locais. Nesse relatório pode perceber-se, entre outras coisas, a preocupação norte-americana na predominância chinesa no fornecimento de tecnologia de ponta e de conexão à internet, uma área onde a guerra económica tem estado especialmente acesa.
https://www.state.gov/cuba-internet-task-force-final-report/
As reações online — onde tudo se passou — dividem-se. Por um lado há quem faça a comparação alegando que bloquear os media cubanos seria como bloquear CNN, FOX ou NPR, por outro há quem diga que o Governo cubano só está a provar do seu próprio veneno — referindo as restrições no acesso à internet impostas pelo estado que só este ano alargou o acesso à internet a privados e negócios. Certo é que se o Twitter sempre foi conhecido por ser uma das redes sociais mais permissivas e demonstrou alguma preocupação com a transparência nas suas decisões — evitando ao máximo suspender as contas de Alex Jones e do Infowars, por exemplo — este caso é no mínimo estranho e merece o nosso acompanhamento.
As we continue to increase transparency around our rules and enforcement actions, we wanted to be open about this action given the broad interest in this case. We do not typically comment on enforcement actions we take against individual accounts, for their privacy.
— Twitter Safety (@TwitterSafety) September 6, 2018
Actualização 13/09/19 10:07:
Fonte oficial do Twitter conctactada pela imprensa internacional alega que as contas visadas não cumprir as políticas de utilização da plataforma sem especificar quais. Segundo a BBC, fonte oficial do governo cubano já terá pedido explicações directamente a Jack Dorsey, que recentemente visitou o país.